Grande notícia para os baianos. A antiga Avenida Adhemar de Barros, em Ondina, foi renomeada e agora tem o nome de gente realmente relevante para a História da Bahia.
Trata-se do grande geógrafo Milton Santos, um dos gigantes da intelectualidade autêntica brasileira, que eu pude ver uma vez num evento ocorrido na Reitoria da UFBA, em 1998.
A avenida de Ondina foi muito frequentada por mim e eu mesmo tive matérias no Campus da UFBA. Todavia, quando eu cursei a Faculdade de Comunicação, ela ainda não havia se transferido para Ondina, ficando ainda instalada num prédio no Vale do Canela.
É com muita felicidade que vejo essa mudança, afinal o Adhemar de Barros não tinha a menor representatividade para os baianos.
A única coisa relacionada com a Bahia é que Adhemar de Barros carregava sobre si o lema "Rouba, mas faz", nos anos 1960, duas ou três décadas antes de ter sido a marca do político baiano Antônio Carlos Magalhães.
Além disso, Milton Santos foi uma figura progressista, um intelectual de verdade, um pensador honrado e imponente, que naturalmente mostrava seu saber para o mundo. Ele foi também um dos críticos da globalização, no final de sua vida.
A mudança veio a partir de uma proposta do vereador Augusto Vasconcelos, do PC do B baiano. A petição foi aprovada em plenário em dezembro de 2021 e sancionada pelo prefeito Bruno Reis (UB). A mudança passou a valer anteontem.
A medida deveria ser copiada pelos niteroienses, que já tiveram uma renomeação de um logradouro, mudado de Rua Coronel Moreira César para Rua Ator Paulo Gustavo.
Afinal, temos uma rua, isto é, avenida com nome problemático. A Av. da Ciclovia. Aliás, que só é avenida no nome, porque mais parece uma estrada carroçável.
Uma "avenida" que mais parece passagem para charretes a burro comete a burrice de ter o nome de um pretenso "médium" de Minas Gerais, consagrado por uma suposta caridade tão fajuta e oportunista quanto a de Luciano Huck, por sinal discípulo do religioso.
O "médium" não tem a menor serventia para a História de Niterói, e, se ele teve alguma relação com os niteroienses, ela foi bastante negativa.
Em um livro intitulado Cartas e Crônicas, de 1966, em que o tal "lápis de Deus" se passou por Humberto de Campos, pseudônimo mal disfarçado de "Irmão X", houve um gravíssimo juízo de valor, nada tão grave que não possa gerar agravantes.
O suposto "médium" que costuma ser visto como "símbolo máximo da humildade humana", fez séria acusação contra as pessoas humildes que frequentaram o Gran Circo Norte-Americano e foram vítimas de um incêndio criminoso, no final de 1961.
A gente humilde era acusada de ter sido uma multidão de romanos sanguinários da Gália, no Século II, supostamente com sede de sangue e prazer em ver espetáculos de extermínio de populares supostamente faltosos em estádios esportivos.
Acusação indevida, que o "médium" ainda cometeu o grave artifício do falso testemunho: botou na conta de Humberto de Campos, que, falecido 32 anos antes, não estava mais aí para reclamar.
Semelhante acusação já rendeu processo por danos morais, como o do médico Woyne Figner Sacchetin, que acusou as vítimas de um acidente com avião da TAM, em 2007, de também terem sido romanos da Gália do Século II.
Mas o "médium" mineiro recebe mais passagem de pano do que mesa empoeirada de casa abandonada e ninguém percebeu isso. E ainda se tem que aguentar as mensagens de moralismo tóxico que os adeptos desse infeliz que usou peruca, óculos e ternos cafonas publicam nas redes sociais.
Só a cegueira emocional da fascinação obsessiva (perigo alertado e reprovado pela Doutrina Espírita original) para justificar tanta complacência movida por essa adoração tóxica a um "médium" picareta, que nunca fez de Uberaba uma cidade próspera e com justiça social, quanto mais Niterói.
