ÊNFASE PRECIPITADA NA POLÍTICA EXTERNA FEZ O PRESIDENTE LULA SE ENVOLVER EM POLÊMICAS DESNECESSÁRIAS, COMO O ENCONTRO COM O CONTROVERSO PRESIDENTE DA VENEZUELA, NICOLÁS MADURO.
Infelizmente, virou um ato "antissocial" criticar o governo Lula. Ter senso crítico sempre traz risco de cancelamento social, a pessoa que critica muito as coisas e quer corrigir os erros é sempre malvista pelos outros, que preferem a complacência e a resignação com os retrocessos do que com o questionamento mais incisivo.
Por isso estamos num cenário tão ruim ou, em certos aspectos, pior do que o bolsonarismo. Não que o bolsonarismo valesse a pena, é óbvio, mas na época se estimulava o senso crítico enquanto que, hoje, temos que estar de acordo com tudo para lacrarmos na Internet e nos círculos sociais presenciais.
O governo Lula não só começou errado como foi conquistado de maneira errada. Imagine, em 1989, 1994 ou 1998, Lula faltando a um debate! Lula sem programa de governo, puxando o tapete dos concorrentes vendendo uma "democracia de um candidato só"! Lulistas agredindo Ciro Gomes e se dizendo "agredidos" por ele, como aqueles valentões da escola ou das mídias sociais!
E isso quando não se fala de Lula se aliando com a direita moderada, para facilitar seu caminho eleitoral, para depois querer fazer um governo "mais à esquerda", sonegando dívidas eleitorais com seus aliados mais conservadores e, porém, encontrando dificuldades para implantar uma pauta progressista, que já não é tão progressista quanto nos dois mandatos anteriores, que já estavam abaixo de um Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e João Goulart, mas davam conta do recado.
Lula, para seus seguidores, é um "deus" que pode até errar que e sempre visto como "certo". "Estratégia" é um eufemismo dado para quando Lula decidir por ações precipitadas ou equivocadas, mas que supostamente poderão trazer resultados positivos. Mesmo que esses resultados não apareçam, finge-se que eles apareceram e Lula ganha a fama de "estrategista" de graça, em artigos apaixonados de jornalistas renomados que, infelizmente, largaram o dever de aula do bom jornalismo em troca da recreação textual da bajulação ao presidente do Brasil.
Chega a ser constrangedor ver jornalistas que tem até excelente gabarito brincarem de fazer história, como se pudessem fazer uma avaliação histórica sobre fatos recentes, em esperar o tempo necessário para verificar se o que Lula fez trará efeitos históricos profundos ou não.
O próprio Lula governa como se estivesse participando de uma gincana. Na campanha eleitoral, fez seu jogo de cena chorando copiosamente implorando para os brasileiros votarem nele para "restaurar a democracia" e "reconstruir o Brasil". Implorou com tamanho desespero, como se isso fosse urgente. A imprensa amiga foi logo falar que era uma "eleição histórica", uma "votação plebiscitária", uma "escolha entre a civilização (Lula) e a barbárie (Bolsonaro)".
Tudo relacionado a Lula virou "histórico": eleição "histórica", vitória "histórica", posse "histórica", momento "histórico" (seja qualquer um que fosse "o momento"), discurso em qualquer evento é "histórico" e tudo o mais.
Recentemente, Lula se envolveu em situação surreal. O Brasil nem é um país desenvolvido - e dificilmente será, admitamos - e foi lá se reunir com os países do G7 como se fosse um deles. Aproveitando uma piada baseada na decisão das Carrocerias Marcopolo de entrar na Justiça para banir os ônibus da série G7 que forem montados com peças da série G8, não teria cabimento Lula transformar o G7 em G8 com a artificial conversão do Brasil em potência, com a "casa" em ruínas e entulhos socioculturais acumulados desde abril de 1964.
Enquanto Lula tenta um protagonismo internacional à força, intervindo no conflito entre Rússia e Ucrânia, e fazendo um discurso no encontro do G7 como se estivesse no churrasco de sua família em Garanhuns. Que Lula se posicione contra o neoliberalismo, vá lá, mas vai ele manifestar tais posições na cara de quem discorda disso, repetindo o que ele fez nas rádios coronelistas do Nordeste brasileiro, quando havia defendido a regulação de mídia, isso não pode.
Lula, visto por seus seguidores como "o maior protagonista do encontro do G7", dentro daquela Síndrome do Herói Astronauta (ou seja, quando alguém vai ao exterior, passa por lá despercebido ou sem destaque, mas volta ao país de origem dando a impressão de que realizou uma grande façanha), cometeu o erro grotesco de provocar polêmicas desnecessárias, na sua teimosia em querer colocar a política externa acima do combate à fome e ao desemprego, descumprindo promessa de campanha.
A sua proximidade com a China, na agenda econômica, a quase adesão à Rússia, no caso do conflito com a Ucrânia e, agora, a recepção do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, que eu, pessoalmente, não considero um ditador, como certas pessoas pensam.
Mesmo assim, independente de eu concordar ou não com Lula ou com outro agente da circunstância da polêmica, o presidente brasileiro não precisava disso e, se ele, em vez de se precipitar com uma política externa que se pode esperar por uns dez meses, pouco fez pela tal "reconstrução do Brasil". Lula chegou a criar um clima de "saia justa" com o governo dos EUA, o que é muito perigoso. Joe Biden, como vice de Barack Obama, contribuiu para a queda da presidenta Dilma Rousseff, em 2016.
Os benefícios que vieram foram apenas pálidos, paliativos. A Economia até se movimenta, mas pouco se viu de realmente significativo. Os lulistas, sendo a "classe média de Zurique" (era "classe média de Oslo", mas como um economista dos EUA falou que o Brasil seria "a Suíça latinoamericana", vamos mudar a nomenclatura), acham que tudo está bem. Não são eles que precisam fazer malabarismos orçamentais para manter contas e comida em dia com apenas salário-mínimo e Bolsa Família.
Lula parece tratar a História como sua vassala. Lula não está sendo histórico fabricando fatos políticos e pretensas façanhas calculadas para ficar bem na fita da posteridade documental. Fazer História, com H maiúsculo, não é isso, mas desempenhar um papel espontâneo de grandes transformações para o meio social em que se vive, deixando fluir o julgamento histórico, que não será feito através de uns artigos de poucos dias depois, mas esperando que os efeitos da posteridade confirmem ou desmintam tal feito.
O que Lula faz, buscando protagonismo histórico principalmente na política externa, tem a relevância de uma competição do Big Brother Brasil, e uma serventia de uma gincana escolar. Sem a bússola obrigatória de um programa de governo, Lula agora tenta contornar dificuldades do seu improvisado governo, como pensar em mudar os critérios do Minha Casa, Minha Vida, o que mostra o quanto o seu atual mandato, do contrário que o presidente deseja, está sendo o pior e mais fraco dos três.
História do Brasil não é riélite chou. E Lula pensa muito mais no seu carisma, e para compensar sua aparência de um homem terrivelmente envelhecido, tem a teimosia infantil de fazer o Destino atender todos os seus desejos, mesmo os mais equivocados. Desta forma, Lula dificilmente será visto como um grande líder na posteridade histórica, e com toda certeza o atual presidente será incapaz de superar a grandeza de uma figura como Getúlio Vargas, cujo papel histórico de governante foi e continuará sendo insuperável.
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