Quem tiver com um mínimo de objetividade sabe que o atual governo Lula tende a ser o pior de todos os três mandatos. O primeiro foi razoável e o segundo, bom e até promissor, embora longe de grandes expectativas. Mas o atual já pode ser definido como o pior, pelas atitudes que Lula anda cometendo desde sua campanha presidencial.
Enquanto Lula se pavoneia para as autoridades internacionais, com a desnecessária iniciativa de querer fazer seu nome no exterior, obtendo visibilidade na imprensa estrangeira, o Brasil obtém várias derrotas. O Congresso Nacional aprovou, ontem, o Projeto de Lei do Marco Temporal, medida que prejudica as tribos indígenas, uma vez que só reconhece o direito dos índios de terem suas reservas em terrenos beneficiados após a promulgação da Constituição de 1988. Medida humilhante para os descendentes dos que foram os moradores mais antigos do Brasil.
Também houve a aprovação, pelo Supremo Tribunal Federal, da permissão para que as empresas demitam empregados sem justa causa, ou seja, sem comunicar o motivo da demissão. Embora se tente explicar a aprovação da medida com pretextos como o enxugamento financeiro de uma empresa, a medida é claramente de interesse prioritário do empresariado e pode permitir coisas como, no Rio de Janeiro, um funcionário perder o emprego porque não curte futebol.
Junte-se a isso o agravamento do desemprego nos primeiros três meses do governo Lula. Isso me faz lembrar um desenho animado de minha infância, Carangos e Motocas (Willie and the Chooper Bunch), de 1974 (vi o seriado em 1975, quando tinha quatro anos), de Hanna-Barbera Productions, no qual havia, na gangue de vilões em forma de motos do Chapa (Chooper), um velocípede chamado Confuso (Scrambles), que sempre dizia "Eu te disse? Eu te disse?" toda vez que a gangue se mete em encrenca.
Lula foi priorizar a política externa e não se empenhou em coordenar e acompanhar os trabalhos de reconstrução do Brasil, e teve que amargar esse dado amargo no começo de seu governo, achando que era possível esperar o Primeiro de Maio para implantar medidas em favor do povo brasileiro.
Lula pensa em conquistar o protagonismo histórico, de maneira calculada, tendenciosa e oportunista. Daí ele ter, praticamente, deixado de governar. É como se ele fabricasse um protagonismo de laboratório, um protagonismo de proveta, com o propósito calculado de criar artificialmente pretensas façanhas pessoais, como se estivesse competindo numa gincana ou num riélite de TV.
A conta desse fanfarronismo de Lula - ultimamente sorridente porque tudo lhe ocorre a seu favor - é cara, desde a campanha eleitoral. Atos como faltar a debates na televisão fizeram Lula não conseguir vitória plena no primeiro turno e, no segundo, conseguiu uma vitória bastante apertada.
Como presidente da República, Lula tem que amargar um Brasil em colapso e, além disso, tem que enfrentar polêmicas na política internacional bastante arriscadas. Se não fossem as manobras do soft power e a ênfase no confronto através da diplomacia, Lula já teria sido deposto do poder.
Ver Lula sendo criticado por blindar o presidente venezuelano Nicolás Maduro - do qual não vejo ser um ditador, muito pelo contrário, ele costuma consultar o povo antes de tomar uma decisão - é um risco para o petista, que prefere falar o que quer como se o mundo fosse a sua casa. Lula acha que pode tudo, que pode fazer o que quiser e dizer o que sua vontade quer. Isso é mal.
Além disso, desconfio que Lula já esteja com o câncer na garganta atingindo o cérebro. Tanto que Lula não consegue reconhecer as fronteiras dos tempos. Governa como se vivesse em 2003, mas acreditando dar continuidade ao segundo mandato, como se não tivesse havido Temer nem Bolsonaro. Isso pode ser efeito de um dano cerebral atingido pelo câncer, doença possível diante do envelhecimento físico acelerado do presidente, que nos padrões de velhice atuais, aparenta estar com 95 anos, tendo só 78.
Quando se trata de enumerar supostas realizações do seu atual governo, Lula mistura passado, presente e futuro. Mistura desde realizações dos mandatos anteriores até promessas que ainda serão cumpridas. Ou seja, na sua lista de "realizações" do seu atual governo, se vê mais os feitos de mandatos passados e promessas de campanha do que as verdadeiras realizações do governo atual.
Se você, leitor (a), só considerar o que Lula realmente fez no atual governo, verá que ele fez muito pouco, e quase sempre irrelevante. Pouca coisa é digna de aplausos, neste governo que tende a ser o mais fraco, pois Lula, que não é de ouvir conselhos nem críticas, vai continuar nessa enrolação política até o fim do mandato, se o presidente sobreviver até lá.
Portanto, se a ideia do Brasil se tornando potência de Primeiro Mundo tem sérias dificuldades até para ser tema de samba-enredo de Escola de Samba para os próximos carnavais, quanto mais virar realidade. Sabemos que é agradável apostar em fantasias, mas não é difícil admitir a dura realidade vendo as coisas em volta e saindo da bolha solipsista das zonas de conforto pessoais.
Por isso, já é bom demais admitir que o Brasil é um país emergente. Isso numa situação precária e com os retrocessos acumulados desde 1964, que fazem do nosso país um emergente que não consegue deslanchar. E, certamente, não deslanchará por muito tempo. Isso não é pessimismo, é realismo, algo que falta muito nos lulistas hoje em dia.
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