O senador Fernando Collor, o ex-presidente que confiscou as poupanças dos brasileiros e esteve à frente de um projeto neoliberal que pretendia arrasar o país e privatizar de vez as universidades públicas, voltou a ser carregado nos ombros das chamadas "esquerdas médias".
É o Collor "duas caras" que as "esquerdas médias" tanto apreciam. O Fernando Collor "repulsivo", ex-presidente da República condenado por corrupção, e o senador que agora "vocifera" contra a mídia e o Judiciário "partidarizados".
As "esquerdas médias" são aquelas esquerdas frouxas que, apenas parcialmente, possuem ideias e práticas interessantes e válidas, mas que no meio do caminho compactuam com forças retrógradas aqui e ali, sobretudo na área da cultura e da política.
São elas que fazem o Partido dos Trabalhadores falir e fazer com que a direita venha com seus diversos movimentos, havendo inclusive um pedindo a intervenção militar e a destruição completa do Brasil com uma nova ditadura.
Aí vem o Fernando Collor que, como candidato à Presidência da República em 1989, era rival do seu hoje aliado Luís Inácio Lula da Silva, fazendo "discurso bonito" contra a lista do procurador da República, Rodrigo Janot, que pode não ser o procurador mais perfeito do mundo, mas tentou enquadrar vários acusados de corrupção no caso da Petrobras.
Janot cometeu erros, de não incluir o senador Aécio Neves como alvo de investigações e nem mesmo a presidenta Dilma Rousseff, que integra o PT, foi incluída na lista de investigáveis. Mesmo assim, Fernando Collor, um dos envolvidos, tentou se passar por legalista e incriminar o procurador com seu discurso oportunista e pretensioso.
É verdade que o Judiciário falha em muitos critérios e investiga sem ter provas suficientes para tanto. Em certos casos, seu processo investigativo é muito lento, em outros é rápido demais. Mas isso não é razão para Collor sair como o "herói da pátria" com seu discurso bonapartista.
Fernando Collor teve a "sorte grande" que Juscelino Kubitschek e João Goulart nunca tiveram. Juscelino, por exemplo, terminou a vida sem ter qualquer oportunidade de iniciar novo mandato governando em Brasília. Mas Fernando Collor sobreviveu e foi reabilitado depois do famoso "Fora Collor".
Collor, que promoveu um projeto econômico socialmente excludente e patrocinou a degradação cultural do país - seu esquema político e estatal patrocinou de Chitãozinho & Xororó e Só Pra Contrariar até a 89 FM e o "funk carioca" - , passou por cima de todo contexto que poderia ao menos ter lhe reservado algum ostracismo à sombra do desprezo público brasileiro.
Em vez disso, Collor teve a seu favor uma desastrada investigação do esquema do seu ex-tesoureiro Paulo César Farias, que não só foi assassinado como qualquer prova de seu crime foi apagada, criando para sempre um mistério de um esquema criminoso que poderia ter enquadrado o ex-presidente.
Collor acabou atraindo para si o apoio de antigos rivais e desafetos, como Lula e Lindbergh Farias (o antigo líder estudantil do "Fora Collor"). E, mesmo entre seus opositores, é minimizado na sua imagem de corrupto, como se o Brasil de vários planos ideológicos tivessem ainda o interesse de ver Fernando Collor novamente presidente do Brasil.
Isso é perigoso. A memória curta de nosso país pode criar uma imagem fantasiosa de Fernando Collor como um "líder progressista" e "amigo dos trabalhadores" que, como presidente do Brasil enfrentou a oposição do Congresso Nacional e a traição de seus aliados e foi tirado do poder por uma manifestação juvenil armada pela Rede Globo. Rol de mentiras e inverdades.
É certo que a União Nacional dos Estudantes, em 1992, não vivia uma boa fase, com dirigentes prepotentes e arrogantes, que ridicularizavam e esnobavam aqueles que faziam carteiras estudantis e que faziam passeatas apenas para impulsionar a carreira de suas lideranças estratégicas.
É também certo que a Rede Globo influiu em parte nas passeatas estudantis, devido à transmissão de uma minissérie sobre os movimentos estudantis de 1968, numa narrativa fictícia ambientada naquela época.
Mesmo assim, é exagerado criar um maniqueísmo que transformasse Fernando Collor num "injustiçado". Se o poderio midiático queria se aproveitar do "Fora Collor" e encerrar um ciclo de "idealismo" da grande mídia (depois do Fora Collor a grande mídia "democrática" que se opunha às Organizações Globo passou a ser sua aliada convicta), isso não significava que ele era inocente.
Daí o grande perigo de Fernando Collor, o hoje "bravo orador" do Senado Federal, ser visto no futuro como um "herói injustiçado". É fácil reabilitar os corruptos e algozes de outrora, que nem sequer se arrependeram do que fizeram, mas que querem parecer "legais" e "admiráveis" hoje, se aproveitando de situações que eles, em outros tempos, encarariam com repúdio ou desdém.
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