É DE PARTIR O CORAÇÃO VER QUE A SIMPÁTICA PRAÇA DO CENTENÁRIO, NA CASA VERDE, EM SÃO PAULO, FOI USADA COMO CENÁRIO DE NOVELA OBSCURANTISTA DOS ANOS 1970.
No último domingo, meu irmão me informou que a simpática Praça do Centenário, situada no bairro da Casa Verde, na Zona Norte de São Paulo, foi utilizada como cenário para a constrangedora novela A Viagem, na sua primeira versão de 1975, feita pela TV Tupi de São Paulo.
É de doer na alma. Uma praça simpática, que pude conhecer e frequentar nos últimos anos, rebaixada a um "campo", fingindo ser uma "colônia espiritual" que nenhum estudo sério sequer considera plausível, até porque os estudos sobre paranormalidade, vida após a morte, magnetismo e outros mistérios foram simplesmente paralisados. Os charlatães ditos "médiuns", mesmo os ditos "renomados", barraram as pesquisas com seus dogmas especulativos movidos por fantasias religiosas e materialistas.
As pessoas ainda se recusam a aceitar a realidade de que o Espiritismo brasileiro é uma religião medieval movida por fraudes literárias e caridade fajuta, que mais beneficia o suposto benfeitor do que os mais necessitados (que sempre levam pouca coisa). Iludidas com o discurso não-raivista, a sociedade brasileira, movida pela elite do atraso enrustida que é a maior interessada do dito "kardecismo", poucos conseguem aceitar que a religião é ultraconservadora e até pior do que as histriônicas seitas evangélicas neopentecostais.
E uma novela como A Viagem, de Ivani Ribeiro, foi uma das que impulsionaram o desserviço de ajudar a expandir a religião "espírita", favorecida, ao lado dos neopentecostais, pela ditadura militar, que teria financiado essas religiões para enfraquecer o Catolicismo, cuja corrente progressista, a da Teologia da Libertação, atuava como uma poderosa e eficiente força de oposição.
Não precisamos dar detalhes a essa novela, de cujo remake de 1994 eu cheguei a ver vários capítulos, pois eu seguia na época essa religião. A original de 1975 já informava os telespectadores que era uma adaptação livre de um livro pretensamente psicográfico, Nosso Lar, que muitos incautos pensam ser um relato fidedigno de uma realidade "no outro lado da vida", mas na verdade é uma ficção científica fajuta, com toques de literatura de fantasia, que se inspirou, na verdade, de um plágio de obra estrangeira.
No começo do século XX, o reverendo protestante inglês George Vale Owen havia publicado o livro A Vida Além do Véu (The Life Beyond the Veil), traduzida no Brasil e publicada pela editora da tal instituição "espírita" nacional. O obra também se autoproclamava "mediúnica" e foi prefaciada por Arthur Conan Doyle, numa atitude equivocada, pois o famoso autor britânico não acionou seu investigativo personagem Sherlock Holmes para checar como realmente é o mundo espiritual.
Soa risível, portanto, achar que uma obra que plagiou um livro estrangeiro, já uma ficção não-assumida, relate um suposto cenário realista do mundo espiritual, montado pelo Espiritismo brasileiro, o Catolicismo medieval de botox.
Ao menos a versão de 1994 substituiu a humilhada praça paulistana por um grande bosque de Jacarepaguá, no Projac da Rede Globo, perto de um "centro espírita" sinistro e famoso na Taquara, onde um "médium" foi morto em circunstâncias até hoje não esclarecidas. Em 1969, o mesmo "médium" teria feito, com seus colegas do "centro", fraudes de materialização se passando por pretensos gurus, usando trajes pseudo-árabes normalmente utilizados em fantasias de Carnaval.
A primeira A Viagem, que consagrou um grande lobby de atores e equipes técnicas da TV Tupi, que sempre viram no Espiritismo brasileiro "coisa de novela" e se identificam com um "médium" farsante, que usava peruca e viveu as últimas décadas em Uberaba, e que foi pioneiro na literatura fake. Pois esse farsante, definido como "lápis de Deus" ou "médium dos descamisados", era também um reacionário ferrenho de tal forma que faz Olavo de Carvalho parecer um comunista festivo.
Com o "médium da peruca" promovido a "símbolo de caridade e amor ao próximo", com base nas falácias que, no mesmo Reino Unido do reverendo George Owen, Malcolm Muggeridge inventou para glorificar a megera Madre Teresa de Calcutá, santificada por uma intoxicação alimentar de um engenheiro paulista, o farsante se transformou numa pretensa unanimidade, a ponto de um religioso reacionário e retrógrado ter atraído a adesão de ateus, esquerdistas, roqueiros, ex-atrizes pornôs e homossexuais, apesar dessa multidão representar tudo o que o tal "médium" reprovava.
