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A PAIXÃO CEGA QUE TIRA O SOSSEGO DOS DOMINGOS


Domingo deveria ser um dia de descanso, como nas noites de quarta-feira ou as tardes de sábado, entre outros horários. Mas são nesses momentos em que as pessoas perdem o sossego e se preocupam com a vitória de um time, supervalorizando um esporte, o futebol, como se fosse, em vez de um mero entretenimento, uma batalha campal.

A mídia esportiva brasileira é responsável, muitas vezes, por essa histeria tóxica, que faz com que muitos brasileiros calculem sua felicidade em função do desempenho de um time de futebol. Ver que as pessoas dependem de onze homens para serem felizes é coisa muito preocupante.

Vemos um fanatismo tóxico em torno do futebol, além de uma gourmetização do esporte da qual o Globo Esporte é seu maior veículo de propaganda, influenciando decisivamente até o internauta médio que jura que "só via Netflix desde os anos 80 (sic)" mas pula de alegria quando o SBT lança um canal gratuito de streaming.

Tudo vira uma esfera de sonho e magia, mas também uma obsessão da qual um time precisa ganhar uma partida, para que assim as pessoas possam ter um bem estar. Perder um domingo de descanso com o combo do fanatismo religioso, futebolístico e etílico mostra um grande desperdício num horário em que as pessoas precisam recarregar suas energias e não o contrário.

O nosso país está culturalmente deteriorado e as pessoas parecem voar como se fossem os amigos do Peter Pan, carregadas pelo "vento" produzido pelos ares condicionados dos grandes escritórios do entretenimento, com seu empresariado convertido na nova geração de super-ricos que Lula não vai tirar um único tostão.

Mas super-rico que é "legal" não é reconhecido como super-rico. Os craques de futebol, com suas fortunas exorbitantes, os dirigentes esportivos, cada vez mais inundando seus cofres com grana sem limites, a mídia esportiva, as indústrias de cerveja e outros patrocinadores envolvidos, todo mundo enchendo suas fortunas de maneira estratosférica, sob o consentimento dos brasileiros que, como zumbis, se sentem hipnotizados pela tela da televisão que mostra um gramado verde com uns homens correndo em volta de um objeto redondo.

Depois vão falar mal dos políticos que ganham abusivamente. Aliás, hoje nem isso ocorre, pois, se for o caso de Lula comprar votos para o Congresso Nacional aprovar suas medidas, a "boa" sociedade até aplaude, com cada parlamentar recompensado com milhões de reais no caso de votar a favor do presidente brasileiro.

Paciência. As redes sociais sofrem a hegemonia das narrativas plantadas por uma elite de privilegiados. Quem vê a realidade de maneira crítica, até porque trabalha duro nesta vida realista, não costuma muito usar redes sociais, a não ser os bons samaritanos que escrevem no Reddit. Mas seria necessário que essa visão crítica se projete com mais frequência para que nosso país não seja escravo das fantasias de uns poucos. Os poucos que querem que o Brasil dependa de onze atletas para ser feliz.

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