"É impossível (o PT) lançar candidatura em porta de penitenciária", disse o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, se referindo à candidatura presidencial de Fernando Haddad, ex-prefeito da capital paulista, em 2018.
Nessa época, Geraldo comemorou a prisão do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva como o "fim da impunidade", dizendo que "a lei existe para todos", em discurso tipicamente lavajatista.
Hoje, sem que haja um contexto de mudança real, Geraldo Alckmin é virtual vice-presidente da chapa a ser oficializada com Lula, e Haddad apoia a aliança entre o ex-presidente e o ex-governador paulista.
A aliança, celebrada pelas esquerdas médias como "necessária para a recuperação da democracia", é supostamente ancorada "no diálogo, no entendimento e no convívio com as diferenças".
Só que falar é muito fácil.
É como se vê, nas redes sociais, quando se observa a reação dos internautas quanto à queixa de haver casais sem afinidade.
Fala-se em "superação das diferenças", "convívio entre divergentes", como se fosse moleza colocar na prática o ditado falacioso de que "os opostos se atraem".
Na teoria, é tudo maravilhoso. No concerto das palavrinhas organizadas e bonitas, fica fácil até de produzir consenso para ideias de valor tão duvidoso. É o chamado "efeito manada", uma pretensa unanimidade em favor de ideias absurdas ou questionáveis.
Na prática, porém, vemos o quanto a "superação das diferenças" faz com que, nas relações conjugais, as "saudáveis divergências" façam os homens exterminarem suas mulheres a sangue frio, através do famigerado feminicídio.
Tudo fica fácil pelas promessas sentimentais da teoria simplória. Mas, na prática, quando fervem os instintos, a coisa muda completamente. Daí os surtos psicóticos muito comuns nas redes sociais, que eu observei já desde os tempos do "paradisíaco" Orkut.
No caso da aliança entre Lula e Geraldo Alckmin, tudo parecia prometer um "casamento feliz".
Lula, domesticado, aceitou aliviar seu programa de governo em nome de alianças mais "moderadas".
A ideia é derrubar Jair Bolsonaro e lançar um projeto político "qualquer nota" que tivesse prioridade no mercado e alguma assistência para as classes populares.
Lula passou a enfatizar o combate à fome e se calou quanto à necessidade de real desenvolvimento para o Brasil, ideia que ele, quando mencionava, o fazia de maneira bastante vaga e superficial.
Mas, de repente, eis que a Espanha faz a tal contrarreforma trabalhista, recuperando os direitos das classes trabalhadoras, depois do fracasso da tal reforma que inspirou Michel Temer a implantar algo semelhante.
E aí Lula decide que vai revogar a tal reforma trabalhista e resgatar os direitos trabalhistas cancelados em 2017.
Recentemente, Lula e a presidenta do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann, reafirmaram essa intenção, assim como a de revogar o teto de gastos públicos. E, reagindo à reação negativa dos representantes do mercado, afirmaram que não vão aceitar "mimimi" destes.
Mas aí Geraldo Alckmin salta da cadeira. Antes disso, parece que o analista Breno Altman havia pressentido essa reação, ao escrever um texto perguntando se Alckmin aceitaria essas mudanças.
Alckmin, que aparentemente "admitiu", em 2018, que iria "rever pontos da reforma trabalhista", se manifestou "bastante preocupado" com a intenção de Lula e, em encontro com Paulinho da Força, líder da Força Sindical, declarou que "quer conhecer" a contrarreforma feita na Espanha.
Neste caso, a mídia de esquerda saiu tendenciosa, eliminando a palavra "preocupação" e mudando a narrativa, dizendo apenas que Alckmin está "interessado e curioso em conhecer" a medida realizada no país europeu.
A mídia esquerdista também citou apenas que Alckmin quer "consultar" as centrais sindicais brasileiras para saber a respeito da medida. Como se o ex-governador paulista tivesse sido um líder operário, vejam só...
Neste sentido, a imprensa de centro-direita foi mais feliz: lembrando o passado tucano do ex-governador paulista, a narrativa apontou "preocupação", já que Alckmin representa o interesse de empresários, banqueiros e financistas em geral.
Neste sentido, a chamada "mídia alternativa" errou, porque, antes zelosa pela transparência de seu jornalismo, agora faz imprensa tendenciosa, blindando Geraldo Alckmin, numa aliança que tende simplesmente a fracassar, repetindo a triste experiência de Dilma Rousseff com Michel Temer.
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