O economista, escritor e ativista progressista Eduardo Moreira denunciou que seu canal no YouTube foi invadido por hackers que publicaram um vídeo de propaganda de bitcoins e, em seguida, começaram a apagar os vídeos do autor.
O que chama a atenção é que o incidente ocorreu dias depois de Eduardo ter entrevistado, no mesmo canal, um palestrante e divulgador do Espiritismo brasileiro, Franklin Félix.
Félix é um sujeito estranho que, em princípio, tem a aparência de primo do Bernardo Küster. Mas isso seria apenas uma mera coincidência visual.
O problema é que Félix propaga o Espiritismo brasileiro, um Catolicismo medieval repaginado e dotado de concessões para o Ocultismo. Ele adapta o ultraconservadorismo da religião brasileira aos clichês do esquerdismo identitário do nosso país.
Quem sabe dos bastidores desse "kardecismo" que nada tem de Allan Kardec sabe que suas raízes, na verdade, remetem ao Roustanguismo, seita concorrente criada pelo sinistro advogado Jean-Baptiste Roustaing, conterrâneo de Kardec.
O Espiritismo brasileiro radicalizou a deturpação roustanguista quando, em 1932, publicou uma das obras pioneiras da literatura fake, um livro de poemas, falsamente atribuído a diversos autores, que já começou mal, tendo "Parnaso" no nome, numa época em que o Parnasianismo já estava caduco.
O autor foi um suposto médium que, nos anos 1970, foi conhecido por usar peruca e ser defensor radical da ditadura militar e até mesmo do AI-5, e foi premiado pela Escola Superior de Guerra dando indícios de ter sido um grande colaborador do regime.
Apesar disso, as esquerdas passam pano nesse "médium" que foi uma das pessoas mais reacionárias, farsantes e charlatonas da História do Brasil, apenas porque ele falava em "paz e caridade" e segurava crianças pobres no colo.
O "médium de peruca" que encerrou os dias como um sósia live-action do Estáquio do seriado de animação Coragem, O Cão Covarde (Courage The Cowardly Dog), sucesso no Cartoon Network, chegou a ser tido como "homem chamado Amor", mas tinha pontos macabros em sua trajetória.
Ele fez julgamento de valor contra pessoas pobres que morreram ou presenciaram a tragédia de um circo em Niterói, no ano de 1961. Caluniou os amigos do jovem engenheiro Jair Presente que desconfiaram das "psicografias". Era acusado de plágios vergonhosos e grosseiros.
O que ele fez usando o nome de Humberto de Campos nem o pior inimigo seria capaz de fazer.
Tudo porque há indícios de que as "psicografias" que levaram o nome do escritor maranhense teriam sido uma revanche contra resenhas negativas que Humberto, quando era vivo, havia feito sobre o tal "livro do Parnaso".
A esperteza do "bondoso médium" foi tamanha que, beneficiado pela impunidade - viúva e filhos de Humberto processaram o "médium" e a instituição "espírita" associada, mas um juiz carioca julgou o processo "improcedente" em 1944 - , ainda seduziu o filho do mesmo nome do autor.
Através de uma tática perversa chamada "bombardeio de amor" - estudiosos em Comunicação o definem como perigoso processo de dominação de pessoas - , o "médium", através de um culto "espírita" e amostras de Assistencialismo, dominou emocionalmente Humberto de Campos Filho.
Foi em 1957. A partir de então, Humberto Filho deixou de ser o cético firme e racional para ser um patético e iludido admirador do farsante que o dominou.
A historiadora Ana Loryn Soares teve em mãos uma revelação terrível de que as obras do "médium" eram adulteradas, não bastasse elas mostrarem indícios de fraudes. As obras eram modificadas até mesmo depois de publicadas e vendidas. O "livro do Parnaso" foi modificado cinco vezes.
Só para sentir o teor das modificações editoriais, uma carta do "médium" ao seu tutor e presidente da federação revelou um pedido tolo para modificar um verso que dizia "Sorrindo... Sorrindo..." para "Sorrindo... Cantando...".
