CENA DE A MELODIA DA BROADWAY (THE BROADWAY MELODY), DE 1940.
Há cerca de dez anos, a rede Telecine cometeu uma das maiores bobagens de sua trajetória: mudar o nome do canal Telecine Classic para Telecine Cult, usando o lema "Alternativo" de maneira cínica, para enganar os já hoje desinformados cinéfilos brasileiros.
Pelo menos a única coisa que teve a ver foi colocar como símbolo um gato, porque o que se vê é um balaio de gatos que mistura filmes de temáticas altamente contestatórias do cinema europeu até os mais brutais filmes de violência dos anos 80. No chamado "horário comercial", filmes da fase áurea de Hollywood (1939-1959) e filmes de bangue-bangue.
O pessoal das mídias sociais aceitou bovinamente. "Olha, tá rolando o filme tal", diz um. "Em que horário, pergunta outro?", comenta o amigo, seguido de outros comentários deslumbrados de gente que se comporta como bois que vão para um rio de piranhas apenas se preocupando se a água está gelada ou não, se ela é cristalina e não barrenta.
O Telecine Cult ofendeu o legado de Walter da Silveira (1915-1970), jornalista baiano especializado em cinema, e Paulo Emílio Salles Gomes (1916-1977), jornalista paulistano com a mesma especialização, os maiores ativistas no processo de pensar a cultura cinematográfica no Brasil.
Os dois criaram, em seus tempos, os chamados Cineclubes, espaços que exibiam produções independentes ou europeias que fugiam das normas comerciais de Hollywood, nos quais se debatiam as regras e as narrativas fantasiosas dos filmes norte-americanos. Foram essas sessões que serviram de base para o surgimento, em todo o país, do movimento Cinema Novo.
Daí ser vergonhoso que, nos últimos anos, pessoas dotadas de nível universitário e um significativo conhecimento de cinema aceitar que filmes comerciais de Hollywood, sobretudo as mais inócuas e inofensivas comédias, passaram a ter o mesmo peso de valor que os filmes intelectualizados do cinema europeu. Um aberrante atestado de incoerência e desinformação.
Eu havia reclamado, no Orkut, que o Telecine Cult passa filmes comerciais de Hollywood, das comédias inócuas dos anos 1940 aos filmes violentos dos anos 1980, e um internauta, com aquela mania "bovina" de argumentar o "estabelecido" com qualquer desculpa, disse que "esse cinema era melhor do que os filmes que só passam violência de hoje".
LOGOTIPO SUGERE "BALAIO DE GATOS" CINEMATOGRÁFICO.
Então tá. Ele aceitava que as comedinhas hollywoodianas dos anos 1940 e 1950 são consideradas hoje "cinema alternativo" porque "são melhores que filmes violentos". Mas aí o tempo passa e até Robocop, Rambo, os últimos filmes com Charles Bronson viraram cult e tudo agora é "tão alternativo" quanto os filmes de Jean-Luc Godard, Federico Fellini e Akira Kurosawa.
Até John Wayne é considerado "ator de cinema alternativo" tanto quanto um ator da Nouvelle Vague, por desculpas esfarrapadas dadas pelas gerações atuais, capazes de aceitar até veneno de rato servido com cobertura de framboesa, tamanha a submissão ao "estabelecido", ao que é decidido "de cima".
Isso anula completamente os debates árduos que eram feitos pelos cinéfilos do mundo inteiro, e sobretudo no Brasil, ofendendo o legado trabalhoso de Walter e Paulo Emílio e menosprezando o trabalho que cineastas independentes realizaram, na contramão do mundinho de fantasia em cor ou em preto-e-branco que Hollywood transmitia para todo o mundo.
Até Glauber Rocha reprovaria a atitude do Telecine Cult, vendo nele uma mistureba de alhos com bugalhos. Dá até para imaginar, se ele estivesse vivo hoje, dizendo, com seu vozeirão e seu tom provocador, que o Telecine Cult é um McDonalds da cultura cinematográfica e um acinte à cultura cinéfila que a geração dele desenvolveu no Brasil.
Sugere-se que o Telecine Cult possa mudar seu nome para Telecine Oldies ou coisa parecida. Seria muito mais realista do que ficar empurrando produções comerciais antigas como se fossem "cinema de arte", quando seus propósitos nada tiveram nem têm a ver com o cinema alternativo e independente.
