Há poucos dias, o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, anunciou que vai mesmo para o PSB, formalmente conhecido como Partido Socialista do Brasil.
Hoje é a cerimônia de oficialização da mudança partidária, condição necessária para depois se formalizar a aliança de Alckmin com seu ex-adversário Luís Inácio Lula da Silva.
Na mais estranha pré-campanha presidencial para 2022, Lula enfatiza sua aliança com a direita moderada, confundindo entendimento com cumplicidade.
E Geraldo Alckmin, que não virou esquerdista - até porque o PSB nasceu como um filhote da UDN - , também não demonstrou, até agora, autocrítica nem interesse em mudar de verdade.
A mudança se limita a ser uma palavra solta, superficial, em declarações evasivas, dadas na última sexta-feira, no seu perfil oficial no Twitter:
"O tempo da mudança chegou! Depois de conversar muito e ouvir muito eu decidi caminhar com o Partido Socialista Brasileiro - PSB. O momento exige grandeza política, espírito público e união.
A política precisa enxergar as pessoas. Não vamos deixar ninguém para trás. Nosso trabalho para ajudar a construir um país mais justo e pronto para o enfrentamento dos desafios que estão postos está só começando".
Será que Geraldo Alckmin, que só "falava" através de terceiros, vai agora falar e demonstrar se tem uma postura autocrítica em relação ao passado?
O que ele dirá do caso Pinheirinho, do Trensalão, da Privataria, da repressão aos movimentos grevistas?
Ou será que Alckmin será mais um que "passa de um lado para outro" como alguém que sai do seu quarto para ir à cozinha beber água?
Num país que favorece arrivistas, infelizmente tem-se o costume de endeusar quem vai de um lado para outro, sem ter a capacidade real de mudar, parecendo que foi o vento que o deslocou para o outro lado.
E isso é irônico, uma vez que uma personalidade como Alexandre Frota, que expressou autocrítica e assumiu seus erros com sinceridade, é chamado de "oportunista" pelos mesmos que, como Lula, vão dormir tranquilos ao ver Alckmin brincando de ser "esquerda" sem abrir o jogo.
Será que Alckmin passará a dar entrevistas, criticar seus erros passados, ou apenas dizer, vagamente, que "tudo passou" e "agora é preciso olhar para a frente, para o futuro"?
Pessoas mudam, mas é necessário que haja condições específicas para isso. Não se trata de estar num lugar e, depois, estar em outro.
Na esquerda, está assim de gente que, vindo da direita, migrou para o campo esquerdista sem adotar uma postura autocrítica, sem esboçar um desejo real de mudança e, em certos casos, ainda transmitiu preconceitos direitistas no novo espectro.
Os "novos" esquerdistas desse contexto apenas adotam algumas formalidades "novas", só para dizer que estão cumprindo direitinho a cartilha esquerdista.
Mas, na essência, não mudaram realmente. E é esse, mais uma vez, o temor, agora em relação a Geraldo Alckmin.
Nos últimos dias, Lula conseguiu vitórias importantes que anularam a Operação Lava Jato e, agora, está processando Deltan Dallagnol por danos morais, por causa do patético gráfico do Microsoft Power Point.
E Roberto Requião, que sempre se comportou como se fosse do PT nos bons momentos, lutando contra os golpistas de 2016, agora se filia ao partido.
Mas de que adianta, se Lula está mais preocupado em ter a aliança com quem diverge de seu projeto político?
E é esse o problema.
Ao menos, que Geraldo Alckmin se prepare para falar por si só e prestar contas aos brasileiros, em vez de apenas jogar ao vento frases vagas sobre sua "mudança" ainda não esclarecida.
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