Meses atrás, em diferentes ocasiões, fotografei estas duas imagens aqui em Sampa para mostrar o quanto a tal campanha do "combate ao preconceito", que na verdade empurrou a deterioração da cultura popular como se fosse um "ideal de vida" das classes populares, tornou-se bastante nociva para o povo.
A foto acima, tirada de um vídeo publicitário num desses relógios eletrônicos na Avenida Engenheiro Caetano Álvares, no Limão, no cruzamento com a Avenida Casa Verde, mostra uma campanha bem caraterística da gourmetização da pobreza humana através da transformação das favelas em "habitats naturais", "aldeias pós-modernas" e até "paisagens de consumo", com uma cosmética das periferias para turista inglês (padrão Diplo) ver.
Trata-se de um anúncio de uma série de camisetas, promovida pela ONG Afroreggae, que explora a "estética faveleira" para o consumo confortável da classe média abastada e politicamente correta, e, portanto, da elite do bom atraso brasileira, essa burguesia de chinelos que trata o povo pobre como uma multidão de "selvagens" que precisa ser domesticada pelo "sistema", através da "maravilhosa cultura popular(esca)".
Mas aí temos uma outra foto tirada por mim, quando eu andava pela Avenida Henrique Schaumann, no bairro de Pinheiros, que se trata daquela "provocatividade que não provoca", uma banalização do ideário tropicalista dentro do contexto popularesco pós-2002, quando uma pintura grafiteira mostrava uma mulher dançando o "funk" com a cabeça da Gioconda, a lendária mulher da famosa pintura de Leonardo da Vinci.
Trata-se, neste caso, de uma atitude típica da "ditabranda do mau gosto", que a intelectualidade pró-brega alega fazer para "provocar e chocar", mas que não choca, apenas incomoda. Algo que, na verdade, é bastante inofensivo, no que se refere ao propósito de desafiar o chamado "bom gosto", essa paranoia burguesa que vem da mente de intelectuais festivos cujos trajes pós-hippies são usados como disfarce para o fato dessa elite que pensa que é pensante morar nos apartamentos de luxo dos Jardins e do Alto de Pinheiros.
A própria dança do "funk" já é uma degradação da mulher brasileira, negra e pobre, não apenas pelo lado da objetificação do corpo feminino - que as funqueiras tentam usar como suposta "armadilha" para os machistas, mas a verdade é que elas atuam de forma complacente com o machismo estrutural - , mas pela postura "de quatro" semelhante ao de uma mulher indigente fazendo as "suas necessidades" em algum canto da rua.
Em ambos os casos, a dignidade do povo pobre é ofendida e ridicularizada mesmo quando, no discurso, se tente provar o contrário. Afinal, esse papo de "combate ao preconceito", corajosamente analisado no meu livro Esses Intelectuais Pertinentes... e na sua versão condensada Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)..., nunca passou de um julgamento de valor de uma elite intelectual que se passava por "especialista em povo pobre" para esconder seus preconceitos elitistas "positivos", marcados por um paternalismo etnocêntrico que via na população pobre um bando de "tolos ingênuos".
E aí vemos o quanto essa chorosa campanha do "combate ao preconceito", iniciada na mídia venal (Rede Globo e Folha de São Paulo) e que contaminou a mídia de esquerda, foi um dos fatores para a ascensão do golpismo de 2016 e, depois, do seu subproduto, o bolsonarismo, prejudicando o povo pobre, na medida em que este tornou-se refém de sua própria degradação socioeconômica e cultural.
Portanto, passado o "eterno verão" do "combate ao preconceito", concluímos que a intelectualidade "bacana" quis atirar no preconceito e acertou na dignidade humana.
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