Um vigarista religioso que um membro da Bancada do Boi propôs que seja incluído na lista de Heróis da Pátria, apesar do "médium" picareta, quando foi denunciado por um sobrinho, fugiu covardemente de sua terra natal para viver seus dias na famosa cidade do Triângulo Mineiro.
É, mas quando é para defender a ditadura militar e estar de mãos dadas com generais e torturadores, o "bondoso médium" tinha tanta convicção que foi até condecorado, com cerimônia e tudo, na Escola Superior de Guerra.
Alguém com um pingo de consciência acha que a ESG faria toda essa homenagem para quem não fosse colaborador estratégico da ditadura militar? Paciência, religiosos podem apoiar opressores, sim. O cardeal Ratzinger, que foi o Papa Bento, que o diga.
Não há motivo algum para que esse nome seja mantido, emporcalhando a paisagem de Niterói com essa maligna nomenclatura, a ter que se descrita em plaquetas e nas correspondências a serem trazidas pelos carteiros.
Proponho que a Avenida da Ciclovia, que fica em Piratininga, seja mudada para Avenida da Ciclovia Fernanda Young.
Mas aí alguém pergunta: o que Fernanda Young tem a ver com ciclovia?
Bom, tentei pesquisar as palavras "fernanda young" e "bicicleta" e tudo o que vi foi uma pergunta de um internauta dada à saudosa autora: "Caso ou compro uma bicicleta?".
Mas também o tal "médium" tem muito menos a ver com ciclovia. Tem muito menos a ver com Niterói e nem mesmo a alegação de que ele é "reconhecido em todo o mundo" (pura cascata de provinciano metido a cosmopolita, típica do Brasil) justifica o nome do infeliz para um logradouro niteroiense.
E também nunca ocorreu de ver em momento algum de sua vida o tal religioso passeando de bicicleta pela orla niteroiense, identificado com o nome do bairro de São Francisco.
Mas isso não impede que a autora de inúmeros seriados divertidos e dona de uma inteligência sagaz e peculiar possa ser homenageada num logradouro desse porte.
Pelo menos Fernanda Young tem mais a ver com a avenida. Ela nasceu em Niterói e, de certa forma, assim como Paulo Gustavo, sempre honraram a cultura da cidade fluminense.
Mesmo vivendo em São Paulo e em Minas Gerais depois, Fernanda, só por sua arte relevante, merece ser homenageada por um logradouro niteroiense.
Se Fernanda Young, aos olhos de muitos, não soava "tão niteroiense" quanto o esperado, ela era mais honrada nesse sentido.
Não seria honrado o tal "médium" mineiro que, num perverso juízo de valor, tratou as vítimas da tragédia circense de forma ofensiva, depreciativa e até racista, como se o povo humilde que só queria ver atrações de circo "pagasse pelo que mereceu" com o infortúnio.
E ainda botou na conta de um escritor alvo de ressentimento do "bondoso médium", que se vingou de uma resenha jocosa de uma psicografake com título de "Parnaso" (lançada em 1932 quando o Parnasianismo eram águas passadas) para uma pretensa "parceria espiritual" que virou caso de polícia.
Vergonha uma Avenida da Ciclovia carregar nome tão de mau agouro, atraindo para o entorno de Piratininga a moradia perigosa de milícias e traficantes de armas, enquanto suas "energias" influem em acidentes de carros e até deslizamento de uma favela nas proximidades.
Se a Avenida da Ciclovia se chamasse Av. Fernanda Young, haveria mais sorte e a figura jovial da saudosa autora inspiraria até a urbanização da área, tirando dos seus moradores a acomodação da zona de conforto da ilusão religiosa que deixa as melhorias de vida para o "outro mundo".
Se a Av. da Ciclovia mudar seu nome, colocando o da autora, sem dúvida bem mais representativa para os niteroienses, quem sabe Piratininga e até Niterói como um todo respirarão novos ares, até porque as verdadeiras boas energias não são escravas do obscurantismo da fé medieval.
Sigamos os exemplos da Av. Ator Paulo Gustavo e da Av. Milton Santos.
Que lutemos pela Avenida da Ciclovia Fernanda Young!!!!
Comentários
Postar um comentário