IDOSO EUFÓRICO ATRIBUI AO GOVERNO LULA A QUEDA DE PREÇOS DOS ALIMENTOS. SÓ NÃO INFORMOU QUE SUPERMERCADO E EM QUE REGIÃO.
A esperança de que a mídia progressista iria recuperar o verdadeiro jornalismo, com a contratação de profissionais renomados que se somavam a outros de igual competência, foi por água abaixo quando Lula foi eleito para o atual mandato, por conta de uma campanha já cheia de erros estratégicos, que custaram a vitória apertada de 60 milhões de votos.
Mesmo com profissionais de competência reconhecida, tudo indica que eles deixaram de fazer o dever de aula e passaram para a recreação. As matérias relacionadas ao governo Lula são de um explícito showrnalismo, incluindo exageros como definir o presidente como um "galã". O sentimentalismo de uma legião de lulistas é tanto que eles se tornam surdos e cegos para textos críticos em relação ao atual governo.
Aqui fazemos críticas construtivas, no âmbito das ideias, muitas vezes descrevendo o que Lula poderia ter feito no lugar dos erros que cometeu. E aqui o que criticamos é a cobertura jornalística, por parte da mídia progressista ou mesmo da chamada "imprensa democrática", que anda ventilando informações vagas, descumprindo as mais comezinhas normas do bom jornalismo.
Há dois exemplos.
Um é o caso de um freguês de supermercado, idoso, que com muita euforia grita que os preços dos alimentos reduziram durante o governo Lula. "Tá caindo tudo", diz o freguês, muito agitado, com seu celular no modo selfie, declarando que o leite, "que custava 9,40, caiu para 4,50", "o arroz chegou a trinta e está caindo" e "o azeite está a seis reais". "Lula é o projeto de Deus que deu certo. O povo vai comer três vezes por dia", conclui o idoso, manifestando beatitude religiosa, algo que está realmente caindo no mundo desenvolvido.
Não há informação sobre de que cidade é o vídeo, publicado pelo canal sensacionalista Choquei, no Twitter. O sujeito fala com sotaque nordestino, mas não se sabe qual o lugar nem qual o supermercado. Ninguém apurou os detalhes, apenas vazou que os preços, supostamente, baixaram.
Em primeiro lugar, eu não vi a queda assim. Eu compro alimentos constantemente nos supermercados, aqui em São Paulo, como fazia em Niterói, anos atrás. Acompanho a evolução dos preços e, infelizmente, a queda não é tanta assim. Aqui em Sampa o leite já caiu para R$ 3,79 no ocaso do governo Bolsonaro, mas voltou a crescer e está difícil encontrar leite com menos de R$ 4 nos mercados. Azeite de oliva, a seis reais, eu não vi, no mínimo está perto de quinze reais, a maioria custa em torno de R$ 27.
Outro exemplo é quanto ao preço das diárias num hotel em Londres onde o presidente Lula e sua Janja se hospedaram na ocasião da coroação do Rei Charles III. Páginas bolsonaristas divulgaram um valor de R$ 95 mil, desmentido pelas fontes lulistas e corrigido pela Band (que divulgou, primeiro, o dado bolsonarista e, depois, a correção), que informou que o valor máximo foi de R$ 37 mil.
Só que isso gerou um grande mal entendido. R$ 37 mil é o valor de uma diária, por pessoa. Mas Lula e Janja ficaram dois dias. Duas pessoas em dois dias quadruplicaria o valor, se calcularmos esse valor como o do quarto em que o presidente e a primeira-dama se hospedaram. Segundo essa lógica, seria impossível Lula e Janja terem gasto apenas R$ 37 mil, como ventilam, entusiasmados, os lulistas. O valor, segundo esse cálculo, teria sido de R$ 148 mil, maior até do que a informação da fonte bolsonarista.
Falta uma apuração verdadeira, uma busca por exatidão de fatos. Nos primeiros meses de governo Lula, os adeptos do presidente acharam que ele já começou a reconstruir o Brasil, quando o que se viu, com base nos fatos, foi apenas a desconstrução do bolsonarismo e as viagens do presidente. Tanto a reconstrução não começou que o IBGE teve que admitir que o desemprego aumentou nos três primeiros meses do atual mandato.
É desagradável para muitos afirmar isso, mas é necessário colocarmos os fatos acima de opiniões e de expectativas. Paciência, a vida não é feita de ilusões. Se ficarmos dependendo do pensamento desejoso, temos que suportar decepções posteriores e enfrentar a vergonha das ilusões frustradas.
O jornalismo progressista se comprometeu em se tornar um diferencial para a mídia corporativa e para a abominável fábrica de fake news da imprensa bolsonarista. Atuar como um "diário oficial" de Lula não é uma boa ideia para uma imprensa que se empenhou em recuperar o jornalismo de verdade, mas sem trazer informações verdadeiras nem tornar os fatos mais precisos. Se a imprensa alternativa se tornar mais do mesmo, toda a promessa de informação de qualidade teria sido em vão.
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