Depois do comentário constrangedor de Ivan Lins em favor de dois canastrões da música brasileira, Renato Teixeira foi passar pano nos breganejos que arruinam a canção caipira.
Ele resolveu gravar o sucesso "Lançado às Traças", da dupla de sofrência - felizmente o pavoroso termo "sertanejo universitário" anda semi-esquecido - Zé Neto e Cristiano, uma das zilhões de duplas cujos cantores cantam como se estivessem fazendo força, de tão afetados.
Mesmo sendo de grandioso talento, excelente voz e autor de brilhantes melodias e letras, Renato Teixeira é um conhecido passador de pano nos deturpadores da música rural brasileira.
Sobre os breganejos, ele fez um comentário condescendente e inclinado a misturar o joio e o trigo, quando foi entrevistado pelo podcast Universo Sertanejo:
"O sertanejo sempre retratou o dia a dia, o que mudou não foi a música sertaneja, foi o dia a dia das pessoas. Então, se você não gosta, é que você não gosta da vida que você leva hoje".
Ele ainda acrescentou:
""Toda vez que surgir uma geração nova, as pessoas vão falar mal. Falavam mal de mim, falavam mal do Milionário & José Rico e Tonico & Tinoco".
O pior é que, com tanta deturpação na música caipira, os canastrões da geração 1980-1990 - como Chitãozinho & Xororó, Zezé di Camargo & Luciano e Daniel - agora são chamados de "sertanejo raiz", o que é uma grande e vergonhosa desinformação.
Me lembro do grande José Hamilton Ribeiro, que foi repórter da lendária revista Realidade e deixou recentemente o programa Globo Rural, tendo recebido deste noticioso matinal uma bela homenagem.
Ele escreveu um livro, Música Caipira: As 270 Maiores Modas, e ele manifestava uma visão discretamente crítica do "sertanejo" que pensava mais em conquistar o litoral do que em zelar pelas tradições da música do campo.
É uma das raras vozes críticas, e já com 86 anos. Há poucos anos, perdemos outra grande mestra da música caipira, Inezita Barroso, que se foi aos 90 anos.
Diante desse âmbito da perdição, em que a música caipira original está desaparecendo, o que temos é gente passando pano nos breganejos, como Renato Teixeira, que teve ainda a coragem de se comparar aos canastrões que vieram depois com suas "novidades" para a música caipira.
Não há como dar a mesma medida para um compositor de versos como "Conhecer as manhas e as manhãs / O sabor das massas e das maçãs" com cantores de voz agressiva falando "das mina na balada" (© Jovem Pan) e que só conhecem o sabor das cervejas que tomam em excesso.
Não dá para comparar a voz serena e a poesia bucólica de Renato Teixeira com as vozes de breganejos que cantam como se estivessem fazendo suas necessidades fisiológicas no banheiro.
Não vamos ser ingênuos quanto a tais declarações. Renato Teixeira, como outros nomes da MPB, aderem ao popularesco não porque seus ídolos são geniais, mas porque se trata de um negócio, já que a MPB está proibida de se apresentar fora dos poucos lugares que lhe restam no eixo Rio-São Paulo.
Renato Teixeira precisa tocar no interior do país, e gravar um breganejo, um nome popularesco, é na verdade uma moeda de troca para tocar em lugares culturalmente fechados, onde a música popularesca monopoliza.
Renato Teixeira deseja se apresentar em Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e nos interiores de São Paulo e Paraná, ou de Minas Gerais e Santa Catarina. Se ele não adotar essa atitude complacente com os canastrões do "sertanejo", nem na caatinga Renato Teixeira terá lugar para tocar.
A música brasileira merece respeito. Sabemos que Renato Teixeira precisa de dinheiro para pagar as contas e fica elogiando toda essa bregalhada, mas precisamos zelar pela música e deixar o comercialismo de lado. Um pouco de senso crítico não faz mal algum.
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