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RECONSTRUIR O BRASIL E A NECESSIDADE DE DESTRUIR O VELHO


Cinco meses de reconstrução do Brasil e o processo, que vai além de simples decisões governamentais, vai muito além do maniqueísmo fácil do raivismo e do não-raivismo. E a destruição do que é velho ainda desafia muitos, porque não se trata puramente de demolir o entulho bolsonarista.

Ultimamente, Lula tenta atuar de forma independente da frente ampla neoliberal, embora de maneira mais amena e fraca do que no primeiro mandato. E o Brasil por ele governado vê os atuais vilões sendo alvo de contestações, inquéritos, denúncias, repúdios etc. Big Techs, grande mídia, seitas neopentecostais, e até mesmo as apresentadoras Sônia Abrão e Ana Hickmann foram alvo de críticas severas por promover sensacionalismo de um sequestro que terminou em tragédia.

Sim, o Brasil tem uma caminhada acidentada e o sonho de alcançar o Primeiro Mundo, embora muito ambicioso e alimentado por esperanças de que "desta vez, agora vai", está longe, na prática, de se tornar realidade. Seremos um Brasil apenas arrumado, com algum êxito na economia, mas muitos problemas existem e eles vêm de longa data.

O grande erro das esquerdas foi acolher referenciais culturais direitistas da Era Médici e da Era Geisel e seus derivados dos anos 1980, 1990 e 2000. Eram o que chamo de "brinquedos culturais", que as esquerdas em sua infancia imaginava serem referências "neutras" difundidas pela imprensa e TV, mas só depois de muita dificuldade começam a ser admitidos como valores conservadores. Mesmo assim, os "brinquedos" continuam guardados nos armários dos quartos esquerdistas.

A bregalização e o obscurantismo religioso (como no Espiritismo brasileiro, repaginação do Catolicismo medieval) que vão além do perímetro bolsonarista e se manifestam sem a retórica da raiva nem a estética do ódio, mesmo assim não deixam de ser conservadores. E até que ponto eles terão seu espaço na democracia que não lhes fizesse se confundirem com o moderno e o progressista, mas tão conservador quanto o bolsonarismo?

A democracia, da forma como ocorre hoje no Brasil, está se tornando um processo complexo e que, por enquanto, se ocupa na demolição do edifício bolsonarista. Será que coisas tão conservadoras quanto o bolsonarismo, mas que não investem na cosmética do rancor, serão consideradas "progressistas"?

A construção de um Brasil arcaico e atrasado, com bregalização e a obsesssão tóxica pelo trinômio "religião, cerveja e futebol", a ilusão da vida noturna como lugar de paquera, o assistencialismo filantrópico que mais blinda supostos caridosos do que traz ajuda real para o próximo, tudo isso remete a um imaginário ultraconservador do golpe de 1964, mas que "sobreviveu" por conta de uma fachada de "tolerância", "liberdade", "paz" e um discurso dócil e sem raiva.

Mas são coisas que travam o progresso humano. O fanatismo de bares e boates como lugares para a vida amorosa se tornam criadouros de feminicídios futuros. O assistencialismo religioso que blinda o charlatão religioso, além de oportunista e tendencioso, nunca trouxe progressos reais nem expressivos para os pobres. A bregalização cultural imbeciliza o povo pobre, e por aí vai.

Tudo isso é realmente complexo, pois essas coisas representam o "velho e ultrapassado" que todavia insiste em se manter, agora não mais sob o disfarce do "novo" e do "progressista", mas sob o pretexto da "estabilidade" e manifesto em mídias mais "neutras": UOL, IG, Terra etc.

Reconstruir o Brasil, portanto, é um caminho muito longo e a chance de nosso país se tornar primeiro-mundista será difícil, pois as coisas não se situam num mero desenvolvimento econômico. Muita gente tem pressa em ver nosso país como "potência mundial" ainda este ano ou no fim de 2026, mas os problemas são muitos e muito graves para que o Brasil atinja esta façanha, tendo que levar muitos séculos para ter um progresso mais significativo e consolidado. Temos que nos contentar com a casa arrumada, mas o momento não é de festa.

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