Pessoas hipertatuadas, falando portinglês, achando que música brega é vanguardista e que o identitarismo traria a revolução popular para o Brasil?
Se isso é um ideal de liberdade plena e humana no nosso país, agradecemos aos homens da mídia que regulam a "nossa" tão espontânea e livre liberdade.
Temos a bregalização mais rasteira, comandada pelo sorridente Sílvio Santos.
Temos a gourmetização do brega coordenada pelos irmãos Marinho e monitorada pelo articulado Luciano Huck.
Temos o trash popularesco monitorado por Marcelo de Carvalho e Amilcar Dallevo, da Rede TV! falida mas que, estranhamente, diz fazer muito sucesso através do Encrenca! dos pseudo-roqueiros da 89 FM, incluindo o Tatola, líder do happy rock para tiozões chamado Nem Liminha Ouviu.
Tudo muito livre. Liberdade no rock é ver o radialismo rock reduzido às "Jovem Pan com guitarras" que só tocam hits e têm locutores engraçadinhos (mesmo aqueles que evitam fazer gracinhas, mas têm o mesmo estilo de fala e linguagem, ainda que se limitem a ler textos sobre rock).
E falando em Jovem Pan, nada como a gíria "balada", patenteada por Tutinha e Luciano Huck, ter sido transformada na "gíria de todos os tempos e todas as tribos", invadindo a imprensa "séria" e tudo, símbolo dessa "liberdade" hipermidiatizada e hipermercantilizada.
Mas nenhuma influência é tão crucial quanto a do falecido Otávio Frias Filho, que também ajudou a desenhar esse imaginário "livre" que toma conta da maioria dos brasileiros.
Dono da Folha de São Paulo, Tavinho Frias, como era conhecido, se foi há três anos, mas seu legado nesse "ideal da liberdade" da sociedade identitarista brasileira foi bastante decisivo.
Dublê de intelectual ilustre, Tavinho era um neoliberal alinhado ao PSDB, mas com alguma habilidade de manobrar o imaginário das esquerdas festivas, por mais que elas, de maneira ingênua, reneguem sua pessoa.
Sim, tem-se o hábito das pessoas renegarem personalidades mas seguirem, com fidelidade canina, tudo o que elas determinam e dizem.
É a síndrome do bom aluno que odeia o professor, mas segue suas lições direitinho.
Otávio Frias Filho, através da Folha de São Paulo, pode ser considerado o patrono da sociedade lacradora.
Foi ele que gourmetizou a bregalização cultural, completando o trabalho de glamourização do brega pelas Organizações Globo, que fizeram até esquecer que os ídolos cafonas, em que pese a Censura Federal implicar com suas músicas, agiam de acordo com os propósitos do regime militar.
As esquerdas domesticadas que exaltavam o "funk" e viam feminismo nos glúteos empinados das mulheres-objetos - qualquer coisa é só passar a conta para Andressa Urach pagar, não é mesmo? - devem muito ao Otávio Frias Filho.
Essas esquerdas tolas que liam, com gosto, os artigos de Pedro Alexandre Sanches, o "filho único" de Tavinho Frias que, num surto de pretensiosismo através de um artigo de quinta kateguria, chamou seu mestre de "Tavinho Golpes Finos".
Tomadas de visibilidade que evitava que meu blogue Mingau de Aço tivesse destaque na blogosfera progressista e hoje tenta evitar o sucesso de Esses Intelectuais Pertinentes..., vive seu auge nas interações lacradoras que fazem com Jair Bolsonaro e seus filhos.
Aquela coisa tipo Beatles versus Rolling Stones: Bolsonaro lança a pauta, as esquerdas lacradoras reagem com suposta raiva contra o "mito", e depois das briguinhas digitais tudo continua reinando na paz bolsomínion dos retrocessos em curso.
É a "liberdade" de uma sociedade que se acha "tão livre" que prefere esculhambar os mestres dessa "liberdade", talvez para evitar algum vínculo hierárquico.
Uma "liberdade" que mostra coisas insólitas, como mulheres se achando "livres" quando seus corpos são tatuados por outros homens que lhes sugerem até que tatuagem vão imprimir nos corpos das clientes.
Uma "liberdade" que confunde lacração na Internet com cultura alternativa e promove a "ídala" brega Gretchen a um dos pretensos ícones cult do imaginário da moçada.
Essa "liberdade" conciliadora que reúne adeptos da maconha recreativa a místicos tradicionais do "espiritualismo kardecista".
Ou que trata bebidas alcoólicas como cerveja e vinho como artefatos divinos.
Ou que une pessoas adeptas do "funk" mais sexualizado ao brega mais família tipo Michael Sullivan.
Uma "liberdade" que soa como uma "Contracultura de resultados", dotada de trilha sonora brega-popularesca.
É o Brasil de Otávio Frias Filho que sempre reservou um lugar para as esquerdas: o recreio identitarista que expulsou, para o frio polonês, as visões fatalistas surreais-distópicas do intelectualismo esquerdista eslavo.
Criou-se, provisoriamente, o caderno Mais! para abrigar os apocalípticos da pós-globalização, até que a poeira baixasse e os distópicos de plantão se exilassem nas suas bolhas digitais, para o bem do globalitarismo reinante.
E aí vemos uma "esquerda" ensolarada, brincalhona, hedonista, que aparentemente reside nas páginas culturalistas da Carta Capital, Revista Fórum e, até pouco tempo atrás, na Caros Amigos, e andam passeando, de vez em quando, até no Blog do Miro.
No entanto, essa "esquerda fashion" está mais próxima dos imaginários das sociali(s)tes do Grand Mondé - atenção: não estamos falando de Hildegard Angel, que consideramos uma lutadora de verdade - do que daqueles que conheceram o chão de fábrica e a grama molhada dos cultivos com enxada.
E essa "esquerda" é cria dos devaneios festivos e identitários de Otávio Frias Filho. Não adianta chamá-lo de "Tavinho Golpes Finos". Afinal, se há a "liberdade" dos identitaristas festivos, muita coisa se deve à influência da Folha de São Paulo e seu finado dono.
Comentários
Postar um comentário