Temos em andamento, desde o ano passado, um novo capítulo do golpismo político em andamento desde 2016.
Oficialmente, há uma proposta, que no momento está a ser discutida, que é a do semipresidencialismo.
A proposta é do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), que na semana passada criou uma comissão para analisar o projeto.
A comissão terá a participação do ex-presidente da República, Michel Temer, os ex-ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), Ellen Gracie e Nelson Jobim, além de juristas e acadêmicos da Universidade de São Paulo (USP).
Os trabalhos serão coordenados pelo deputado Samuel Moreira (PSDB-SP) e terão um prazo de quatro meses para serem concluídos.
O semipresidencialismo é uma espécie de parlamentarismo flexível, em que o presidente da República pode governar, mas suas decisões precisam ser avaliadas por um primeiro-ministro, que no Brasil é um nome informal dado ao presidente do Conselho de Ministros.
O projeto é uma tentativa das elites que comandaram o golpe de 2016 para castrar o mandato do presidente Lula, no caso dele ser eleito para o Executivo federal.
As esquerdas estão alertas para esse problema. Mas se esquecem de outra coisa.
Se existe o semipresidencialismo, há também o semiesquerdismo.
Lula está caindo numa armadilha ao se aliar com a direita moderada.
Ele confunde entendimento com cumplicidade. Quer levar para a cama quem é divergente ao seu projeto político.
Dialogar com divergentes é necessário, sim, como prega a democracia. Mas divergente é divergente, não pode ser confundido com aliado.
A frente ampla demais cobrará um preço caro para Lula, que terá que fazer maquiagens políticas para dar a falsa impressão de que seu esquerdismo funciona, mesmo condicionado pelo neoliberalismo de seus aliados.
As elites que se aliam ao Lula não o fazem de graça. Se o mercado, o empresariado, conforme registram várias matérias na imprensa, estão gostando de Lula e considerando-o "bastante moderado", é bom desconfiar.
Se um empresário do nível de Abílio Diniz, certa vez, disse, sobre a aliança de Lula e Geraldo Alckmin, que "vem coisa boa por aí", é bom tomarmos cuidado. Diniz é um dos artífices da primeira "terceira via" cogitada para a Presidência da República, já no começo do governo Jair Bolsonaro.
Não podemos escapar a essa realidade. Lula terá seu programa de governo comprometido e terá que dar um jeito para não decepcionar seus seguidores.
Sem realmente abrir o jogo nem ter autocrítica, Lula simplesmente terá que fazer malabarismos para que seu possível futuro governo, que tende a ser fraco, garanta algum mínimo projeto possível.
Ele sentirá, no caso de reassumir o Governo Federal, o peso das alianças heterogêneas demais que costurou, o preço que os apoios alienígenas foram por ele obtidos.
Daí o semiesquerdismo, ou seja, o projeto progressista de Lula, do qual se perderá a sua essência, só será permitido nos limites autorizados pelos neoliberais que decidiram apoiá-lo. Se Lula ultrapassar o sinal vermelho imposto pela direita moderada, o golpe contra Lula poderá ser acionado.
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