Muito estranha a parcela da intelectualidade brasileira que se infiltrou nas esquerdas para defender a bregalização do país como se fosse uma suposta rebelião popular, como se os listões de FM e o circo de aberrações da TV aberta fossem ditar o folclore e o ativismo popular do futuro.
A intelligentzia tem dessas aberrações de gente feliz da vida por estar ao lado do "colega" Otávio Frias Filho (pensa-se na queixa de Mino Carta dos jornalistas reaças que chamam patrão de "colega") e hoje faz falsos ataques à Folha, à Globo, à Veja, como se quisessem nos convencer com seu falso esquerdismo.
Paulo César Araújo não gostou que eu, no antigo blogue Mingau de Aço, o defini como intelectual associado à Era FHC, que havia criado uma tese conspiratória travestida de estudo acadêmico, na qual a música brega era "a canção de protesto contra a ditadura militar". Com um perfil que lembra um soturno colunista de Veja, Araújo queria se passar por enfant terrible do mercado midiático-editorial.
Pedro Alexandre Sanches foi cria do Projeto Folha criado por Tavinho Frias e não consegue esconder suas ideias neoliberais. O conceito de "cultura transbrasileira" de Sanches revela analogia com a ideia de "economia transnacional" de Fernando Henrique Cardoso. Já suas ideias sobre MPB revelam influências explícitas de Francis Fukuyama, o ideólogo do "fim da História".
Lá de Belo Horizonte, o professor Eugênio Arantes Raggi escreve com a raiva típica de um Reinaldo Azevedo ou Diogo Mainardi, com um misto de reacionarismo e sarcasmo. Odeia socialismo, odeia trabalhismo e adora o coronelismo midiático. Mas as conveniências o fazem "esquerdista convicto", talvez só para agradar a esposa petista e os colegas filiados à CUT.
Essa patota defende uma concepção de "cultura popular", que vai dos bregas "de raiz" (Waldick Soriano, Odair José etc) até os funqueiros, que sempre foi patrocinada pelo coronelismo midiático, e por forças empresariais regionais, nacionais e até estrangeiras ligadas ao mais retrógrado conservadorismo ideológico.
No entanto, não se sabe por que cargas d'água esses intelectuais e tantos outros foram trabalhar essa "cultura" como se fosse algo revolucionário e progressista, empastelando os debates culturais e enfraquecendo as esquerdas que agora a ninguém conseguem convencer com suas ideias sobre regulação da mídia, por mais consistentes que possam ser.
Eles se infiltraram nas esquerdas e ficam bajulando desafetos e espinafrando afins. Era constrangedor eles falarem mal de Veja, de Marcelo Madureira, Eliane Cantanhede, Rede Globo, apesar das ideias afins sobre o "livre mercado". Ou o puxa-saquismo que um Pedro Sanches faz a Emir Sader, Rodrigo Vianna e companhia, para forçar vínculos reais ao seu pseudo-esquerdismo.
E aí, o que eles fazem? Creditam como "novo folclore popular" uma série de valores musicais, comportamentais, jornalísticos, culturais e outros que estão associados a um estereótipo de "popular" trabalhado pela mídia coronelista e outras mídias solidárias.
Tudo isso se ascendeu nos anos 1990, quando emissoras de rádio e TV apadrinhadas anos antes pelo então presidente da República, José Sarney, e seu ministro das Comunicações, Antônio Carlos Magalhães, mostraram seu "poder de fogo". Muito do engodo que hoje se conhece como "cultura popular" se deu através do patrocínio aberto desses dois "coronéis" midiáticos.
E aí, anos depois, uma geração de intelectuais amestrados pelas facções tucanas da USP e da Folha de São Paulo foi fazer beicinho depois que Lula foi eleito e foi posar de "guevariana" defendendo o "livre mercado" da bregalização. Com Sanches sem saber de que lado está andando, ou então querendo apunhalar as esquerdas pelas costas com seu neoliberalismo pós-tropicalista e seu anarcocapitalismo soros-positivo.
Esses intelectuais tentam fazer vista grossa, mas o que eles defendiam era justamente aquilo que Sarney e ACM queriam quando deram rádios a políticos e empresários "independentes e idôneos", nos anos 1980. Essa "cultura das periferias" que vale mais pela suposta "provocatividade" do "mau gosto" e por muito consumismo e pouca cidadania, é o que justamente queriam o "coronel Ribamar" e o "Toninho Malvadeza" com seu populismo de latifúndio.
As pessoas não conseguem perceber e as esquerdas acabam sendo desmoralizadas ao darem ouvidos para essa intelectualidade alienígena. O debate cultural acabou sendo esvaziado, não adiantou pedirem mais dinheiro para transformar os bregalhões em "artistas de verdade". Se dinheiro não traz felicidade, ele muito menos traz sabedoria.
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