Em tese, Lula é que apresenta o projeto político mais vantajoso para o Brasil. Pelo menos era o que sugeriram os dois mandatos e a aparente lucidez que ele demonstrou entre 2018, quando foi preso, e 2020, época da pandemia.
Mas Lula, desde 2021, perdeu-se no caminho, subestimando a realidade distópica de nosso país, agindo como se estivesse em clima de festa e não numa preocupação séria em reconstruir o país de verdade.
Fazendo alianças a qualquer preço, como uma criança se servindo pela primeira vez num restaurante de comida a quilo, fizeram Lula se tornar ainda mais decepcionante.
Ele se assanhou demais no começo, espalhando na mídia coronelista que iria "regular a mídia", coisa que soa incômoda até para uma Rádio Metrópole em Salvador, emissora que aposta num esquerdismo fake.
Ele promete demais, sugerindo que pode reverter a reforma trabalhista, a reforma previdenciária e colocar o país num projeto radicalmente progressista, no qual cabe até a reforma agrária e, em tese, a reestatização das empresas privatizadas e a recuperação do pré-sal como patrimônio brasileiro.
No entanto, o petista quer voar alto demais se aliando com aqueles que lhe querem cortar as asas.
A indigesta aliança de Geraldo Alckmin só faz sentido para setores complacentes das esquerdas, mesmo quando há, nesses setores, a adesão de gente que havia sido, até pouco tempo atrás, séria e consistente.
Parecia ontem que Alckmin manifestava felicidade com a prisão de Lula, considerando o ato como "o fim da impunidade". Foi em 2018, o que, em termos de xadrez político, é muito pouco tempo atrás.
A festejada aliança entre Lula e Alckmin, associado à preocupante postura de "salto alto" de Lula, tomado pelo clima de "já ganhou", cria uma série de problemas, apesar de tantos risos, tantas alegrias e mais de mil palhaços (não-bolsonaristas) no salão.
Um deles é a falta de um projeto político preciso.
Em tese, Lula tem a "Carta ao Povo Brasileiro" na manga e está associado a projetos que, teoricamente, sempre estão voltados para o bem estar social, principalmente das classes mais pobres.
No entanto, a nebulosa aliança com Alckmin, associada a um misto de triunfalismo e falta de autocrítica e de realismo (o Brasil vive um quadro de distopia), faz com que Lula se perca, também, na imprecisão.
Em seus discursos, ele apenas vagamente promete "promover o desenvolvimento, combater a pobreza, recuperar o progresso do Brasil e sua credibilidade diante do resto do mundo".
Como isso tudo será feito? E será realmente feito? Alckmin irá deixar?
O que Lula está fazendo é enfatizar demais seu discurso sobre a fome. Um discurso que traz conceitos corretos, mas que se limita a promover apelos sentimentais e ações meramente paliativas.
Não há uma objetividade precisa no projeto político de Lula. Não há alguma ação de ordem técnica para resolver os problemas.
Tudo são promessas, estando Lula a sonhar demais, dentro de um contexto que não lhe é favorável, apesar do aparente favoritismo de sua pré-candidatura e a ilusão de que ele "vencerá todas" nas eleições.
Será que Lula vai revogar os retrocessos trabalhistas trazidos a partir das "pautas-bombas" de Eduardo Cunha e depois implantadas por Temer e Bolsonaro?
A Espanha revogou a reforma trabalhista que precarizou o trabalho e não gerou empregos.
Que impacto isso trará para o Brasil, se a precarização do trabalho é defendida até por um conhecido (e ultraconservador) "médium espírita" de Uberaba famoso por sua suposta imagem de "caridoso"?
Será que Geraldo Alckmin, um dos mentores do golpe político de 2016, irá acolher os ventos das mudanças espanholas e aceitará de bom grado medidas como o fim do teto dos gastos públicos e a recuperação dos direitos trabalhistas da antiga CLT?
Não existe uma precisão, uma segurança, uma preocupação técnica de trabalhar as melhorias para o país.
Tudo acaba sendo apenas sonho, promessas, fantasia, idealização, algo que conforta emocionalmente as pessoas, mas não garante uma perspectiva concreta de reconstrução do Brasil. Que, lembremos, está à beira de um iminente pesadelo distópico, para muitos inimaginável.
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