O QUE GLEISI HOFFMANN ESTÁ CRITICANDO É O QUE O PRÓPRIO LULA ESTÁ FAZENDO.
Em entrevista dada ontem ao jornal O Globo, a presidenta do Partido dos Trabalhadores (PT), Gleisi Hoffmann, que está em vias de deixar o cargo, afirmou que uma mudança de orientação política da sigla, defendida por alguns setores, em direção ao "centro" (eufemismo para direita moderada), representaria a "morte" do partido.
"Já tentaram matar o PT e não conseguiram. Não podem pedir agora que o PT se suicide, rompendo com a base social que nos trouxe até aqui", disse Gleisi, lembrando das pressões do "mercado" para a retirada de projetos sociais do governo.
Tudo bem. Mas o problema é que o próprio presidente Lula, sob o pretexto de promover a "democracia", se aliou a parte da direita moderada que manifestou abertamente o descontentamento com os abusos de Jair Bolsonaro. A desculpa da "frente ampla" já representou a guinada do PT para o "centro".
A própria Gleisi, na mesma entrevista, admite que o PT, na campanha presidencial de 2026, vai ampliar sua base de apoio, incluindo partidos que não apoiaram Lula no pleito de 2022. Isso já diz muito no que se refere às alianças que fazem Lula renunciar a muitas pautas importantes.
Lula também pretende fazer uma reforma ministerial, e ela priorizará partidos como PSD, PP e União Brasil, partidos que já sustentaram o governo Bolsonaro. A ideia é, principalmente, atrair o apoio do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e do deputado federal Arthur Lira (PP-AL), que haviam sido presidentes das respectivas casas partidárias (sendo Rodrigo presidente do Congresso Nacional e Arthur segundo suplente do Executivo federal).
O próprio Lula está agindo para manter somente o mínimo denominador comum do seu projeto progressista. Seria ingênuo acreditar que seu projeto progressista continue intato ou se torne mais ousado nas circunstâncias em que o próprio presidente criou ou apoiou, a partir da própria escolha do neoliberal Geraldo Alckmin, antigo rival político, como vice-presidente da República.
Lula, devemos repetir, está se comportando como se fosse um pelego político, oferecendo para as classes populares conquistas muito menores do que pedem os excluídos sociais da vida real. Um salário mínimo que só aumenta, por ano, com um valor de apenas R$ 90 e uma política de empregos que mantém os valores e aspectos da precarização profissional do governo Michel Temer.
O presidente brasileiro chega a fazer um governo mais moderado do que os dois mandatos anteriores, que já eram moderadíssimos, quase castiços em comparação aos governos de Juscelino Kubitschek, um profissional liberal (era médico), e João Goulart, um fazendeiro, cujos projetos políticos eram mais ousados e corajosos do que o que o ex-sindicalista está desenvolvendo hoje.
Atualmente, Lula está fazendo um governo neoliberal, essencialmente não muito diferente do que o sociólogo Fernando Henrique Cardoso realizou nos seus dois mandatos, entre 1995 e 2002. O único dado diferente é que, juntamente a esse projeto neoliberal, Lula inclui o "tudo pelo social" do governo José Sarney, entre 1985 e 1989.
Lula finge que não fez guinada para o "centro". Mente quando disse que "não negociou" para sair da prisão. Mas a prática é que Lula fez tudo isso, sim, e seu governo já eliminou quase tudo do ideário de esquerda. Lula tenta parecer bem na foto pedindo para o PT "voltar às origens", mas ele é o primeiro a promover os desvios que enfraqueceram o partido e que podem praticamente exterminá-lo como sigla dotada de alguma expressão na esquerda brasileira.
PT saudações.
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