Estive fora de Niterói durante uns dias e deixei um estoque de textos pré-datados para manter o Linhaça Atômica ativo.
Passei uns dias em São Paulo, cidade onde pretendo morar se não conseguir ser aprovado num concurso público de Aracaju, para o qual me inscrevi.
Adorei São Paulo e vi facetas bem diferentes do que a mídia apresenta da cidade, e vi que a capital paulista é muito mais legal do que eu imaginava ser.
Infelizmente, o Rio de Janeiro sucumbiu a uma decadência vertiginosa e terrível, fruto de uma combinação entre narcisismo, provincianismo, arrogância e pragmatismo.
O crime organizado cresce, milicianos aparecem até na Zona Sul, o Grande Rio fica estagnado, a Baixada Fluminense virou faroeste (ou farleste, se verificarmos que fica na Região Sudeste), com pistolagens e feminicídios ocorrendo a todo momento.
E Niterói tão autista que os niteroienses, para ter alguma noção dos problemas que eles mesmos sofrem, precisam do caminho midiático que vai de José Luiz Datena, passando por William Bonner, até chegar à mídia impressa de O Globo, O Dia e Extra, às vezes parando no Meia Hora ou Expresso.
Fora isso, o niteroiense pode até gemer de dor intensa que vai pensar que é êxtase.
Daí que pretendo arrumar as malas. O Rio de Janeiro está perigoso até no clima, que já pode chegar a sensações térmicas de 50º a 60º. De dia, andar pelas ruas do Rio, Niterói ou Baixada é como estar em uma sauna ao ar livre.
Fora o perigo da violência. Em Niterói, na comunidade de Monan Pequeno, próxima ao Largo da Batalha, a menina Ana Clara Machado, de cinco anos, foi morta por uma bala perdida.
Ela acordou, foi abrir alegremente a porta de casa e foi alvejada mortalmente. Mais uma das várias crianças que a violência do Grande Rio elimina, causando dor e trauma a familiares e amigos.
Paciência. Os tempos de beleza imponente, do Rio como Cidade Maravilhosa, de Niterói como Cidade Sorriso, da "periferia feliz" da Baixada pós-moderna, infelizmente acabaram e não creio que haja recuperação, mesmo num prazo relativamente longo.
Afinal, não dá para levar a sério a utopia de que uma chuva de dinheiro devolverá o Grande Rio aos tempos áureos de prosperidade e criatividade. Se dinheiro não traz felicidade, ele muito menos traria bonança, não é mesmo?
Dito isso, durante minha estadia em São Paulo vários incidentes ocorreram.
Jair Bolsonaro com pose lacradora de atleta barrigudo, negociações das esquerdas brasileiras para a corrida presidencial de 2022, e, principalmente, os surtos escandalosos da cantora Karol Conka, que integra o elenco do riélite Big Brother Brasil, na sua edição BBB 21.
O escândalo começou quando Karol discutiu contra Juliette Freire, que ela julgou ser portadora de falta de educação.
Karol comentou com outras colegas, Thais Braz e Sarah Andrade, com essas palavras:
"Me disseram que lá na terra dessa pessoa é normal falar assim.Eu sou de Curitiba, é uma cidade muito reservadinha. Por mais que eu seja artista e rode pelo mundo, eu tenho os meus costumes".
Sarah concordou: "Você foi criada lá (em Curitiba)".
E aí Karol continuou:
"É, eu tenho muita educação. Eu tenho meu jeito brincalhão, mas reparem que eu não invado, não desrespeito, não falo nem pegando nas pessoas”, enfatizou Karol.”Só que aí, essa pessoa [outro participante] falou que não foi por mal. E aí já me acalmei, porque pensei que a pessoa [Juliette] estava com alguma coisa comigo. E eu fiquei me sentindo mal".
Karol também havia feito comentários agressivos contra o ator Lucas Penteado, por conta de várias desavenças durante o convívio dentro do cenário do BBB 21.
Outro membro famoso, o rapper Projota, apesar de ter criticado Juliette e menosprezado Lucas Penteado nesses incidentes, não foi repudiado do espectador e também rapper Mano Brown, uma das vozes engajadas do hip hop brasileiro.
Não vejo o Big Brother Brasil e tudo isso eu colhi em informações dadas pela mídia.
