Hoje, mais uma vez, a embaixadora da Boa-Vontade da ONU sobre os assuntos da mulher, a atriz Emma Watson, realizará uma palestra para celebrar o Dia Internacional da Mulher, lembrado hoje. Ela impulsonou o movimento "He for She", que convida os homens solidários aos dramas das mulheres a ficarem ao lado delas.
O Brasil, onde o machismo vive seu inferno astral, com o feminicídio prestes a ser considerado crime hediondo, depois de tantos anos de impunidade, o feminismo ainda encontra um problema em supostas manifestações feministas que, na verdade, compactuam com estereótipos machistas de sensualidade feminina.
Aqui Emma Watson é mais bajulada do que compreendida. Lá fora, mesmo um questionamento dado pela também atriz Maisie Williams - que curiosamente faz aniversário junto com Emma - , sobre o fato de Emma se restringir a uma visão primeiro-mundista do feminismo, consegue enriquecer e ampliar o debate.
Mas, aqui, o que se vê é um engodo que veio depois de manifestações verdadeiramente feministas, porque desde a espetacularização do ativismo social através de expressões estranhas, como o "funk carioca", as "musas populares" ou coisa parecida, uma parcela do que se conhece como "feminismo" seria, na verdade, uma ideologia negociada com as demandas machistas.
O caso de defender a prostituição como profissão permanente, ou a tal "liberdade do corpo" e "direito ao desejo" que não passa de uma desculpa para certas "musas" exibirem seus corpos siliconados a todo custo e na marra, simboliza não um feminismo moderno que a intelectualidade "bacana" tanto alardeia, mas um pseudo-feminismo "de resultados" ao gosto dos machistas.
O Brasil vive ainda um quadro esquizofrênico de feminismo, com mulheres se mobilizando para impedir a paquera nas ruas e em locais públicos durante o dia, num país que permite que algumas "musas populares" fiquem mostrando seus corpos o tempo todo.
Num lado, mulheres que têm medo de levarem cantadas durante o dia, nas ruas, mas não têm medo de serem assediadas por homens perigosos que aparecem em bares, boates e casas noturnas, de boa aparência, jeito simpático e discurso conquistador, que se tornam ameaçadores depois que passa a euforia do amor de noitada.
Noutro lado, mulheres que reclamam pelo "direito ao desejo" e "liberdade do corpo", que no entanto reduzem sua reputação à imagem de "mulher-objeto" defendida pelo machismo que elas dizem "odiar", e não medem escrúpulos para mostrar seus corpos a toda hora, sem arrumar uma situação para protegê-los da superexposição e da exploração levianamente sensual de sua imagem.
O sensacionalismo de certas manifestações "feministas", aliado ao oportunismo de funqueiras como Valesca Popozuda (hoje "politicamente correta") e Mulher Melão, faz com que as manifestações feministas no país se tornem ainda uma piada, mesmo num quadro de machismo decadente em nosso país.
Por isso, seria necessário rever o próprio feminismo, porque não se pode criar um comportamento extremo de estimular mulheres a "mostrar demais" e depois proibir cantadas nas ruas. Liberar em excesso num caso e proibir drasticamente em outro são coisas contraditórias que nada ajudam ao feminismo.
Da mesma forma, também é necessário pensar num "Chega de fiu-fiu" também na "vida noturna", porque boa parte da violência contra a mulher é feita por maridos ou namorados que as vítimas conheceram no "saudável ambiente" de bares, boates e casas noturnas.
Por isso, se o feminismo de Emma Watson é definido pela colega Maisie Williams, em seu questionamento construtivo, como de Primeiro Mundo, o feminismo brasileiro ainda está longe de ser digno de um país emergente, preso a estereótipos e paradigmas terceiro-mundistas.
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