Embora poucos saibam, o certo é que Lula terá seu projeto político prejudicado devido ao fato dele se aliar com a direita moderada.
Seria muito ingênuo achar que o diálogo com os golpistas de 2016, que Lula levou para a cama do petismo, irá preservar inteiramente o seu programa de governo.
Não vai. E a promessa de Lula de fazer um governo "mais à esquerda" do que os governos anteriores é pura fantasia. Até porque, pelas alianças que atraiu, ele fará um governo "mais à direita", mesmo.
Lula não poderá fazer muito. O que ele fizer em prol do povo brasileiro, das classes trabalhadoras, dos movimentos sociais e dos excluídos em geral será dentro dos limites autorizados pelos aliados neoliberais.
Foi assim com João Goulart e Dilma Rousseff. Daí que o golpe foi acionado quando os respectivos presidentes resolveram ultrapassar o sinal vermelho.
Se Lula afirma que "vai ampliar o poder do Estado", isso não passa de um eufemismo.
Ele não poderá trazer de volta o pré-sal que as petrolíferas estrangeiras compraram do Brasil, a preço de banana em xepa de feira.
Lula, do contrário que diz, também não poderá reverter as privatizações da Eletrobras e dos Correios e nem retomar a antiga estrutura da Petrobras.
O que ele fará é o que deveremos entender como "concessão", o novo eufemismo para privatização que foi lançado no governo Dilma Rousseff.
Neste caso, "concessão" é uma espécie de privatização disfarçada, aparentemente por um contrato temporário do administrador privado concessionário, supostamente sob a fiscalização do Estado, através de uma agência reguladora.
A estatal continua existindo formalmente, mas quem cuida dela é o poder privado. Na prática, a estatal foi privatizada, mas tenta-se dar a impressão de que o Estado fiscaliza e continua mandando na empresa.
Essa é uma maquiagem que Lula irá fazer. E sabemos que a BR Distribuidora não existe mais, apesar de um monte de postos de combustíveis exibir o nome "Petrobras". É porque a nova empresa, a Vibra Energia, ainda tem que cumprir contratos de copyright com a extinta subsidiária.
Mas o grosso do faz-de-conta será esse: os projetos sociais.
Lula, sabemos, ficará com o "coração" do governo. O "cérebro", ou seja, a parte técnica, ficará com os neoliberais. É um acordo que está oculto aos olhos da opinião (que se pretende) pública.
Nada sai de graça com Lula abraçado aos neoliberais.
Portanto, a parte técnica, que se refere aos grandes projetos econômicos, o chamado desenvolvimento industrial, financeiro, logístico etc, incluindo exportações e importações, tudo isso ficará com a direita moderada, e tudo o que Lula terá que fazer é agir de acordo com a cartilha neoliberal.
O que Lula fará "dele próprio" são os projetos de grife.
São os projetos sociais, na essência paliativos, em que pese algum progresso humano a ser realizado, que possuem quase sempre nome próprio.
São eles: Fome Zero, Bolsa Família, Mais Médicos, Cotas Universitárias, Minha Casa, Minha Vida, entre outros.
Eles podem até avançar em relação a projetos meramente assistencialistas - como a "caridade" padrão Luciano Huck que religiões como o Espiritismo brasileiro sempre fizeram - , mas estão longe de representar a esperada mudança tão associada aos movimentos políticos progressistas.
Quando Lula diz que o Estado "vai ampliar seus poderes", é para atuar nessses projetos de grife, corretos e até com alguma eficácia, mas muito aquém de tanto carnaval que se faz em torno de tais iniciativas.
Se Lula não tivesse se aliado com a direita moderada e, ainda que não buscasse uma pureza ideológica, pelo menos se juntasse a quem se identificasse com seu projeto político, seria possível que ele ousasse mais em seu governo.
Mas, como Lula se aliou com a direita moderada, com os neoliberais que em 2016 contribuíram para derrubar Dilma Rousseff, o que se espera de Lula é muito abaixo do que ele promete aos quatro cantos do Brasil e do mundo.
O certo é que o governo Lula estará mais à direita do que seus dois governos anteriores. Podem ir anotando. É a conta que ele terá que pagar pelas alianças tão heterogêneas.
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