Não estou aprofundado com essas relações entre Mano Brown e Projota, mas creio que Brown não iria passar pano nas posturas do amigo, mas também não iria cancelá-lo por isso.
Karol então comentou que, por ela ser de Curitiba, se orgulhava de ser de uma sociedade "bem educada", em detrimento da sociedade nordestina, indicando postura xenófoba.
O irônico disso tudo é que tanto João Pessoa, capital da Paraíba, quanto Curitiba, a capital do Paraná, estão entre as capitais com maior índice de feminicídio, só para ver o quanto boa ou má educação são coisas que não tem a ver com regiões, mas com sistema de valores em geral.
Karol era um daqueles nomes blindados como o "novo pop brasileiro", dentro do cenário ultracomercial em que o Brasil tardiamente passa a produzir pop dançante e rap comercial, em meio à supremacia popularesca protegida pela intelectualidade "bacana".
Ela chegou a apresentar o Superbonita, programa do canal GNT, da Globosat, e perdeu sua participação do programa Prazer Feminino, apresentado por ela e pela ex-BBB Marcela McGowan, produzido a partir de um canal no YouTube.
Karol também teve sua participação cancelada no festival Recbeat, de Recife, um balaio de gatos que inclui de nomes menores do mangue beat a ícones do brega mais rasteiro do Norte e Nordeste.
Ela teria perdido também R$ 5 milhões por conta de sua atitude abusiva no programa.
Ela se junta a outras "sumidades", seja do pop ou do popularesco, que andam repercutindo mal em várias denúncias.
Semanas atrás, o DJ Marlboro, "santificado" pela Internet - só este humilde blogueiro que faz o Linhaça Atômica não tem ilusões contra este "deus" do "funk" - , foi alvo de um boletim de ocorrência feito pela funqueira MC Ellu, que o acusou de tê-la estuprado.
Outras mulheres, depois disso, revelaram que teriam sido assediadas pelo empresário-DJ, mais blindado do que político do PSDB. Marlboro nega as acusações.
Houve também o caso recente de Anderson Leonardo, do Molejo, uma das "sumidades" jogadas para a falsa vanguarda, para o "bem" das "viradas culturais" que viram palco para bregas decadentes.
Anderson foi denunciado pelo jovem MC Maylon, que acusou o vocalista do Molejo - cujo pretensiosismo chegou ao ponto de se produzirem camisetas com a estética das do grupo Ramones (algo semelhante também se fez com Jair Bolsonaro) - de estupro e agressões físicas.
Anderson negou as acusações, mas disse que era bissexual e admitiu ter tido relações com a vítima.
O incidente é semelhante ao de outro pseudo-vanguardista do "pagode romântico" dos anos 1990, o Raça Negra, cujo vocalista Luís Carlos havia feito comentário machista, em 2017, no programa Encontro Com Fátima Bernardes, da Rede Globo.
Luís Carlos, do Raça Negra - que teve um pretensiosíssimo e oportunista CD-tributo pseudo-alternativo com roqueiros descolados regravando suas músicas - , havia feito seu juízo de valor sobre como sua filha deveria se portar e se vestir numa festa.
A coisa repercutiu mal, embora tivesse que haver esse incidente para que o Raça Negra deixasse de ser blindado.
Afinal, o grupo tinha uma sonoridade datada que já soava velha nos anos 1990 - eu tive que ouvir as músicas do grupo, porque um vizinho tocava seus LPs - e Luís Carlos é um péssimo cantor, com aquela voz pequena e desafinada.
Em 1990, os discos do Raça Negra soavam como se tivessem sido lançados em 1974. Pena que um ex-saxofonista do ótimo grupo instrumental dos anos 1960, os Jordans, foi se envolver nessa cilada.
Mas aquela campanha "contra o preconceito" - ver Esses Intelectuais Pertinentes... - tentou forçar a barra e vender o retaguardista Raça Negra como uma pretensa vanguarda. Só mesmo num país provinciano no Brasil para nossa "brilhante" intelectualidade agir assim.
Em todo caso, porém, em algum momento tantas "sumidades" defendidas pelos "intelectuais mais legais do Brasil" sempre mostram algum dado sombrio, vide, por exemplo, o caso de Zezé di Camargo.
E aí vemos o quanto o Olimpo do brega-popularesco fica mais embaixo.
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