ALIANÇA COM GERALDO ALCKMIN, ILUSTRADA NA FOTO DE FUNDO, COMPROMETE A CAMPANHA DE LULA.
Apesar de alguns apelos que parecem atraentes em termos de visibilidade, Lula tem o risco de derrota de sua candidatura como uma hipótese considerável.
Ele foi capa da revista estadunidense Time, teve um encontro com Caetano Veloso, entre outros fatos que poderiam muito bem dar uma vantagem avassaladora do petista na corrida presidencial.
Só que não. Lula, com tantas contradições em sua campanha e erros que, em parte, são de certo modo propositais, como a falta de autocrítica e de programa de governo, estão tornando seu favoritismo, que já é artificial, ainda mais fragilizado e com risco de virar uma miragem eleitoral.
Há uma crise na campanha de Lula, que sempre foi marcada pelo clima do "já ganhou".
Nos últimos dias, a mídia progressista passou a agir de maneira paranoica, impondo voto a Lula de qualquer maneira, sem considerar qualquer outra opção.
As esquerdas médias que esculhambaram a Terceira Via e humilharam o terceiro-viável que aparecesse no caminho ficaram nervosas e persistem na tese de que Lula é a "via única".
Por trás dessa arrogância toda, há um medo de uma derrota iminente.
Afinal, Lula colecionou muitos erros, e pode, por meio deles, dar vitória a Jair Bolsonaro, que seria reeleito.
O primeiro deles nem é uma das principais queixas, que é a aliança com forças divergentes. É o clima de festa e alegria de Lula, numa situação pré-distópica em que vive nosso país.
Afinal, Lula vai reconstruir o Brasil ou vai fazer do nosso país uma Las Vegas?
Depois, veio a tal aliança com a direita moderada, uma frente ampla demais com a qual o petista ignorou qualquer cuidado de se aliar só com aqueles que estivessem identificados ao seu projeto político, ainda que fora da esquerda.
Em vez disso, Lula quis se aliar a qualquer um que lhe apertasse a sua mão, o que deu margem a várias divergências que fizeram o petista estar perdido em suas propostas e discursos.
Perdido entre as alianças heterogêneas e o passado progressista, Lula chega a se embolar nas palavras, usando um tom que variou entre o moderado e o radical, chegando a ser uma caricatura do líder sindical que havia sido. Nem o saudoso Bussunda iria longe com tamanha paródia.
Uma matéria da Folha de São Paulo aponta essa crise, que se deve não só à aliança com Alckmin e com o empresariado, mas a outros setores conservadores, como os religiosos.
A matéria menciona até mesmo o clima de forçamento de barra de Geraldo Alckmin, no seu falso entusiasmo ao ouvir a Internacional Socialista e nos pretensos elogios a Lula e ao proletariado.
Isso teria refletido nas supostas pesquisas eleitorais, que mostram Bolsonaro crescendo e diminuindo a diferença com Lula, que antes beirava os 25 pontos, hoje chega a ser de cinco.
Embora pesquisas se embolem ao sugerir se Lula ganha no primeiro ou no segundo turno, o que se vê é o favoritismo dele cair.
Daí o nervosismo de articulistas que, em tom bastante imperativo, dizem que "não existe outra escolha" a não ser o voto em Lula.
Quem está realmente ganhando não fica com esse clima de nervosismo que esconde um forte risco de fracasso, sobretudo se levarmos em conta que somente Lula irá trazer subsídios financeiros para a chamada mídia alternativa, que sonha com uma estrutura empresarial mais robusta.
Se o clima fosse mesmo de vitória, havia maior tranquilidade.
Além disso, um Lula realmente vitorioso não teria medo de enfrentar a Terceira Via. Teria humildade e coragem para enfrentar o verdadeiro debate, no primeiro turno eleitoral.
Hoje o que se vê é que os lulistas estão tão nervosos que querem um primeiro turno com jeito de segundo, de preferência rebaixando a Terceira Via a um bando de "birutas de posto de combustíveis", na ironia de que justamente são os combustíveis alvos da tragédia econômica dos últimos meses.
Lula, de salto alto, não quer fazer autocrítica de seus erros e comete novos equívocos, como dizer que "não vai discutir Economia antes de ser eleito". Ou então: "Ao invés de perguntar o que é que eu vou fazer, olhe o que eu fiz".
Esse é um presidente que olha para a frente? O que Lula fez foi feito, tem seus méritos inegáveis etc. O que importa hoje é justamente o que ele irá fazer.
E é tudo isso que faz com que Lula corra o risco de ser derrotado, apesar de sua figura carismática e bastante badalada nos últimos meses.
E essa derrota nem é tanto devido ao Bolsonaro, apesar dele estar tranquilo apesar de seus erros gravíssimos e inerentes à sua pessoa política, como o aumento dos combustíveis que gera cadeia em outros aumentos de preços.
É porque Lula cometeu tantos erros e contradições que, por sorte, só não está perdido porque seu mito já vale mais do que a realidade, no imaginário afetivo de seus seguidores.
O jornalista Moisés Mendes, um dos articulistas desesperados pelo voto em Lula, disse que o petista nem precisa debater com Jair Bolsonaro, porque será "um debate sem fundamento".
Já se falou que Lula não deve enfrentar a Terceira Via, que deve ganhar na marra no primeiro turno e coisa e tal.
Daqui a pouco, só falta, às esquerdas, dizer que não precisa mais haver eleições, porque a essas alturas Lula já ganhou a corrida antes dela começar.
Daí que vemos a "democracia de cabresto" na qual Lula só é "democrata" quando quer a direita gurmê ao seu lado.
Mas Lula se recusa a ser democrata na necessidade de enfrentar os ritos democráticos de uma eleição competitiva cujos rivais, mesmo os piores, também são protegidos pela Constituição no direito legítimo de se candidatarem ao cargo presidencial.
Por não querer ser competitivo, Lula pode amargar uma derrota vergonhosa.
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