Uma matéria do Deutsche Welle Brasil mostra um hábito de pessoas constrangerem quem não opta por beber álcool, o que mostra o quanto o lazer hedonista, no nosso país, é bastante autoritário. O prazer como uma imposição e não como um direito de escolha.
Esta matéria fala sobre o sober shaming, a "vergonha sóbria", que é o constrangimento social imposto contra quem opta por tomar bebidas sem álcool, mesmo quando essa pessoa faz essa escolha visando preservar a saúde.
O caso mencionado é de uma jovem, Sílvia Fernandes, de 24 anos, que nem aboliu o consumo de bebidas alcoólicas, reduzindo apenas em 80 % o consumo, mas mesmo assim ela é constantemente constrangida com muitas perguntas:
"Eu sempre fui ligada em esporte, mas também sempre bebi. Nunca tive o físico que eu gostaria, mas tudo bem, era uma decisão minha continuar bebendo. Chegou num momento, no ano passado, no qual resolvi investir na academia. Reduzi em mais de 80% o consumo de álcool e estou supersatisfeita com o resultado
"É sempre um interrogatório quando vou em eventos, festas ou churrascos. Parece que as pessoas querem te forçar a beber. Eu sei me divertir sem álcool, mas as pessoas, em geral, não entendem isso".
Num trabalho de telemarketing, uma colega minha, casada e com uma filha, disse que também diminuiu o consumo de álcool e falou que está bebendo menos cerveja. Um outro colega meu, falando com ela, perguntou, com um certo tom patrulheiro: "Pelo menos você toma um uísque ou coisa parecida, não é?".
Mas esse caso é fichinha diante do constrangimento que passei quando colegas me chamaram para se reunir num bar diante da extinta Universidade Gama Filho, no campus da Piedade (região do Engenho de Dentro), no Rio de Janeiro, em 1989.
Eu tinha 18 anos na época e cursava, na antiga instituição, Comunicação Social com habilitação em Jornalismo. Cursei durante um ano, e, quando me mudei para Salvador, pude me transferir para a Universidade Federal da Bahia por ter um pai militar.
Eu tentei dizer não, mas os vários colegas tentaram argumentar e me persuadir. Aí eu decidi aceitar tomar um gole de cerveja, e o pessoal gostou. Mas eu logo percebi o sabor horrível da cerveja, algo que depois confirmei quando tentei experimentar cerveja sem álcool.
E vivi na pele o que é o sober shaming, no Rio de Janeiro de 1989, já antecipando os surtos autoritários, chantagistas e vingativos das décadas posteriores. E muito diferente de Salvador, quando, cursando Radialismo e Publicidade na Fundação Visconde de Cayrú em 1994, me reuni com alguns colegas e quase todos foram tomar cerveja. Eu quis refrigerante e um deles pagou um para mim, e não houve problema algum.
Nunca me interessei em tomar bebida alcoólica. No máximo, aceitaria um Biotônico Fontoura, energético que tinha álcool em sua composição. Ou então um bombom chamado Jazz, muito delicioso, mas também com sua dose de álcool.
E acho uma grande perda de tempo as marcas de sorvetes investirem no sabor Abacaxi com Vinho, quando há uma necessidade das concorrentes lançarem um sabor idêntico ao Tramontaro e Martha Rocha da marca catarinense Eskimó. Estes dois sabores são o Cornetto e o Magnum da época, só para citar sabores que ninguém queria fazer igual mas agora todos fazem.
Hoje, com 53 anos, tomo refrigerante socialmente e prefiro tomar sucos, café, chás e bebidas leitosas. E não entendo como uma bebida tão ruim quanto a cerveja, que tem gosto de Dipirona espumante, é considerada a "bebida mais gostosa do mundo"?
Que isso ocorre em qualquer parte do mundo, vá lá. Mas no país dos "animais consumistas" que é o Brasil, as pessoas são coisas e, portanto, se rebaixam a meras garrafas humanas a armazenar a cerveja que acaricia seus egos, embora causem profundos danos à saúde.
Afinal, a cerveja prejudica a lucidez mental, causa depressão, engorda, agrava diabetes, aumenta as chances de infarto e causa câncer. Mas não fala isso para o negacionista factual, que ele não gosta. Um dia ele disse que acha que fumar cigarro faz bem à saúde. Depois a gente chama o negacionista factual de olavista (adepto de Olavo de Carvalho) e ele não gosta.
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