O negacionista factual é uma espécie de versão radical do "isentão", mas adaptado aos tempos "democráticos" de hoje. É um cara que está tão bem de vida que reage irritado a textos que divergem de seu sistema de valores e de sua limitada visão de mundo, marcada pelo seu privilégio socioeconômico.
O fenômeno do negacionismo factual faz com que as elites abastadas fantasiadas de "gente simples" fujam de tudo que representar senso crítico, informações verídicas, avisos urgentes, quando eles vão contra aquilo que essa classe acredita, curte e defende.
Confiantes no seu mundinho de redes sociais, com suas centenas de seguidores das quais 80% concordam com quase tudo, os negacionistas factuais não gostam sequer de ser advertidos mesmo quando fumam muitos cigarros e jogam comida fora.
Qualquer texto que venha com alguma advertência neste sentido eles fogem e boicotam sem hesitação. "Não, esse texto não me agrada. O cara que escreve isso é chato? Só fica publicando texto negativo (sic)", não há uma coisa relaxante e positiva para dizer?", reclama o turrão.
Daí que o turrão é aquele sujeito metido a "imparcial" e "objetivo" que só mede a verdade pelo prestígio de quem diz. Verdade, para ele, não é um fenômeno ou ideia que tenha algum sentido lógico ou realista, mas aquilo que é transmitido por algum nome dotado de muita visibilidade, fama e prestígio.
Até no contexto do lulismo o sujeito se recusa a admitir que as esquerdas obtiveram de forma artificial um aparente protagonismo, tomado de empréstimo do neoliberalismo político e jurídico. E que nossos esquerdistas tiveram que abrir mão de quase todos os seus princípios, preferindo, agora, o mínimo denominador comum de um neoliberalismo econômico com alguma medida social e popular que todavia não afrontem com os interesses dos privilegiados de plantão.
É muito preocupante que o negacionista factual, que parece ter se "alfabetizado" pela imprensa do AI-5, que "ditou" a maneira de ver o mundo que ainda prevalece entre muitos brasileiros, prefira apreciar fake news que venham de veículos ou personalidades que tenham prestígio e visibilidade do que notícias verídicas trazidas por quem não tem tais vantagens.
O negacionista factual nem deixa que novas vozes que tragam novas informações e expressem senso crítico, apontando o que está errado no Brasil de hoje, tenham mais visibilidade. Esnobe, o negacionista, esse "isentão" metido a "genuinamente imparcial", prefere consumir notícias falsas se elas vêm de influenciadores ou jornalistas que, independente da qualidade ou da integridade moral, são dotados de muito prestígio, fama e visibilidade.
E isso é muito ruim, porque as formas de ver o mundo se atrofiam e se estagnam, permanecendo nas zonas de conforto de narrativas agradáveis ou acomodadas, que não perturbam o sono dos privilegiados dos últimos tempos.
Com isso, nosso país acaba se degradando, mesmo quando o negacionista factual luta para que se mantenha a "paz social" que, para ele, soa necessária para o progresso brasileiro. O negacionista factual e seus adeptos brigam para que nosso país permaneça no sistema de valores prevalecente desde 1974 e que, há muito tempo, não parece interferir na "felicidade" de uns poucos.
Mas, como quem tenta tapar uma panela de pressão prestes a explodir, o negacionista factual pode boicotar a vontade os blogues, livros e jornais que manifestem profundo senso crítico que vai contra muitos valores defendidos pelo senso comum.
Mas um dia outras pessoas passarão a ler o que o negacionista se recusa a saber e aí veremos que o negacionista, tão cheio de si, estufando seu peito por se achar "bem informado", acabará depois levando fama de desinformado, não lhe adiantando fazer textões para defender suas convicções falidas.
Comentários
Postar um comentário