Através da trajetória desonesta, o Espiritismo brasileiro e seu principal astro, o "médium" que é sempre blindado por uma caridade que nunca praticou - era igualzinha ao Assistencialismo hoje "praticado" por Luciano Huck, uma "caridade" sempre forjada pelos programas de TV e que só serve para as elites e os supermercados descartarem bens obsoletos e mercadorias encalhadas - , desenvolveram energias macabras que fazem com que inocentes, entre outras coisas, percam entes queridos, sejam impedidos de obter bons empregos e tenham que conviver longamente com algozes violentos.
É a desonestidade do Espiritismo brasileiro, mascarada pelo discurso melífluo, que atrai energias negativas que causam problemas diversos e, na maioria das vezes, trágicos nas pessoas. Desviando dos ensinamentos originais de Allan Kardec, o Espiritismo de chiqueiro que se consolidou a partir de 1932, com suas psicografakes e sua caridade de fachada, acolheu ideias ultraconservadoras nunca devidamente assumidas, pois é de praxe que o Espiritismo brasileiro se defina como uma coisa (geralmente tudo de bom, avançado e inovador) e, na prática, seja o oposto daquilo que diz ser.
E isso faz do Brasil um país com energias muito pesadas, das quais somente os 30% de beneficiados - a tal "classe média de Oslo" que vai dos "pobres remediados" que fazem "festas na laje" aos famosos que possuem contas em paraísos fiscais - são relativamente protegidos por "boas energias", desde que seguissem um receituário de vida de alguma forma conservador ou inócuo. Se valendo de um moralismo punitivista e meritocrático, o Espiritismo brasileiro, no entanto, quase sempre atua como uma força mística de mau agouro, uma seita de pés-frios, extremamente azarenta.
No caso de A Viagem, o sucesso da primeira edição da novela fez atrair energias maléficas que fizeram, cinco anos depois, a TV Tupi fechar suas portas, com humilhante demissão de vários funcionários que, nos últimos meses da histórica rede pioneira da televisão brasileira, realizaram protestos que repercutiram em todo o Brasil, na época.
Por ironia, a versão da Rede Globo de A Viagem também realizou um grande estrago, atingindo justamente o ator Guilherme Fontes, um excelente ator mas que teve que desempenhar, de forma caricatural e patética, o papel do espírito obsessor Alexandre. E isso envolvendo, por ironia, o fundador da TV Tupi, Assis Chateaubriand, que havia "retornado à pátria espiritual" sete anos antes da "viajora" novela.
Isso porque Guilherme queria ser um cineasta até talentoso, com um grande e atraente projeto, o filme sobre Chateaubriand, Chatô - O Rei do Brasil, baseado no livro homônimo de Fernando Morais. Só que as "boas energias" do Espiritismo de chiqueiro (que faz qualquer esgoto parecer um límpido córrego) fizeram com que Guilherme se atrapalhasse com as finanças, e foi logo acusado de "corrupto", e o trabalho levou cerca de duas décadas para ser concluído e, quando foi lançado, foi sem cerimônia.
Para piorar as coisas, o Espiritismo brasileiro despeja mau agouro até em muitos de seus seguidores, que todavia nem desconfiam do azar que contraíram, alguns mergulhando ainda mais nesse pesadelo astral, como um toxicômano com dependência química e psicológica do narcótico que consome e lhe arrasa a vida.
Uma religião que sempre foi medieval, mas radicalizou seu medievalismo de 1932 até hoje, e que foi uma das seitas patrocinadas pela ditadura militar para combater a Teologia da Libertação, o chamado "espiritismo kardecista" (apesar das severas traições doutrinárias ao intelectualismo original de Kardec) é um problema que merece investigação, pois não basta as pessoas se calarem, é preciso repudiar e investigar, pois nos bastidores da "doutrina de luz e amor", existe até suspeitas de assassinato (o caso Amauri Pena) e de exploração de trabalho de menores (o "médium" pintor de Pituaçu, em Salvador).
Ficar calado por achar que isso "nada tem a ver" e ficar se iludindo com a cosmética de docilidade e afeto dos "médiuns espíritas", com mel nos lábios e açúcar nas canetas, mas com venenos nas almas, só vai trazer problemas. Quem tem a missão de investigar não pode passar pano e se deixar enganar por uma caridade de fachada, feita só para blindar charlatães. É necessário investigar a podridão do Espiritismo brasileiro.
Pode deixar que ninguém sofrerá assombração se investigar os podres dessa doutrina. Não vai ter fantasminha rondando os lugares assustando quem decidir pela investigação. Assombração virá é quando aqueles que deveriam investigar continuarem glorificando essa religião medieval e seus líderes farsantes.
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