Que bom se achar a "classe mais legal do mundo". Maravilhoso, para essas pessoas, alguém ter muito dinheiro, ter carro do ano e um depósito volumoso no banco, mas mesmo assim posar de pobre só porque conversa sobre futebol com os amigos e caminha de chinelos nos centros históricos das capitais, sendo turista do próprio meio em que vive.
É muito legal não sair de casa e, ainda assim, julgar a realidade não da forma como ela realmente é, mas da forma como essa classe privilegiada gostaria que fosse. Se sentir ofendido quando o outro diz que relatórios não refletem necessariamente a realidade vivida. Ou, por outro lado, acreditar que duas mil pessoas podem representar com fidelidade o pensamento de duzentos milhões.
Ter muito dinheiro, poder comprar os carros mais atraentes, frequentar lugares mais descolados, ter sorte para passar em concursos públicos ou ganhar em loterias sem ter necessidade real para isso e, ainda assim, gastar dinheiro com supérfluos ou acumular dinheiro só por vaidade, enquanto posa de "pobrezinho" falando "as mulé, os cara e os grandalhão" nas rodas de amigos, tudo isso reflete o estado de espírito do Brasil deteriorado em que vivemos.
Infelizmente, as redes sociais são monopolizadas por essa classe média cool que ouve músicas medíocres como "Evidências" e "Um Dia de Domingo", acham que Chaves é "humor de vanguarda" e que um Lula vendido para a Faria Lima que finge combater - aquele papo tipo "Marlene X Emilinha" - estaria "mantendo" a essência do "esquerdista democrático".
Essa classe média mal consegue ver os pobres da vida real. Quando muito, porteiros de prédios, empregadas domésticas e feirantes. Mal sai de casa para ir aos lugares da moda, e fecha os olhos para a miséria em volta. Essa é a elite que temos e que jura ser predestinada a dominar o mundo com "sua alegria e sua lição de paz e fraternidade".
É um pessoal que, confuso, acha baratos aluguel de R$ 2 mil e almoço a R$ 30, mas considera uma "fartura" um salário-mínimo de R$ 1.412 (desde que não seja dado para essa própria classe, é claro). Mesmo assim, é capaz de escrever muita besteira com seus textões, tudo isso para que suas convicções e seus pontos de vista sejam sempre levados em conta e nunca contestados.
É insólito, mas também assustador, que essa classe média cool, a elite do bom atraso, a burguesia de chinelos invisível a olho nu, oculte sua origem macabra de portugueses saqueadores de tesouros naturais, de bandeirantes sanguinários, de senhores de engenho perversos, dos latifundiários ressentidos e fraudulentos da República Velha e das famílias amedrontadas que pediram a queda de João Goulart e o decreto do AI-5, para ser, agora, uma elite "democrática" e até "saudavelmente esquerdista".
E aí vemos a decepção do governo Lula, que prefere a promoção pessoal e vendendo como um pretenso "salvador do planeta", enquanto deixa o Brasil naufragar numa crise que se vê escancarada nas ruas, mas não pode ser relatada nos blogues.
Lula só está a serviço do espetáculo e da "sociedade do espetáculo" à brasileira, que é a elite do bom atraso, que agora entendeu a "gramática pop" do mainstream estadunidense e, agora, quer ser "pop" como se isso fosse algo futurista, por mais que tudo isso se limite a imitar o que já se fez há 20, 25 anos, na terra do Tio Sam.
O Brasil quer ser futurista sendo, na verdade, retrógrado. Assusta o complexo de superioridade dessa burguesia cool, que adora ver Lula viajando pelo mundo em vez de reconstruir de verdade nosso país. Pois tudo o que se viu agora foi festa em vez de reconstrução, e um monte de palavreado e desenhos representando uma "realidade" que ninguém vê, tudo para garantir o sono tranquilo de uns privilegiados que se acham os "donos de tudo". Da verdade ao dinheiro público.
Daí o apoio incondicional da burguesia de chinelos ao Lula que se vendeu para a Faria Lima, mas finge combater os super-ricos, impondo taxas que nem fazem coceira nos bolsos dos magnatas.
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