O que poderia ter dado em tragedia acabou tendo um final feliz. Lula começou a semana sofrendo uma hemorragia cerebral, tendo que fazer uma cirurgia às pressas e, depois, outra para bloquear o sangramento, e, aparentemente bem, foi autorizado pelos médicos a ter uma rotina leve de trabalho e fazer também pequenas caminhadas de passeio. No último domingo, Lula recebeu alta no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, onde estava internado.
O que poderia ser apenas um grave problema de saúde de um líder político que foi resolvido pela habilidade e rapidez dos médicos, acabou sendo encarado pelas esquerdas médias como algo "fantástico", como se Lula fosse um Super-Homem e sua recuperação fosse uma façanha milagrosa que demonstraria a "força" do "super-presidente".
O próprio Lula cometeu um erro estratégico de usar um chapéu panamá na ocasião, pois o utensílio simboliza alguém que está realizando um turismo, não uma recuperação de duas cirurgias de risco. Isso diz muito, todavia, para um presidente que promove a "reconstrução do Brasil" com clima de festa.
De repente, para os lulistas, foi o "Papai Noel" que está recuperado pronto para fazer o Natal das esquerdas identitárias e da elite do bom atraso que "democraticamente" passou a gostar de Lula. O Brasil virou uma "Sessão da Tarde", que disputa a hegemonia do imaginário com o "Domingo Maior" representado pelo bolsonarismo, que teve uma "baixa" com a prisão do general Walter Braga Netto, um dos mentores do plano de atentado contra Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes.
Até agora não sabemos se o Brasil já foi reconstruído ou se está para se reconstruir. As informações trazidas pelos lulistas são muito confusas, e variam conforme as conveniências do momento. Se é para reeleger Lula, falam que "ainda falta muito para reconstruir". Se é para avaliar o atual mandato do presidente, dizem que "a reconstrução já foi concluída".
E desse modo, com um Brasil culturalmente devastado, com a supremacia das subcelebridades, dos ídolos popularescos e, fora do perímetro da fama, dos "animais consumistas" que aproveitam a suposta prosperidade nacional para consumir feito loucos tudo aquilo que seus instintos hedonistas pedirem, o cenário está mais para sonho do que para realidade.
Vivemos a combinação do hedonismo desenfreado das esquerdas identitárias - caricaturas do movimento hippie que já era banalizado há 55 anos com Woodstock - com a tradução tardia dos roaring twenties dos EUA, e euforia consumista que foi introduzida no Brasil com cem anos de atraso e muitas diferenças de contexto.
E aí Lula acaba errando também quando repete seus clichês exagerados de "energia de 30 anos e tesão de 20", mesmo parecendo bem mais velho que o padrão dos 79 anos hoje, pois o presidente é um idoso "à antiga", mas sua aparência remete, atualmente, a alguém com quase cem anos de idade. Lula tenta usar cremes antirrugas para disfarçar a pele envelhecida, mas não consegue esconder as mãos de homem de 98 anos.
É assustador e imprudente que os brasileiros médios vão dormir tranquilos porque acham que um senhor com quase 80 anos de idade irá conduzir, praticamente sozinho, o futuro do Brasil, sem ter sequer um herdeiro para casos de emergência.
Mesmo que Lula esteja saudável, mesmo assim é muito perigoso apostar nele e na sua "democracia de um homem só" como um processo de conduzir o futuro dos brasileiros. E o pior é que muitos acreditam que Lula irá conduzir esse futuro por 40 anos! Isso é muito difícil de acontecer, para um país que já perdeu Pelé e Sílvio Santos. Idoso, Lula terá que nos deixar um dia.
Isso é sinal de que os brasileiros estão vendo filmes de fantasia demais. Nada contra. Mas não dá para fazer do nosso país uma Sessão da Tarde. Até porque, fora da bolha lulista, o clima está mais para um filme de guerra do que para uma comédia natalina.
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