O escândalo da "máfia das apostas" é mais um incidente envolvendo o futebol, depois de vários escândalos envolvendo acusação de crimes sexuais contra jogadores como Robinho e Daniel Alves e o treinador Cuca e até mesmo jabaculê esportivo de FM, que faz o famoso esquema de suborno para tocar música parecer brincadeira de criança de dois anos de idade.
O episódio foi revelado depois que o Ministério Publico de Goiás deu início à operação Penalidade Máxima, inicialmente acatando denúncias de manipulação dos resultados dos campeonatos de futebol do Estado, em divisões inferiores do Brasileirão ou torneios estaduais. O time inicialmente investigado foi o goiano Vila Nova. Os inquéritos, no entanto, revelaram um escândalo maior, envolvendo as séries A e B do Campeonato Brasileiro, além de grupos de elite dos campeonatos estaduais.
Comandado por Bruno Lopez, da BC Sport Management, empresa que agencia a carreira de dez atletas, é acusado de ser o líder do esquema de manipulação dos jogos, juntamente com 15 jogadores e nove apostadores. A "máfia das apostas" surgiu num contexto em que as apostas digitais de partidas de futebol - que popularizaram o termo inglês bet, "apostar" - viraram uma mania nacional, com cartazes e propagandas digitais espalhadas em vários cantos do Brasil.
O escândalo consiste em induzir jogadores de futebol envolvidos a forjarem faltas nas partidas de futebol, com o objetivo de obter um cartão vermelho ou amarelo. Há também outras manobras, como forçar um pênalti ou jogar a bola para escanteio.
Há muitos escândalos envolvendo o futebol, que de uma simples diversão virou uma paixão tóxica e um mercado movido pela ganância e corrupção. O futebol, no conjunto da obra - embora haja exceções, na mídia e no próprio esporte, que primam pela dignidade e pela honestidade - , tornou-se um esquema mafioso tanto que, em 1999, quando meus pais me levaram para falar com um jornalista esportivo, este me desaconselhou a trabalhar na área, porque o mercado era perigoso para novatos sem "pistolão".
Há tanto jabaculê na mídia esportiva que a poluição sonora é o apelo de emissoras de rádio para obterem audiência na marra. Isso reflete tanto na barulheira de ouvintes e telespectadores, teleguiados por anos de hipnotismo futebolista, a partir do eixo Rio-São Paulo, quanto pela sintonia de rádios em altíssimo volume.
E reflete também em Salvador, quando bares, postos de gasolinas e até papelarias e livrarias cometem essa poluição sonora, irritando os fregueses, ou quando pessoas pagas pelas FMs ficam paradas em lugares vazios, sem motivo aparente, só para despejar a transmissão de futebol, com o volume nas alturas, só para chamar a atenção de quarteirões residenciais nas redondezas. Na capital baiana, infelizmente, existe a lei de querer "conquistar" o Ibope na base do grito.
No Rio de Janeiro, futebol é "moeda corrente" das relações sociais e, tal como no resto do país, é o tipo de "assunto" para quem não tem assunto. No Grande Rio, porém, isso é levado às últimas consequências e não gostar de futebol faz a pessoa ter alto risco de ser a primeira a ser demitida no trabalho. E isso quando o país inteiro trata o futebol como "dever cívico", a ponto de camisetas da CBF serem usadas em manifestações políticas como supostos símbolos de patriotismo, enquanto o Hino Nacional Brasileiro se rebaixa a uma marcha-rancho do futebol brasileiro.
O fanatismo também influi nas brigas de torcedores, que a hipocrisia da imprensa esportiva diz reprovar, mas que contribui, mesmo sem querer, para essa violência que causa muitas mortes, uma vez que cria todo um clima de histeria, fanatismo, obsessão por vitórias e a emotividade tóxica que hoje contamina os brasileiros, a ponto de, num país em que quase não se protesta pedindo mais empregos e melhores salários, torcedores protestarem na sede de um time que sofre derrotas consecutivas em partidas de um campeonato.
O endeusamento de jogadores de futebol também causa problemas, pois os jogadores de origem pobre não se preparam direito para a ascensão social e viram magnatas com ganância maior a de muita gente rica, acumulando luxo sem necessidade, fazendo festas caras (embora com a trilha sonora tocando o pior da música brega-popularesca) e abusando do sucesso com a mulherada, o que depois acaba revelando o lado machista sombrio de muitos artilheiros.
Infelizmente, desde 1987 o futebol brasileiro sucumbiu a um comercialismo sem fim. Se havia politicagem desde que João Havelange comandava a antiga CBD (hoje CBF), a partir de 1970 ela se tornou intensa e, a partir de 1987, irrecuperável.
Isso leva o futebol a uma decadência irreversível, pois a paixão tóxica desse esporte apelidado de "religião da emoção" não vai abrir mão dos sentimentos obsessivos que fazem diferença negativa diante da ilusão de muitos acreditarem que a diversão salutar do "futebol arte" dos "meninos pobres das várzeas" irá voltar um dia. Mas não vai voltar. O futebol virou uma paixão tóxica incurável.
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