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DEVERIA HAVER O "CHEGA DE FIU-FIU" DAS NOITADAS


Há uma grande campanha contra o assédio de mulheres nas ruas e locais públicos. Isso tem seu aspecto negativo, porque restringe o já restritivo espaço para as paqueras, e faz com que, sob o pretexto das mulheres rejeitarem assédios agressivos, qualquer homem, dos nerds aos galãs, tenham dificuldades de paquerar ou assediar alguém nas ruas.

O "Chega de Fiu-fiu" é essa campanha, e recentemente há o caso de uma garota que passou a fazer careta, a "careta do dentinho", fechando o lábio inferior e mexendo o superior de forma que aparecesse a gengiva, para inibir as cantadas. A cara feia era sinal de rejeição do assédio masculino.

Tudo bem. Mas o que pouca gente percebe é que deveria haver o "Chega de Fiu-fiu" da vida noturna, dos bares, das boates, das casas noturnas. É preciso encerrar com a ilusão que se tem desses locais como ambientes públicos e onde todas as pessoas são legais.

Desaforo? Papo de nerd frustrado? Pregação de fanático religioso? Puritanismo? Mau humor? Não. Quando se fala em terminar com a ilusão da vida noturna como paraísos humanos, o que se leva em conta é a realidade que se mostra depois da ressaca das noitadas.

O que muitas mulheres não percebem é que a maior parte dos feminicídios que acontecem têm como autores homens que as vítimas conheceram nas noitadas, pessoas que parecem gentis e descontraídas no bate-papo regado a muita cerveja, animação e algum fundo musical.

Ninguém percebe que nas noitadas as cantadas são muito mais sutis, ou, quando muito, as cantadas mais ridículas e afoitas inspiram situações engraçadas. Ninguém percebe, da mesma forma, que a ideia de que "todos são irmãos" e que nas noitadas "todos os gatos são pardos" não é mais do que uma grande ilusão.

Há vários casos em que casais "maravilhosos" que se conheceram nas noitadas se encerrarem tragicamente, com moças sendo encontradas mortas em quartos de hotel enquanto seus "gentis", "simpáticos" e "descontraídos" homens fugiram depois de cometer o crime.

Por isso que pedir um "Chega de Fiu-fiu" da vida noturna é uma coisa urgente e realista, embora receba, nas mídias sociais, o repúdio da maioria esmagadora de internautas que irão ridicularizar e achar que essa sugestão vem de algum "filhinho de papai" frustrado, péssimo conquistador ou de algum moralista paranoico.

Mas quem é que vai esperar algum paraíso de lucidez nas mídias sociais, em que existe até uma tal "Campanha do Carimbo" na qual uns infectam outros com o vírus HIV ("carimbo" é eufemismo para "contaminação" e os infectados são chamados "vitaminados")?

Já fui vítima de cyberbullying de um bando de "coxinhas" no Orkut, na comunidade "Eu Odeio Acordar Cedo", só por causa da gíria "balada" ("popularizada" por Luciano Huck e pela mesma Jovem Pan FM que virou reduto de jornalistas reaças).

No entanto, pedir o "Chega de Fiu-fiu" nas noitadas pode ser desagradável para muitos, mas é bem mais coerente e preventivo. Os piores assediadores de mulheres nem se preocupam com o fim dos assédios nas ruas. Eles têm dinheiro no bolso, vão para as noitadas e bolam até uma cantada mais criativa para conquistar mulheres que normalmente lhe evitam no dia a dia.

A mulherada não está protegida dos piores assédios masculinos quando estão em bares, boates e casas noturnas. As noitadas são situações muito mais perigosas para se conhecer homens, os noticiários policiais são uma prova disso. São piores do que o assédio nas ruas durante o dia, por ruins e aborrecedores que estes sejam.

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