Envergonha o fato de que a classe média-medíocre brasileira, que domina o senso comum e monopoliza a opinião (que se pretende) pública, se ache dona do mundo.
Provinciana, essa classe no entanto impõe suas "verdades".
Seja no hit-parade musical no qual há a estranha supervalorização de intérpretes decadentes, seja nas convicções tortas aqui e ali, sobre religião, música, showbiz etc.
Ver nas redes sociais, desde o tempo do Orkut, que o establishment da sociedade brasileira, bregalizada e irresponsavelmente hedonista, é a versão moderna da caverna platônica é preocupante.
Seja na religiosidade "espiritualista", na compreensão torta do rock'n'roll, no fanatismo futebolístico e até em supostas excentricidades como achar que o humorístico Chaves é "humor de vanguarda".
A classe média brasileira chegou ao ponto de criar uma instituição superior ao Supremo Tribunal Federal, o Supremo Tribunal do Umbigo.
Exércitos de "isentões" e de "tudólogos" justificando o "estabelecido", só usando o senso crítico para contestar quem tem senso crítico.
Afinal, o Brasil tem que ser uma província de piseiros, sofrentes e funqueiros.
Ou do pop-rock de artistas de segundo escalão.
Ou de seriados de comédia enlatados que viram "clássicos" porque passam no SBT e são reproduzidos no YouTube.
Ou dos neopentecostais que tentam fazer marcha-a-ré da História brasileira. Ou do Espiritismo brasileiro que, com seus fakes do além-túmulo e os "médiuns" que vivem do culto à sua personalidade e fazem "caridade" padrão Luciano Huck, religião medieval que se acha dona do futuro do planeta.
Ou da bregalização que tenta se impor à cultura musical brasileira e se ostentar, em vão, para o mundo.
Mas a realidade dói. Que adianta Mr. Catra, por exemplo, se apresentar na Irlanda, se os "irlandeses" que vão vê-lo tem cara e jeito dos caubóis de várzea do interior paulista?
É uma sociedade que, com todos os avisos - inclusive de gente estrangeira - , elegeu ou ajudou a eleger Jair Bolsonaro.
O Brasil tem na Síndrome de Dunning-Kruger uma doença que mais atinge as pessoas do que a Covid, a Febre Amarela, a AIDS, em suas respectivas pandemias ou epidemias.
Há um monte de brasileiros espalhados pelo mundo inteiro, tentando dizer que a música popularesca é "melhor" que Tom Jobim, que Big Brother Brasil é melhor do que ler Machado de Assis e que o medievalismo "espírita" é "mais atual" do que a doutrina original de Lyon, França.
Não conseguem muitas adesões. Um e outro gringo desavisado aderem. Uma minoria sem efeito social prático, mas que aqui é festejada como se fosse a "rendição do mundo inteiro à coisa brasileira".
Envergonha tudo isso, todo esse provincianismo que se acha cosmopolita.
Ver a Elite do Atraso (não se fala só do fã-clube de Sérgio Moro; há muita "gente boa" incluída, vários se escondendo sob as calças de Lula) se achar dona do mundo é um horror.
O Brasil está culturalmente um desastre, mas se acha "modelo para o mundo".
Daí que não quero que o Brasil atinja o Primeiro Mundo. Para desenvolver o Brasil, primeiro temos que desenvolver os brasileiros. O que significa derrubar uma série de valores que está aí.
Comentários
Postar um comentário