Lula está cometendo erros estratégicos que não vão gerar efeitos imediatos.
A aliança com a direita moderada, confundindo entendimento com cumplicidade, vai cobrar o seu preço a um Lula empolgado demais com a possibilidade de voltar ao poder.
Lula anda prometendo demais, querendo voar alto mas se juntando àqueles que querem lhe cortar as asas.
Ele quer fazer um governo mais à esquerda que os anteriores, mas quer em sua base de apoio gente que está radicalmente contra isso.
A partir de Geraldo Alckmin e outros políticos oriundos do PSDB ou MDB, Lula não poderá fazer muito em seu governo.
Ele terá que ficar nos seus projetos de grife: Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Mais Médicos, cotas universitárias.
Recentemente, a revista Veja divulgou que Lula pretende "renacionalizar" a Petrobras e impedir ou reverter as privatizações da Eletrobras e dos Correios, caso seja eleito este ano.
Analisando as coisas, Lula não terá possibilidade de fazer isso, devido à ênfase com que decidiu se aliar com a direita gurmê, inclusive gente que apoiou o golpe contra Dilma Rousseff e atuou ao lado do governo Michel Temer.
Com todo o diálogo que Lula promete, levando em conta sua imagem de negociador, dificilmente ele conseguirá isso.
Quanto às três estatais, tudo o que Lula fará é controlar os preços da Petrobras e criar, a exemplo de Dilma, um eufemismo para as privatizações: as "concessões".
Aparentemente, as "concessões" são contratos em que, neste caso, empresas privadas administram estatais sob a vigilância do Estado, geralmente através de uma agência reguladora.
Na prática, porém, são privatizações, embora o contrato, a princípio "temporário", tente amansar a sociedade de esquerda e fazê-la dormir tranquila.
Lula despreza o fato de que a direita com a qual ele quer "dialogar" - mas dentro da confusão entre "entendimento" e "cumplicidade", chamando a direita para deitar no leito petista - não vai aceitar boa parte do seu projeto progressista.
O que Lula ignora é que ele estará lidando com os apóstolos do Estado Mínimo, e o pessoal vai saltar da cadeira se Lula, caso voltar à Presidência da República, garantir que vai reverter as privatizações, "renacionalizar" a Petrobras e fortalecer o Estado.
Ou alguém acha que o apostolado do Neoliberalismo irá aceitar tudo que Lula decidir, e o diálogo é apenas para o petista dizer que "é bom o mercado e o empresariado cederem porque é a favor do povo brasileiro"?
Os neoliberais não pensam assim.
Eles não querem o fortalecimento do Estado, a manutenção das estatais, a permanência das riquezas naturais no Brasil.
Geraldo Alckmin tem currículo privatista. Os tucanos gabaritados, como Fernando Henrique Cardoso, Aloysio Nunes, José Serra e outros, não só são privatistas como promoveram um vergonhoso escândalo financeiro chamado Privataria Tucana.
Ou será que as esquerdas se esqueceram desse escândalo, que gerou vários livros?
Será que agora as esquerdas vão dormir tranquilas porque a culpa do golpe político de 2016 contra Dilma Rousseff agora é responsabilidade exclusiva da "molecada" (Sérgio Moro, Kim Kataguiri, Janaína Paschoal, Mamãe Falei, Deltan Dallagnol etc)?
E os tucanos de alta plumagem, privatistas doentes, fanáticos em ver o Estado mais anoréxico possível, limitando sua máquina financeira somente para socorrer empresários?
E Lula? Ele diz que não vai governar para o mercado, para a Faria Lima, para o "acionista de Nova York", mas enfatiza que quer governar junto com os representantes políticos das elites do poder econômico.
Isso tudo está muito estranho e Lula poderá entrar numa grande enrascada.
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