Uma grande notícia relacionada ao desmonte do golpismo de 2016 ocorreu ontem. O Tribunal Superior Eleitoral decidiu, por unanimidade, cassar o mandato do deputado federal Deltan Dallagnol, que antes do mandato parlamentar, era procurador da força-tarefa da Operação Lava Jato, em Curitiba.
A Justiça entendeu que Deltan Dallagnol não poderia se desligar do Poder Judiciário enquanto estava sendo investigado por irregularidades divulgadas publicamente pela Vaza Jato, que denunciou planos e práticas ilícitos a partir de comunicações entre os membros da força-tarefa da OLJ no aplicativo Telegram.
Dallagnol desligou-se do Judiciário visando concorrer ao Legislativo, através do partido Podemos e ainda representando a onda reacionária de pretenso moralismo herdeira do golpismo de 2015-2016. De acordo com a Lei da Ficha Limpa (Lei Complementar 135, de 04 de junho de 2010), a manobra de Deltan em se candidatar a um cargo político para fugir de condenação é ilegal.
Deltan, que exercia uma promiscuidade jurídica com o então juiz e hoje senador Sérgio Moro (União-PR), jogando com muita parcialidade as atividades lavajatistas, conhecidas por impulsionar o golpe político contra Dilma Rousseff, faltou com a palavra. Assim como Sérgio Moro, Dallagnol jurava que suas atuações não tinham interesse político e, durante alguns anos, ambos eram considerados "heróis" de uma multidão de manifestantes conservadores que protestavam vestindo camisetas da CBF.
A expectativa é que Sérgio Moro (o pretenso "herói", o "justiceiro" de toga nascido em Maringá), que também se candidatou a um cargo político pelo mesmo motivo que Dallagnol - e, seguindo Moro, a esposa do ex-juiz, Rosângela Moro, também se candidatou à política, também pelo partido União Brasil paranaense - , seja também cassado do cargo.
O que temos que destacar é que a cassação não pode parar em Dallagnol, mas atingir Moro e outros envolvidos no golpismo de 2016. E devemos também destacar que o golpismo de 2016 foi possível por um fator pouco divulgado: a campanha do "combate ao preconceito" que intelectuais pró-brega fizeram para desviar o povo pobre das mobilizações populares sob a desculpa de que o consumismo da diversão popularesca era um "ativismo político" sob o pretexto da "rebelião identitária".
Foi um jornalista destacado da Folha de São Paulo, Pedro Alexandre Sanches, conterrâneo de Moro, que sabotou a agenda cultural das esquerdas, esvaziou os movimentos sociais e quase enganou todas as esquerdas com seu "ativismo transbrasileiro" que fazia o "popular demais" (brega-popularesco) desviar o povo da conscientização política. Junto com MC Leonardo, Sanches fez derrubar a icônica revista Caros Amigos, e ambos abriram as portas para os protestos reacionários que deram no golpe de 2016.
O golpe de 2016 foi tão prejudicial que desnorteou até Lula, depois que ele foi preso. Solto, Lula preferiu trapacear para voltar ao Planalto, chegando a faltar debates eleitorais que poderiam lhe somar mais votos. Sem um programa de governo, Lula preferiu apostar no seu carisma e requentar projetos antigos, sem perceber que a situação do nosso país é diferente de 2003, 2007 ou 2010.
A situação do Brasil se complicou muito, com os retrocessos sendo realizados no período golpista de Michel Temer e Jair Bolsonaro. É um bom sinal a cassação de Dallagnol, e espera-se que ele seja condenado à prisão, assim como outros parceiros de golpe, incluindo Moro e Bolsonaro (não só o Jair, mas a família).
Não creio que um Brasil precarizado cultural e socialmente irá se tornar potência de Primeiro Mundo, um sonho que, com certeza, se tornará miragem por conta das profundas dificuldades neste sentido. Mas se desmontarmos as estruturas do golpe político de 2016, isso será alguma coisa.
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