Há cerca de dez anos, a rede Telecine cometeu uma das maiores bobagens de sua trajetória: mudar o nome do canal Telecine Classic para Telecine Cult, usando o lema "Alternativo" de maneira cínica, para enganar os já hoje desinformados cinéfilos brasileiros.
Pelo menos a única coisa que teve a ver foi colocar como símbolo um gato, porque o que se vê é um balaio de gatos que mistura filmes de temáticas altamente contestatórias do cinema europeu até os mais brutais filmes de violência dos anos 80. No chamado "horário comercial", filmes da fase áurea de Hollywood (1939-1959) e filmes de bangue-bangue.
O pessoal das mídias sociais aceitou bovinamente. "Olha, tá rolando o filme tal", diz um. "Em que horário, pergunta outro?", comenta o amigo, seguido de outros comentários deslumbrados de gente que se comporta como bois que vão para um rio de piranhas apenas se preocupando se a água está gelada ou não, se ela é cristalina e não barrenta.
O Telecine Cult ofendeu o legado de Walter da Silveira (1915-1970), jornalista baiano especializado em cinema, e Paulo Emílio Salles Gomes (1916-1977), jornalista paulistano com a mesma especialização, os maiores ativistas no processo de pensar a cultura cinematográfica no Brasil.
Os dois criaram, em seus tempos, os chamados Cineclubes, espaços que exibiam produções independentes ou europeias que fugiam das normas comerciais de Hollywood, nos quais se debatiam as regras e as narrativas fantasiosas dos filmes norte-americanos. Foram essas sessões que serviram de base para o surgimento, em todo o país, do movimento Cinema Novo.
Daí ser vergonhoso que, nos últimos anos, pessoas dotadas de nível universitário e um significativo conhecimento de cinema aceitar que filmes comerciais de Hollywood, sobretudo as mais inócuas e inofensivas comédias, passaram a ter o mesmo peso de valor que os filmes intelectualizados do cinema europeu. Um aberrante atestado de incoerência e desinformação.
Eu havia reclamado, no Orkut, que o Telecine Cult passa filmes comerciais de Hollywood, das comédias inócuas dos anos 1940 aos filmes violentos dos anos 1980, e um internauta, com aquela mania "bovina" de argumentar o "estabelecido" com qualquer desculpa, disse que "esse cinema era melhor do que os filmes que só passam violência de hoje".
LOGOTIPO SUGERE "BALAIO DE GATOS" CINEMATOGRÁFICO.
Então tá. Ele aceitava que as comedinhas hollywoodianas dos anos 1940 e 1950 são consideradas hoje "cinema alternativo" porque "são melhores que filmes violentos". Mas aí o tempo passa e até Robocop, Rambo, os últimos filmes com Charles Bronson viraram cult e tudo agora é "tão alternativo" quanto os filmes de Jean-Luc Godard, Federico Fellini e Akira Kurosawa.
Até John Wayne é considerado "ator de cinema alternativo" tanto quanto um ator da Nouvelle Vague, por desculpas esfarrapadas dadas pelas gerações atuais, capazes de aceitar até veneno de rato servido com cobertura de framboesa, tamanha a submissão ao "estabelecido", ao que é decidido "de cima".
Isso anula completamente os debates árduos que eram feitos pelos cinéfilos do mundo inteiro, e sobretudo no Brasil, ofendendo o legado trabalhoso de Walter e Paulo Emílio e menosprezando o trabalho que cineastas independentes realizaram, na contramão do mundinho de fantasia em cor ou em preto-e-branco que Hollywood transmitia para todo o mundo.
Até Glauber Rocha reprovaria a atitude do Telecine Cult, vendo nele uma mistureba de alhos com bugalhos. Dá até para imaginar, se ele estivesse vivo hoje, dizendo, com seu vozeirão e seu tom provocador, que o Telecine Cult é um McDonalds da cultura cinematográfica e um acinte à cultura cinéfila que a geração dele desenvolveu no Brasil.
Sugere-se que o Telecine Cult possa mudar seu nome para Telecine Oldies ou coisa parecida. Seria muito mais realista do que ficar empurrando produções comerciais antigas como se fossem "cinema de arte", quando seus propósitos nada tiveram nem têm a ver com o cinema alternativo e independente.
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