As obras são fake, porque, com uma leitura atenta, notaremos que os espíritos alegados não escreveram uma única vírgula sequer nesses livros (só o Humberto de Campos, por exemplo, mostra diferenças aberrantes e grosseiramente fortes).
Como se não bastasse as obras "psicográficas" terem sido fake, as modificações editoriais eram feitas visando desqualificar as "mensagens do além".
A ideia era sugerir que as mensagens dos espíritos do além não prestam, exceto apenas a de um padre jesuíta e um fictício médico que acredita-se ter sido Oswaldo Cruz, Carlos Chagas ou um dirigente esportivo na sua última encarnação.
Só as mensagens dos "iluminados homens da terra", incluindo o "médium" picareta, é que "prestariam" e, por isso, eles tinham o poder de modificar os "recados do além" para serem viáveis de publicação.
Mas como essas modificações ocorriam depois da primeira e até de edições posteriores dos livros é algo que uma investigação deveria averiguar.
Tudo indica que isso é uma atividade criminosa, que o sobrinho do "médium", um jovem chamado Amauri Pena, iria denunciar com detalhes, mas ele morreu de forma muito suspeita em 1961.
Segundo matéria de Manchete, de 09 de agosto de 1961, Amauri sofria ameaças de morte do "meio espírita". Até o modo de morte havia sido definido: envenenamento, o que pode ter sido a causa do falecimento prematuro do rapaz.
Na época, Amauri foi vítima de calúnia e difamação justamente daqueles que dizem serem contrários de tal atitude.
Amauri chegou a ser acusado pelos "kardecistas" de "falsificar dinheiro" riscando a caneta. É a mesma acusação plantada pelo policial troglodita Derek Chauvin para assassinar o trabalhador negro George Floyd, em Minneápolis, EUA, no ano passado.
O "médium" também era acusado de apoiar fraudes de materialização espiritual, assim como de dublar locutores em off para forjar falsa psicofonia. Seu envolvimento de fraudes fez seu discípulo, Waldo Vieira, romper com o antigo parceiro.
Há pontos tão macabros na vida do "médium" que hoje é glorificado por uma "caridade" fajuta, oportunista e espetacularizada, rigorosamente a mesma praticada hoje por Luciano Huck, admirador e seguidor confesso do "médium".
O "médium" é conhecido, também, pela pretensa profetização da "data-limite", um procedimento que é severamente condenado pela Doutrina Espírita original, que define essa atitude como própria de pessoas de baixíssima evolução espiritual.
As esquerdas passam pano no "médium de peruca", mas fontes diversas afirmam que o "médium" era um anti-petista dos mais radicais, tendo manifestado horror à candidatura de Lula para a Presidência do Brasil e, em contrapatida, ter se encantado, no fim da vida, ao conhecer Aécio Neves.
E o "médium" era um radical anti-aborto, do tipo que, no caso de uma menor de idade ser estuprada por um meliante, recomendasse a ela manter a gravidez e perdoar o algoz. Se a gestante prematura morrer, o "médium" dirá que "foi sua hora e ela virou um anjo no céu".
Daí que o "médium", tido como "símbolo de bondade e amor ao próximo" e espécie de guru dos identitaristas brasileiros tidos como "espiritualistas", tem uma trajetória macabra de fazer a desmascarada Madre Teresa de Calcutá fichinha.
Mas não há um equivalente brasileiro do Christopher Hitchens para denunciar o "médium de peruca". Aqui o que prevalece é uma fascinação doentia pelo "médium". Os piores cantos de sereia que levam gente à perdição partem de velhos feiosos e repugnantes, de visual cafona e voz molenga.
Mesmo os semiólogos mais empenhados não querem pôr em xeque a reputação do "médium", que é um violento e ameaçador arsenal de bombas semióticas.
Todo mundo seduzido, iludido e dominado pela figura do suposto "bom homem", que gerou azar para muita gente boa que viu suas vidas arruinarem e, em muitos casos, perder até seus melhores filhos por tragédias surgidas do nada.
Continuo a postagem amanhã.
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