Na “sociedade do amor” guiada pela “democracia de um homem só” de Lula, a burguesia comanda uma “frente ampla” social que vai do ex-pobre “reMEDIAdo” por loterias e promoções de produtos ao famoso e/ou subcelebridade dotado de muito dinheiro e extravagância.
Nessa fauna de “animais consumistas”, essa frente, a elite do bom atraso, é dotada também de muita falsidade, além de um culturalismo vira-lata que os faz gostarem de músicas de gosto duvidoso e a falarem jargões como a intragável e cafona gíria “balada” (© Jovem Pan) e neologismos em portinglês como “doguinho” e “lovezinho”.
Mesmo os mais “modestos” membros dessa classe cujos avós suplicaram a queda de João Goulart em 1964 nem que seja pelo preço de uma guerra - conforme revelaram documentos da felizmente nunca realizada Operação Brother Sam, décadas depois - podem ser incluídos nesse banquete simbólico da burguesia, por compartilharem, pelo menos em parte, dos privilégios e interesses da aristocracia bronzeada que temos.
A falsidade consiste nas carteiradas aqui e ali. Vemos empresários e executivos da Faria Lima bancando dublês de intelectuais promovendo seminários ou então palestras de motivação. E temos gente cheia de dinheiro que se acha “pobre” por estar associada a um padrão de lazer e consumo de apelo populista ou hedonista, neste caso ligado a um paradigma de aparente liberdade humana.
Daí que vemos o caso do conceito depreciativo do “gente como a gente”, na verdade uma visão distorcida e hipócrita da simplicidade humana, acrescida de vícios que estão supostamente associados a pobres e boêmios. Ou seja, ao dito “submundo” em geral.
É aqui que o burguês enrustido se torna um hipócrita contumaz, pois ele faz de tudo para camuflar seu classismo, caprichando na velha camiseta de algodão fino, nos jeans rasgados e nos sapatênis enquanto fala português errado, dança o trap ou o piseiro e arruma um momento para falar dos jogos de futebol da véspera. Visando a lacração nas redes sociais, o burguês enrustido faz de tudo para parecer “gente simples” e, na sua falsa modéstia, querer parecer “legal” para todo mundo.
Por isso, a classe que defende a precarização do mercado de trabalho e a gourmetização do popularesco, com um DNA das velhas elites escravocratas correndo ainda forte nas suas veias, precisa forjar seus surtos para não assumir o sangue burguês ainda vigoroso no seu interior.
O burguês, quando é identificado como tal, seja no bar da Avenida Paulista ou na arquibancada do Maracanã, não gosta de ser desmascarado e, portanto, precisa fazer um jogo de cena para parecer que “não faz parte dessa elite retrógrada” de que estamos falando. Algumas reações paranoicas do burguês desmascarado são bem caraterísticas.
“Burguês vai a estádio de futebol?”
“Burguês faz festas de fins de semana ao som de ‘pagode’?”
“ Burguês fala português errado?”
“Burguês enche a cara numa noitada?”
“Burguês gosta de ‘funk’?”
Sim. Burguês faz tudo isso. E devemos lembrar que a imagem ortodoxa da antiga burguesia só fez sentido há 50 anos. Hoje nossa burguesia, que continua escravocrata, moralista e classista, apenas se traveste de “moderna”, “democrática” e “generosa” para sobreviver nos novos tempos. É aquela coisa de tirar os anéis para salvar os dedos e tirar o paletó para preservar o pescoço.
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