O artigo de José Cássio, do Diário do Centro do Mundo, sobre a ideia de que Geraldo Alckmin é "a melhor opção" para a Vice-Presidência da República na chapa com Lula, dá o tom da falta de embasamento e consistência dos argumentos de quem defende essa aliança.
Com boa vontade, eu pude ler o artigo, até para saber a que ponto estão os argumentos dos que defendem essa aliança em nome "da união, do diálogo e do entendimento próprios da democracia".
Mesmo sendo um ponto de vista contrário, leio esses argumentos por eu, como jornalista, sem esconder minhas posições de escolha, ter que verificar o que o outro lado pensa.
No entanto, só constatei o vazio dos argumentos, extremamente superficiais e de tom meramente subjetivo e emocional, de José Cássio, jornalista e articulista do DCM que prometeu apresentar uma visão objetiva da referida aliança.
Como numa projeção freudiana, ele acusa o ex-presidente e os militantes do Partido dos Trabalhadores (PT), José Falcão e membros de um diretório no Butantã, aqui em Sampa, de "pensarem com o coração", enquanto Cássio jura que está pensando as coisas de maneira racional.
Mas lendo o texto, observa-se o contrário. José Cássio é que está pensando com o coração, pois nota-se muitos aspectos subjetivos na sua defesa da aliança de Lula com Geraldo Alckmin.
A apreensão de que Geraldo Alckmin, como representante do mercado, tende a prejudicar Lula é vista por Cássio como "uma bobagem". Mas ele não justificou de forma consistente.
Ele se limitou a dizer que "Geraldo Alckmin não faria autodenúncia de seu governo", uma argumentação muito vaga.
Ele também acredita que Alckmin "não é um golpista como Temer" nem "traíra como Dória", e concordou com um ingênuo José Dirceu que disse que "Alckmin pode colaborar no dia a dia do governo, tornando as coisas fáceis para Lula".
Colaborar, como? Que coisas serão facilitadas? Pelo menos até pouco tempo atrás a desculpa meramente eleitoral era um tanto mais honesta, a de derrubar Bolsonaro nas urnas unindo petistas, tucanos e emedebistas.
Dirceu ingenuamente acredita que Temer e Alckmin "são diferentes entre si" e isso "afastaria o fantasma do golpe". Lembremos que Dirceu achava que a mídia corporativa era aliada do PT e depois ela fez toda a pregação do antipetismo para derrubar Dilma e enfraquecer Lula.
A credulidade de José Cássio, assim como a de Dirceu e outros entusiastas da aliança Lula-Alckmin se guia na desculpa, descrita no texto, de que Lula, como "um bom técnico de um time", sabe do que está fazendo. É aquela ilusão de achar que Lula pode resolver qualquer enrascada.
Cássio também acredita, ingenuamente, que Alckmin irá facilitar a eleição de Fernando Haddad para o governo de São Paulo e que irá "agregar" todas as forças democráticas para a volta do PT ao Governo Federal e a conquista pelos petistas do Executivo estadual paulista.
O texto é uma porção de clichês emocionais, subjetivos, sem embasamento, sem fundamento, sem detalhamento nem explicações convincentes.
Poderia-se explicar tecnicamente as alegadas vantagens da aliança Lula-Alckmin, mas seus apoiadores nem se preocupam com isso. Estão guiados pela emoção. E o próprio Lula está botando mais emoção e menos razão em seus discursos.
Como um "ex-kardecista", eu sei que o Espiritismo brasileiro também vem com esse ranço.
O "nosso" Espiritismo se acha uma religião "racional", "intelectualizada" e "filosófico-científica", mas fica o tempo todo demonizando o senso crítico ("tóxico do intelectualismo") e as pregações do "médium" mais famoso vão sempre no sentido de abominar o questionamento e a investigação.
É sempre aquele mantra do "não reclame, não questione, não investigue, apenas acredite e ore". E o pior que, com toda a pose de pretenso intelectualismo, os "nossos espíritas" falam em "pensar com os olhos do coração", na esperança de reprimir do cérebro suas funções de questionar e duvidar.
Afinal, os "nossos espíritas" sempre descartaram Descartes. E isso é ilustrativo no Brasil em que senso crítico é demonizado até pelos cursos de pós-graduação, verdadeiras escolas de passagem de pano nas problemáticas "sem problemas" do nosso cotidiano.
E aqui se serve, a título de Conhecimento e Saber, um asqueroso engodo ocultista que mistura o joio com o trigo, juntando Filosofia, Psicologia, Física com Astrologia, Religião e outros devaneios místicos. Uma infeliz tradição brasileira.
Daí que os valores se invertem. Atribui-se como "razão" quando se pensa "com os olhos do coração" e traz argumentos "emotivos" fantasiados de "objetivos". "Razão" é aceitar tudo numa boa e ficar passando pano. "Emoção" é quando se questiona, toca o dedo na ferida.
Outra coisa é ver os partidários achando legal as diferenças ideológicas de Lula e Geraldo Alckmin, como se fosse legal pessoas divergentes convivendo juntas.
Na teoria é muito fácil. Desde os tempos do Orkut (que já mostrava os vícios das redes sociais que o senso comum imagina terem nascido só no Facebook), vejo gente defendendo que é legal, na vida amorosa, por exemplo, casais se unirem sem afinidade.
Fica todo um apelo sentimental - mas pretensamente "imparcial" e "objetivo" - de que os casais irão "superar as diferenças", porque "o amor supera tudo".
Na teoria, tudo é fácil. Mas, na prática, esse "convívio de diferenças" entre casais gerou uma onda de feminicídios que dizimou vidas de mulheres inocentes.
Sabiamente, o pré-candidato a governador de São Paulo pelo PSOL, Guilherme Boulos, alertou, em entrevista para a Carta Capital, para o que ele considera uma "opção arriscada" e um "mau sinal".
Boulos lembrou da atuação sombria de Alckmin como governador paulista entre 2011 e 2018, cuja "maior realização" foi a violenta operação policial que expulsou moradores da comunidade de Pinheirinho, em São José dos Campos, demolida a pedido de uma massa falida empresarial.
Outro aspecto interessante que Boulos falou é que não há sentido nas supostas vantagens políticas da aliança de Lula com Alckmin.
Alckmin não terá base no Congresso Nacional para apoiar, de forma integrada, tanto ele quanto Lula.
Da mesma forma, Alckmin também não fará os eleitores conservadores que votam no hoje ex-tucano migrarem para Lula. "É mais fácil ele jogar tomate no Alckmin e chamar de traidor", disse Boulos.
Daí que vemos o quanto o artigo de José Cássio está desprovido de objetividade. O articulista do DCM foi muito superficial em seus argumentos e muito emotivo nas suas justificativas.
Enquanto isso, os militantes e parte do PT histórico reprovam a aliança entre Lula e Alckmin por verem nisso riscos objetivos que, à revelia do otimismo dos defensores e da ilusão de que "Lula cuidará de todos os problemas", ameaçarão a eleição e o terceiro mandato do petista.
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