Notaram que muitas pessoas deixaram de ter qualquer noção ou discernimento sobre o que é MPB ou não? E que hoje mesmo gente de nível universitário fica aceitando bovinamente qualquer porcaria romântica como se fosse "MPB de qualidade".
Os neo-bregas já saberam da esperteza e resolveram ter um banho de loja, de luxo, de pompa, de iluminação de palco e todo um aparato "sofisticado", porque sabem dessa nova ideia torta e inconsistente de que a "boa MPB é uma equação que combina luxo e pompa com plateias lotadas". Música, que é bom, é apenas um "detalhe".
Tudo virou uma "MPB de couvert artístico", uma MPB feita apenas como trilha sonora para pessoas comerem e beberem em bares e restaurantes. Virou coisa qualquer nota: alguma canção acústica, na maioria romântica, em outras meramente dançantes, tocada sem critério, para um público que só está ali para beber a cerveja cujo sabor nem mais percebem como é.
Eu odeio cerveja, mas tenho que admitir, nas minhas pesquisas de Internet, a validade de muitos especialistas em cerveja sérios de que esse tipo de bebida produzido no Brasil perdeu drasticamente a qualidade, sendo hoje um engodo que, dizem, mistura restos de farinha de trigo com farinha de rosca (já feita de pão velho), restos de linhaça, aveia, farinha de mandioca ruim etc etc.
E, se as pessoas já não conseguem mais discernir o sabor de uma cerveja, então elas nem sabem mais discernir o que é música de brasileira de verdade ou não. Elas são capazes de aceitar Michael Sullivan - o homem que quase destruiu a MPB - e Tom Jobim com a mesma passividade bovina, sem separar o joio do trigo.
Daí os neo-bregas do "pagode romântico" e do "sertanejo" de 25 anos atrás, que hoje tentam se vincular à MPB na marra, através de um bom paletó e muitos sorrisos para as câmeras. A canastrice é explícita e aberrante, e com toda a simpatia que os cantores tentam expressar, a música que eles interpretam é simplesmente horrível, mesmo quando são covers de MPB de qualidade.
Mas até a MPB autêntica anda sucumbindo a isso. Vide a zaralhada de tributos, covers, regravações, execuções rotineiras, que fazem com que, mesmo respeitáveis, nomes como Maria Bethânia, Tim Maia e Gonzaguinha se tornem insuportáveis de ouvir, de tão tocados em situações banais.
Tudo porque a música brasileira, boa ou ruim, MPB autêntica ou brega, tornou-se trilha sonora dessa bebedeira toda. E isso com seus alegres ouvintes (aliás, eles realmente ouvem música?) exaltando nas mídias sociais um monte de breguice nas comunidades sobre MPB, com entusiasmo bovino.
Assim não há ouvidos nem corações que aguentem, assim como a consciência que não aguenta mais esse conceito pândego de Música Popular Brasileira.
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