NO RIO DE JANEIRO, ELEITORA DE EDUARDO PAES, QUERIDINHO DAS ESQUERDAS IDENTITÁRIAS CARIOCAS, COM ATITUDE IRÔNICA DIANTE DOS COMENTÁRIOS DO ENTÃO RIVAL MARCELLO CRIVELLA DE QUE O HOJE PREFEITO DA CAPITAL SE COMPORTAVA COMO O "ZÉ PELINTRA".
As esquerdas brasileiras andam se comportando de maneira lamentável.
Festivas e recreativas, elas mais parecem um "gado ideológico" a aceitar as conveniências do momento, principalmente quando acolhem alguns direitistas considerados "queridinhos" da massa esquerdista corrente.
Na campanha eleitoral de 2020, eleitores de Eduardo Paes, em boa parte ligados à esquerda identitária (que despreza as pautas trabalhistas), reagiram com ironia a um comentário do rival Marcello Crivella, bispo da Igreja Universal.
Crivella definia o rival como alguém que se comporta feito um "zé pelintra", aquela figura folclórica com chapéu panamá.
As pessoas reagiram com ironia e foram logo para as ruas com o referido chapéu, enquanto Paes vivia seus momentos de "meu direitista favorito" das esquerdas médias cariocas.
Esse comportamento dá o tom das esquerdas festivas, que têm coragem de afirmar que "Xibom Bombom", sucesso de axé-music, é "inspirado" em O Capital de Karl Marx e Friedrich Engels.
No momento, as esquerdas festivas, que agem sempre por meio do esnobismo e da arrogância, estão esculhambando a Terceira Via e acreditando que Lula vencerá na marra, não havendo chance para ele ser derrotado.
Lula aparece nas redes sociais como o "fortão", o "todo-poderoso", que "vence todas as batalhas".
Já seus concorrentes, podendo ser Jair Bolsonaro ou algum terceiro-viável que varie da direita atrapalhada de Sérgio Moro ao hoje mudado Ciro Gomes (atualmente disposto a ser um híbrido de Juscelino Kubitschek com matizes de brizolismo), são sempre ridicularizados.
Qualquer falha pequena é explorada de forma negativa. Simone Tebet dizendo que "não sabia" que a Operação Lava Jato iria dar ruim, é "linchada" sem piedade.
Ciro Gomes questionando a aliança de Lula com aqueles que derrubaram Dilma Rousseff? Mais humilhação por parte das esquerdas médias.
Ninguém conseguiu explicar, de forma convincente, por que Lula foi logo se aliar aos golpistas, tal como um galo de briga que, podendo se aliar até com gaviões e urubus, no entanto prefere se aliar com as raposas.
A única tese oficial é pragmática e sem consistência: a aliança com os golpistas seria para "derrubar Bolsonaro, salvar a democracia e garantir a governabilidade", sob o pretexto de "superar diferenças ideológicas".
Fala-se até que o Partido dos Trabalhadores "reconheceu" o legado do golpe de 2016 e até um eufemismo foi criado para a derrubada de Dilma Rousseff, atribuindo sua queda à "misoginia machista".
Oficialmente, o golpe político de 2016 passou a ser atribuído apenas aos "capangas", a parte "moleque" do golpismo, simbolizada por Sérgio Moro, Deltan Dallagnol, Janaína Paschoal, Kim Kataguiri, Fernando Holiday, Eduardo Cunha, Mamãe Falei e outros.
Já os mentores, os "mandantes" do processo, como Fernando Henrique Cardoso e José Sarney, foram poupados e inocentados e agora viraram "apoiadores do Lula".
As esquerdas médias se tornaram infantilizadas, sem perceber as armadilhas que se montam contra Lula e que o fazem se perder pelo caminho.
Sim, porque Lula até tem capacidade de liderança e negociação, mas tudo tem limites. A realidade atual é um fardo pesadíssimo para ele suportar. Lula encarar a crise em que vivemos hoje é como ele carregar uma bigorna de dez toneladas.
Lula me decepcionou desde quando menosprezou a realidade distópica de nosso país pós-Temer e pós-Bolsonaro. O petista veio com discursos otimistas demais para nossa realidade, tipo "vamos fazer o Brasil ser feliz de novo" e foi até à praia, com sua noiva Janja, se exibir com traje de banho.
Ou então dizer, em entrevista ao canal PodPah, a tolice de que "está com tesão para governar o Brasil".
Estamos enfrentando tempos sombrios e Lula em clima de festa, apenas reconhecendo, da boca para fora, a dura realidade brasileira, mais como um recurso para desqualificar Bolsonaro do que para admitir que o golpe de 2016 trouxe malefícios para o país.
Ver as esquerdas infantilizadas, contagiando até gente que tinha alguma lucidez, como Tereza Cruvinel não acreditar que Geraldo Alckmin priorizará uma agenda mais conservadora, prejudicando Lula, é de causar muita tristeza.
Ver que o Brasil se mergulha num clima de positividade tóxica, depois de tantos estragos feitos pelo golpismo de 2016 e seus derivados (Temer e Bolsonaro), é preocupante.
Esse clima de otimismo infantil é de partir o coração, porque, numa realidade trágica, que incluiu desastres naturais como Mariana (ocorrido ainda sob um governo Dilma em crise), Brumadinho e Sul da Bahia, não há como insistir em "deixar alegria onde passe".
Nossas esquerdas são gente de classe média que vive bem de vida e se esquece que as classes trabalhadoras foram abandonadas por Lula.
Os proletários em geral ficam horrorizados em ver Lula abraçado a Geraldo Alckmin, interagindo com José Sarney e Romero Jucá, enfatizando o apoio de empresários e banqueiros.
Os proletários, do contrário que pensam as esquerdas, não recuperaram a confiança em Lula. Quem recuperou foram aqueles proletários que são movidos por algum peleguismo.
As classes pobres ficam tristes porque, como na música de Arnaldo Antunes, eles não querem só comida.
Querem qualidade de vida, desenvolvimento, fim dos retrocessos trabalhistas. Coisas que parecem fáceis no mito de Lula e em suas promessas atraentes, mas serão difíceis de serem implantadas de forma adequada diante do filtro conservador de Alckmin.
São essas as realidades tristes que fazem de Lula um favorito de muitos, mas não mais de mim.
Lula deixou de lado aquele líder lúcido. Preferiu ser lúdico a ser lúcido. Passou a viver em clima de festa, prometendo demais e sonhando em excesso, enquanto articula apoio político entre aqueles que querem castrar o seu programa de governo.
E assim começamos o Brasil em 2022 diante da utopia que mascara a distopia iminente.
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