Lendo abordagens das chamadas "esquerdas médias" que aparecem nas revistas Fórum, Caros Amigos e Carta Capital e que são associadas ao Coletivo Fora do Eixo, fico pasmo com o tipo de ativismo que eles fazem, e que só está abrindo caminho para a "urubologia" do campo oposto.
É um "esquerdismo de resultados" muito estranho, porque na verdade usa o manto do ativismo para defender projetos tecnocráticos e valores machistas, diluídos num pretenso discurso "revolucionário" que nada tem de realmente benéfico para as classes populares.
Um Pedro Alexandre Sanches que fica bajulando o Rodrigo Vianna, um jornalista sério e atuante, todavia abre o caminho para outro Rodrigo tomar o poder de formador de opinião, o Rodrigo Constantino, do lado oposto, o lado da mesma Folha de São Paulo que amestrou Sanches que hoje tenta influenciar levianamente as esquerdas culturais brasileiras.
As ideias desse pessoal todo - Sanches, Pablo Capilé, Denise Garcia entre outros - e seu "ativismo de resultados", tão "progressista" quanto os antigos comerciais da Benetton, enfatizam, sobretudo, a visão tecnocrática de que "as novas mídias digitais" comandarão o ativismo popular no mundo inteiro.
O pessoal fica deslumbrado e, como as gerações recentes não conhecem o Trem da História, acabam caindo em pegadinhas recentes, antigas armadilhas históricas que, pegando pessoas desprevenidas, consistem na reciclagem de antigas ameaças porque o pessoal de hoje não sabe o perigo que corre com certas "novidades".
O projeto Jornalismo nas Américas do Centro Knight da Universidade do Texas é o mesmo projeto Aliança para o Progresso do governo de John Kennedy, só que aplicado ao jornalismo contemporâneo. As "esquerdas médias" pensam que o projeto, comandado por Rosenthal Calmon Alves (ex-Veja), é uma proposta bolivariana de imprensa livre.
Grande engano. O projeto apenas prega um jornalismo tecnocrático, com a suposta independência que se observa nos chamados "jornalistas ninjas", uma armação supostamente esquerdista desde que o Cabo Anselmo brincou de ser marxista em 1963, no qual o indivíduo "independente" se submete às "novas mídias digitais" para fazer o seu "ativismo".
A ênfase do discurso que os "fora do eixo" fazem sobre as novas tecnologias cria uma nova forma de escravidão do homem pela máquina. Quando um Pedro Alexandre Sanches diz que a "revolução social" será feita com o clique de um mouse, ele, encharcado de Francis Fukuyama, FHC e Auguste Comte em seus neurônios, está falando em exploração humana pelas máquinas.
Sim, porque nesse discurso que ele e seus colegas fazem, que no âmbito cultural submete a renovação artística ao plágio e à pirataria, não é o homem que utiliza a tecnologia como instrumento de transformação e intervenção do mundo, mas são as "novas mídias digitais" que usam os homens como instrumentos para seu poder tecnocrático.
Por isso é que pessoas no Brasil estão correndo para fazer selfies ou para patinarem com os dedos sobre tabletes e celulares para tão somente clicar o botão Curtir do Facebook ou escrever "KKKKKK" para alguma bobagem "divertida".
Não são os homens a mudar o mundo com a tecnologia, a tecnologia é que muda (e desmobiliza) os homens e os torna escravos do consumismo tecnológico. Essa é a mensagem oculta quando o Coletivo Fora do Eixo e afins falam no "poder transformador das novas mídias digitais".
Como prova de que o que escrevo não tem a ver com discurso de qualquer frustrado, é bom deixar claro que o projeto de "novas mídias", "jornalismo ninja" e Jornalismo nas Américas veiculam ideias que nem de longe assustam o baronato midiático, muito pelo contrário.
Não bastasse titio Rosenthal (cuja aparência lembra aquele antigo garoto-propaganda do Bamerindus) ter feito comentários contra Julian Assange e a favor de Yoani Sanchez, as ideias defendidas por ele e pela turma "ninja" se afinam perfeitamente com as ideias transmitidas até por figuras como um Carlos Alberto di Franco, do ultraconservador Estadão e ligado à neo-medieval Opus Dei.
Como é que vem um Pedro Alexandre Sanches querer dizer que os projetos de mídia e cultura defendido por ele e seus amiguinhos assustam a "velha midia reacionária", da qual ele se sente "vítima" (quando na verdade é aliado), se a "urubologia" reinante tão somente sorri e aplaude essas mesmas ideias.
É só prestar muita atenção. Miriam Leitão, William Waack, Demétrio Magnoli, Otávio Frias Filho, Rodrigo Constantino e similares aprovam, acreditam e compartilham com as ideias "subversivas" e "ameaçadoras" trazidas pelos "ninjas", "fora do eixo", "farofafeiros" e outras manadas.
Por isso é que a grande mídia acabou se reciclando. As Organizações Globo e a Editora Abril puderam minimizar suas crises, sobretudo com o fòlego que recuperaram com as passeatas do "Fora Dilma", no último domingo.
Soa risível ver "foras do eixo", "farofafeiros", "ninjas" e outros achando que derrubaram a grande mídia, eles que nem estão aí para regulação midiática (que eles pensam ser um mero processo de domar "feras urubólogas"), contribuindo, mesmo indiretamente, para a ascensão e consolidação de uma "urubologia" que só tem a agradecer por tudo feito por esses supostos algozes, na verdade grandes aliados. Serve-se "farofa-fá" no chá do Millenium.
Comentários
Postar um comentário