COMPRA DE VOTOS NO CONGRESSO NACIONAL AGORA VIROU "VERBAS PARA EMENDAS PARLAMENTARES'.
É assustador que o nível de desconfiômetro dos brasileiros reduziu em 40 anos. Comparando a redemocratização de 1984-1985 com a “democracia” dos tempos atuais, é tenebroso que retomamos a complacência e a credulidade dos anos de chumbo, chegando a haver quem odeie o pensamento crítico com a mesma raiva de um burocrata da Censura Federal em 1970, mas manifesta por um “homem livre” nas redes sociais dessa véspera de 2025.
Chegávamos a nos indignar com a compra de votos de deputados e senadores, tão facilmente identificados com a corrupção política. A indignação chegou a virar um clichê, e a figura do “político honesto” parecia folclórica de tão rara.
A manifestação do pensamento crítico ocorre de maneira semi-clandestina, seja em 1969, seja em 2024. São espaços limitados, cuja expressão social é relativamente livre, mas sem poder de compartilhamento pleno na sociedade. A diferença é que, hoje, a “cultura do cancelamento”, ferramenta do negacionista factual, substituiu a amtiga tortura do DOI-CODI.
Hoje a compra de votos dos parlamentares ganhou um nome “técnico”, as “verbas para emendas parlamentares”. Criou-se uma narrativa também “muito técnica”, a de que são “investidos recursos” para permitir que parlamentares do Congresso Nacional votassem de acordo com os interesses do Governo Federal. Toda uma estorinha feita para boi e boy dormir. Em portinglês, boy é aquele membro do gado humano alvo de algum interesse sexual.
As pessoas estão dormindo tranquilas porque parlamentares recebem milhões de reais para “votar com Lula” enquanto trabalhadores têm que se virar com mil e algumas centenas de reais, o tal “ganho real do salário mínimo”. Um salário de fome que o Bolsa Família não consegue compensar, daí a aventura perigosa, mas desesperada, de muitos pobres que, na corrida do ouro digital, apelam para as tais bets ou para o Jogo do Tigrinho, mesmo sob o risco de perderem mais dinheiro.
Mas desespero é desespero e quem ganha salário de R$ 1.412 com auxílio de pouco mais de R$ 700 não consegue obter a qualidade de vida necessária, tendo que estrangular o orçamento para ao menos terem força para mais uma jornada de trabalho.
Mas essa verdade não pode ser dita na Internet. O negacionista factual não gosta e boicota direto, seguido de suas centenas de seguidores. Para ele, pobre ganhando R$ 1.412 por mês é “rico”, a classe média ganhando R$ 50 mil é “pobre”, deputado ganhando milhões em votação “ganha gorjeta” e pobre recebendo migalhas “transforma vidas”.
O que vale não é a realidade, é o que nossa elite do bom atraso diz, porque só ela pode avaliar a realidade conforme seus umbigos, convertidos em “juizes” definitivos que, na inversão de valores, convertem opiniões em “fatos” e ratos em “opiniões”. O que desagradar os interesses dessa burguesia bronzeada não tem valor.
Regredimos até mesmo em relação aos primeiros anos da ditadura militar, quando uma boa parcela da sociedade civil permitia e estimulava o senso crítico, mesmo quando o poder político reprimia. Hoje vivemos tempos aparentemente "democráticos" e o senso critico é discriminado e alvo de campanhas de "cancelamento digital", tudo porque destoa do pensamento dominante que hoje permeia as redes sociais.
Aí percebemos o quanto o AI-5 causou estragos que refletem até os dias de hoje.
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