Lula é um candidato de contos de fadas num Brasil distópico. Depois da violência policial na Cracolândia, no Centro de São Paulo, e do massacre na Vila Cruzeiro, comunidade da Penha, no Rio de Janeiro, um homem com problemas mentais, Genivaldo de Jesus Santos, de 38 anos, foi morto numa câmara de gás improvisada em uma viatura policial, depois que ele foi injustamente detido por PMs no município de Umbaúba, em Sergipe.
O Brasil está numa situação frágil e decadente, e Lula quer reconstruir o país em clima de festa. Favorito nas supostas pesquisas eleitorais, Lula busca fazer o impossível: ampliar as alianças alcançando o chamado "centro" (direita moderada) e tentar manter a agenda progressista que havia sido a sua marca como presidente em dois mandatos.
Lula, nos últimos dias, andou agindo para dar a impressão de ser o "líder estratégico" que seus seguidores tanto alardeiam. Primeiro, decidiu, em reunião com os partidos, enfatizar a formação de uma frente ampla, designando o candidato a vice, Geraldo Alckmin, para articular no campo das forças neoliberais e conservadoras.
Essa tática foi reforçada pela desistência de João Dória Jr. da corrida presidencial, o que fez com que Lula ligasse para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para negociar o apoio do PSDB ao petista, em vez de buscar candidato entre o tucanato ou mesmo em outro partido da Terceira Via. Atualmente, o PSDB cogita apoiar a emedebista Simone Tebet na corrida presidencial.
Segundo, Lula designou o ex-governador da Bahia, Jaques Wagner, para viajar para os EUA conversar com representantes do Departamento de Estado daquele país, no sentido de diminuir as desconfianças mútuas entre os dois países.
O terceiro evento ocorre hoje, às 17 horas, na Casa de Portugal aqui em São Paulo, um encontro chamado Movimentos Populares com Lula, em que o ex-presidente - que contará com Alckmin no evento - receberá um documento de representantes de vários segmentos sociais, como juventude, sindical, negros e negras, mulheres, movimento popular urbano, movimento popular rural, indígenas, quilombolas, povos e comunidades tradicionais, LGBTQIA+, movimentos de moradia e ambiental.
O documento, assinado por mais de 60 entidades, inclui inúmeras propostas ligadas a pautas trabalhistas, populares e identitárias, reivindicando medidas que vão desde a revogação da reforma trabalhista e do teto de gastos públicos à reforma agrária, passando por outros assuntos ligados a questões como moradia, Educação, causa LGBTQIA+ e tribos indígenas.
Tudo parece bem intencionado, mas vale aqui bater a tecla: Lula articula alianças com forças conservadoras e divergentes de boa parte dessas pautas, como os evangélicos diante da causa LGBTQIA+ e o tucanato, famoso pela chamada "privataria", nome dado ao escândalo de um projeto obsessivo de privatizações, tanto em âmbito federal quanto no âmbito estadual paulista.
Lula imagina que irá unir neoliberalismo e agenda popular, e, apesar de uma campanha contraditória, seu favoritismo em supostas pesquisas eleitorais persiste. O instituto Datafolha, da família Frias, divulgou dados que colocam Lula em 48% contra 27% de Bolsonaro, na hipótese de vitória em primeiro turno.
Aí entra outra contradição: Lula e o PT pedem para que seus seguidores não entrem em clima de "já ganhou" diante dos dados triunfalistas do Datafolha. Só que, vendo como se comporta a chamada mídia progressista, esse clima de "já ganhou" já corre nas veias dos lulistas há meses, desde o ano passado.
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