Sabemos que o eterno verão do "combate ao preconceito" que agiu com intensidade entre 2002 e 2016 foi apenas uma desculpa para os fenômenos popularescos ampliarem o mercado, sob o pretexto de serem, em tese, a "verdadeira cultura das periferias".
Sabemos que essa campanha foi iniciada pela mídia venal, sobretudo Globo, SBT, Folha, Abril e Estadão, mas que depois foi fazer proselitismo na mídia de esquerda, através do "filho da Folha", Pedro Alexandre Sanches, que, infiltrado na imprensa alternativa, contribuiu para derrubar a Caros Amigos, a encerrar a versão impressa da Fórum e quase falir a Carta Capital. E ainda estava quase subindo os degraus do Centro de Estudos Barão de Itararé, na esperança de transformá-lo num puxadinho da Folha.
Mas a tal campanha pela "ruptura do preconceito" causou efeitos mais danosos do que se imagina. A cultura brasileira autêntica saiu perdendo, sendo substituída por uma multidão de pseudoartistas musicais e subcelebridades. A campanha que visou crescer o brega-popularesco (o dito "popular demais") desmobilizou as massas, abrindo caminho para o golpe político de 2016.
Só que os efeitos se tornaram mais danosos do que se imagina. Ritmos como o "sertanejo", o forró-brega, o "funk" e tantos outros geraram um público de jovens arrogantes, que consomem essas músicas promovendo poluições sonoras, perturbando o sono dos trabalhadores, muitos deles precisando renovar suas energias físicas nas poucas horas de sono, para enfrentar jornadas de trabalho em locais distantes de suas casas.
A arrogância com que esses jovens, através de festinhas regadas a muita cerveja e outras, digamos, "guloseimas", tocam sucessos desses ritmos brega-popularescos, gritando e cantando alto em coro, insensíveis ao sofrimento de quem é prejudicado por essa barulheira, é notável.
Só o "funk" e seus tenebrosos sucessos - um deles apela para uma baixaria sexual como "presente de Natal" - , juntamente com o trap, são objeto de muita presunção e provocação desses jovens que tocam seus sons em altíssimo volume, com claro objetivo de irritar a vizinhança.
Tantas narrativas chorosas mas também imperativas tratando o "funk" como se fosse uma suposta revolta contra o "bom gosto das elites" fez muito mal para as mentes dos jovens que, em boa parte, são, por ironia, bastante ricos ou de classe média abastada, embora o principal público de "funk" seja composto dos chamados "pobres remediados", o tipo de "pobre" que agrada a burguesia.
Afinal, os pobres da vida real, que lutam por um emprego que lhes dê um salário minimamente digno que lhes faça comer algo além do que pão, água, feijão, arroz, biscoitos e salgadinhos de pacote, não se sentem representados pelo "funk", que cada vez mais deixa a máscara cair ao revelar as riquezas e a vida nababesca de seus ídolos, às custas da gourmetização das favelas.
Isso porque a vida na favela só é "maravilhosa" no "funk". Na vida real, as construções precárias e seus acessos labirínticos causam dor nos idosos e fazem os trabalhadores demorarem a se deslocar de casa para o ponto de ônibus ou trem para irem ao trabalho.
Ou seja, a vida real nada tem a ver com a espetacularização da vida na cultura brega-popularesca, na curtição sem fim das subcelebridades e no talento medíocre dos falsos artistas musicais, que fazem estrondoso sucesso por alguns anos, mas não conseguem seguir em frente, virando também subcelebridades.
A vida real dos pobres é perversa, cruel, dura, e escapa desse circo de farsantes culturais que apenas usavam a desculpa do "combate ao preconceito" para ingressar em redutos sociais de maior poder aquisitivo e viverem na "boa vida" desprezando a antiga origem pobre ou relativamente pobre. Os ídolos popularescos, agindo assim, chegam a ser mais burgueses que a já convictamente elitista burguesia.
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