Na contramão do carnaval identitarista que elege o Rio de Janeiro como um projeto de paraíso na Terra, resolvi deixar o Estado.
Deixarei Niterói, tida como um dos maiores IDH do Brasil, mas na prática é o contrário, sofrendo uma decadência silenciosa e aceita por uma multidão em grande parte anestesiada.
Deixarei o Grande Rio, deixarei de viver próximo do Rio de Janeiro cantado em várias canções, de "Cidade Maravilhosa" de André Filho - por ironia, um aniversariante de 21 de março, que neste ano marcará minha entrada aos 50 anos (sério!) - a "Aquele Abraço", de Gilberto Gil.
Nado contra a corrente das festas que em outros tempos nunca me aceitaram e que agora parecem me querer pelo menos para fazer número.
Mudei muito nos últimos anos. Não sou mais nerd, loser ou coisa parecida, depois que vi que, ao redor destes rótulos, havia uma multidão estranha que ia de popozudas pseudo-feministas a bolsomínions terraplanistas.
Fora os marombados que, só porque passam mais de seis horas no computador, querem se equiparar ao antigo protótipo personificado pelo Lewis Skolnick de Vingança dos Nerds (Revenge of the Nerds).
Da antiga "vingança dos nerds", deu-se lugar para a "vingança dos bullies". Do antigo Lewis Skolnick, perderam-se as letras e só sobrou a palavra Skol.
O "nerd" hoje é cervejão-ão-ão. Se beber, não case. Em Brasília, houve até nerd feminicida. Ricardo Salles, ministro de Jair Bolsonaro, tem visual nerd. No YouTube tem nerd ensinando como conquistar mulher. E tem nerd que se considera fanático por futebol.
E loser virou sinônimo de "terrorista" ou, na melhor das hipóteses, "reacionário".
Então o que estava fazendo nesse ambiente todo? Pulei fora, revi meus conceitos. Posso viver sem praia sem problema.
Num contexto em que Andressa Urach tornou-se mais admirável do que Cléo Pires e Regiane Alves, o Catolicismo é mais avançado que o Espiritismo brasileiro e Alexandre Frota tornou-se, sem ironia, uma personalidade respeitável, vivemos reviravoltas surpreendentes.
Eu vou para São Paulo na contramão de muitos paulistas que, a julgar do grande número de automóveis com chapa da capital paulista circulando em Niterói, querem viver sob o sol e o calor do Grande Rio.
Não vou "tomar no cool" ouvindo "funk", torcendo pelo Flamengo, baixando o aplicativo da Rádio Cidade no meu celular nem sonhando em me casar com a Aline Riscado.
Estou fora de tudo isso e também não vou me tatuar nem tomar cerveja e nem participar de festas nas quais não me sinto representado. E não vou falar portinglês como se fosse algum descolado frustrado em não ter nascido nos EUA.
E é por isso mesmo que estou saindo do Rio de Janeiro, e vou para São Paulo viver uma vida próxima ao meu estilo.
Ainda posso, depois, me mudar para Aracaju, por causa de um concurso público no qual fui inscrito. Mas lá pretendo curtir a praia e o verão do "eu sozinho", sem as tentações identitaristas que florescem nas capitais litorâneas.
Mas no caso de não ser aprovado nesse concurso e ficar em São Paulo, tirarei todo o proveito dessa cidade que antes me parecia "estranha", embora sempre simpática e admirável.
Na foto que ilustra esta postagem, está o bairro da Glória, com o antigo Hotel Glória e o posto de combustíveis GNV, onde, hoje à noite, pegarei um ônibus de aplicativo para me mudar de vez para a Terra da Garoa.
Como diz a música "American Woman" em versão virundum, "Agora eu garoei".
E por isso ficarei uns dias fora do ar, abastecendo o blogue de pré-datados na medida do possível.
Aguardo vocês no outro lado da Via Dutra. Até lá.
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