CADÊ O BATERISTA? - COM ATRAÇÕES COMO MANO BROWN (FOTO, À DIREITA), O TRIBUTO A TAYLOR HAWKINS PELO MENOS DEVERIA TER SIDO UM HÍBRIDO DE HIP HOP E ROCK.
A repentina tragédia com o baterista do Foo Fighters, Taylor Hawkins, morto por overdose aos 50 anos - e tendo um coração maior do que seu corpo poderia suportar - , simboliza a falta de critério dos executivos do entretenimento musical no Brasil.
Se já temos rádios de rock contratando locutores tipo Jovem Pan (como Tatola, Zé Luís, Demmy Morales etc), sem um pingo de intimidade com o gênero, anunciando notícias sobre nomes do rock como se fossem ídolos do K-Pop, nos concertos ao vivo a falta de visão é crônica.
Para substituir o Foo Fighters, que teriam se apresentado ontem no Lollapalooza Brasil, veio um tal de "tributo a Taylor Hawkins" composto de artistas de... hip hop.
Antes de seguirmos adiante diante desse mico cometido pelos organizadores da franquia brasileira do festival fundado por Perry Farrell (vocalista do Jane's Addiction, banda do mesmo cenário social e musical do Foo Fighters), vamos mencionar a tragédia.
Taylor Hawkins, atuante na banda desde 1999, também foi baterista da banda que acompanhava a cantora canadense Alanis Morissette. Quando a cantora veio ao Brasil, ela participou de um episódio do seriado Malhação, da Rede Globo, e Hawkins estava entre os presentes.
Dave Grohl, vocalista e um dos guitarristas do Foo Fighters, lembra que era mais próximo de Hawkins do que de Kurt Cobain, do Nirvana.
Sabe-se que Grohl era baterista da icônica banda de Seattle e, portanto, o músico enfrenta a segunda tragédia em quase 28 anos.
Outro membro do Foo Fighters, Pat Smear, enfrentou a terceira tragédia, pois antes ele também integrava o Nirvana quando houve a tragédia com Cobain. Em 1980, Smear encarou o suicídio do vocalista de sua então banda, o grupo punk The Germs, o também esqueitista Darby Crash.
A química de Hawkins no Foo Fighters era tanta que ele havia sido um dos grandes bateristas dos cenários recentes do rock mundial.
Consta-se que as performances de Foo Fighters foram muito energéticas e a apresentação no Lollapalooza Brasil, no bairro de Interlagos, aqui em São Paulo, prometia ser robusta.
Com a tragédia, o Foo Fighters cancelou toda a turnê latinoamericana.
Mas, quando estava hospedado no hotel Casa Medina, na Colombia, ele sofreu um sério problema cardíaco e morreu, depois de supostamente ingerir várias substâncias, inclusive heroína.
A última apresentação de Hawkins foi num festival na Argentina. Em uma de suas últimas declarações à imprensa, Hawkins mostrava sua gratidão com Dave Grohl, porque, se não fosse o parceiro, o baterista estaria até hoje trabalhando como mero entregador de pizza.
Taylor já havia sido um sobrevivente de uma overdose sofrida em 2001. Isso pode ter causado sequelas, como um coração de um tamanho maior do que o corpo dele poderia suportar.
TAYLOR HAWKINS ERA FÃ DE VÁRIOS GRANDES BATERISTAS DE ROCK.
O músico era casado com Allison e pai de três filhos, Oliver, Annabelle e Everleigh.
Fã de inúmeros bateristas de rock, incluindo Neil Peart do Rush, ele foi editor por uma vez para a revista Rhythm.
Nesta revista, ele teve a oportunidade de entrevistar alguns de seus ídolos, como Phil Collins (hoje baterista aposentado, o cantor encerrou a turnê com o Genesis há poucos dias), Stewart Copeland (ex-The Police), Roger Taylor (Queen) e Stephen Perkins (Jane's Addiction).
Falando em Jane's Addiction, Taylor já havia formado um supergrupo, um projeto paralelo com o guitarrista Dave Navarro e o baixista Chris Chaney, intitulado NHC. Consta-se que o grupo tem um álbum pronto para ser lançado este ano.
O falecimento de Taylor comoveu o mundo da música e ele merecia um tributo melhor no Lollapalooza Brasil. Não fosse o esforço do Ego Kill Talent, a homenagem teria sido capenga.
Muitos fãs do Foo Fighters reclamaram da escalação do hip hop. Nada contra o gênero, como muitos fãs e eu consideramos, mas para preencher a lacuna de uma banda de rock, deveria ser algo próximo disso.
Nem para adaptar para uma apresentação de rock o hip hop, descontando a estrutura de banda do Planet Hemp, se foi feito.
O hip hop ganhou cartaz fora de sua bolha cultural porque o Run DMC gravou com o Aerosmith o clássico da banda de hard rock, "Walk This Way".
O Red Hot Chili Peppers, também do mesmo meio social musical do Foo Fighters, também cruza hip hop com rock. A banda de Anthony Kiedis já enfrentou tragédia similar, com o guitarrista Hillel Slovak, vítima de overdose em 1988.
Como é que Mano Brown, Criolo e Emicida não se apresentaram com uma banda de rock? Fica meio uma atitude purista num contexto daqueles.
E o que é pior: no hip hop brasileiro, as músicas quase não têm ritmo, mais parecendo narrativas noir em andamento musical mais lento, com sons que nem podem ser considerados batidas, tocados por teclados ou sâmpleres.
Muito chato, para quem esperaria o rock vigoroso da banda de Dave Grohl.
Houve apresentações com outros rappers, bem intencionadas mas fora de contexto. Parecia mais tributo a DJs do que a Taylor Hawkins, enquanto nomes como Djonga, Rael, Bivolt e DJs como o DJ Nyack, cometiam seu purismo hip hop sem ao menos adaptar a situação com uma banda de rock tocando.
Fica constrangedor ver, num tributo a um baterista, o kit de bateria ali, vago, enquanto os rappers pareciam cantar para si mesmos e para a bolha de seu público específico, muito diferente dos fãs do Foo Fighters.
Às vezes, um gênero precisa fazer um hibridismo com outro, dependendo do contexto.
Poderia haver uma banda de rock no fundo, mesmo com todos aqueles rappers e DJs. Seria uma situação excepcional, será que ninguém se dá conta disso? Que mal tem Mano Brown fazer um som mais sacolejante com guitarras pesadas, baixo e bateria vigorosas? Se o Run DMC pode...
Mas será que o mediano e superestimado Emicida, espécie de guru da sociedade identitarista, seria capaz de se converter de um sub-Caetano da geração milenial para um Anthony Kiedis dos trópicos?
A escolha do Ego Kill Talent (cujo vocalista é namorado da estonteante Ellen Jabour), creio, deve ter sido uma emergência para não fazer o rock ficar ausente, e os caras se esforçaram para compensar a ausência do Foo Fighters.
A situação da banda de Dave Grohl está difícil. O grupo terá que repensar sua carreira sem seu grande baterista, e ficamos solidários a esse clima de muita tristeza e sofrimento.
Pedimos muitas vibrações em favor dos familiares e amigos de Taylor Hawkins, nessa situação de extrema dificuldade e dor com essa perda irreparável.
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