ALIANÇA COM GERALDO ALCKMIN ANDA AFASTANDO POTENCIAIS ELEITORES DE LULA.
Lula andou decepcionando e frustrou as expectativas de que iria voltar fortalecido depois da prisão. Ele até parece "fortalecido", aos olhos dos seus seguidores, que o veem como um líder messiânico, mas não para a realidade que ocorre fora das bolhas lulistas.
Na realidade crua que vivemos no dia a dia, quando os fatos escapam de visões solipsistas, de pensamentos desejosos e de impressões confortáveis de cada indivíduo, Lula está enfraquecido, correndo o risco de perder a corrida presidencial ou, quando muito, vencer de forma apertada no segundo turno.
A campanha, ou melhor, a pré-campanha de Lula, é a mais confusa, contraditória e cheia de erros entre os presidenciáveis. Lula cometeu erros que não deveria cometer, atraindo para si forças divergentes que o petista acha que, bastando uma conversa, aceitariam o seu projeto progressista numa boa.
Mas a verdade é que Lula, ao atrair para si os apóstolos do Estado Mínimo e devotos do "deus" mercado, está pondo em xeque não apenas ideias consideradas explicitamente polêmicas, como a defesa do aborto e a regulação da mídia, mas também a reforma trabalhista e o cancelamento das privatizações.
Lula não vai poder reverter a privatização da Eletrobras. Não é da natureza dele nem do Partido dos Trabalhadores reestatizar empresas privatizadas. Lula não é Leonel Brizola, apesar de, ultimamente, os lulistas se apropriarem do saudoso político gaúcho-fluminense para defender posturas estranhas ao cunhado de João Goulart.
Brizola, por exemplo, não aprovaria a aliança com Geraldo Alckmin, e teria mais fibra para cancelar privatizações. Lula, como um conciliador que prefere evitar tensões, não irá fazer isso. Se Eletrobras, Petrobras e Correios forem privatizados este ano, Lula nada poderá fazer. Quando muito, terá que "rever" as privatizações e, num aparente "cancelamento", manter formalmente as estatais dando concessão à iniciativa privada, naquilo que se chama de PPP (Parceria Público-Privada).
Já se fala que Geraldo Alckmin irá atuar nos bastidores, como fez quando era vice do governador paulista Mário Covas em duas gestões, uma delas completa, entre 1995 e 1998. Na segunda gestão Covas, iniciada em 1999, sabemos que o titular sofreu um câncer que o matou em 2001 e Alckmin tornou-se então governador, completando o mandato e se elegendo para um segundo, em 2002, iniciando outro mandato em 2003.
Alckmin saiu do governo de São Paulo em 2006 para disputar a Presidência da República, entregando o cargo para Cláudio Lembo. Seu rival foi justamente Luís Inácio Lula da Silva. Alckmin simbolizava o poder do tucanato paulista, ao lado de José Serra, e a influência do PSDB no governo estadual paulista e na prefeitura paulistana era mais voltada a visões neoliberais, que priorizavam interesses empresariais em detrimento dos interesses das classes populares.
E aí, pelas conveniências do momento, Alckmin se torna aliado de Lula e seu candidato a vice-presidente, aparentemente superando divergências. Mas, até agora, Alckmin não adotou uma postura autocrítica, não deu uma entrevista para a mídia alternativa para acertar as contas com a população e apenas fingiu que "mudou", forçando a barra ao se fazer de "comovido" ao ouvir o hino da Internacional Socialista.
Lula, ao enfatizar que Geraldo Alckmin terá influência forte na campanha e no governo, está pondo em risco a essência do projeto progressista. A desculpa de Lula de que é preciso se aliar com forças divergentes para montar uma frente ampla contra Jair Bolsonaro e pela reconstrução da democracia, está dando margem a muitas contradições. Daí Lula acabar falando o que não deve e desagradar, num momento, o empresariado, e, em outro, o proletariado.
Com tamanhos deslizes, Lula passou a ser repudiado também dentro das esquerdas. A tão alardeada vantagem eleitoral, que em supostas pesquisas eleitorais fazia Lula ganhar de Bolsonaro com diferença de quase 30%, decaiu para até 5%, em certos levantamentos.
E isso fez com que os lulistas pirarem. Se eles sempre lincharam a Terceira Via e exploraram de maneira humilhante as falhas dos terceiro-viáveis, ultimamente passaram a ser autoritários ao impor o voto em Lula e desqualificando qualquer outra escolha.
Chegam a dizer que as eleições "não são eleições, são plebiscitos entre a civilização e a barbárie", que só existe a escolha "entre a democracia e a ditadura". Aqueles que, com todo o direito de escolha de voto garantido pela Constituição, não optarem votar em Lula, sobretudo no primeiro turno, eram ofendidos e chamados de "fascistas", "indignos", "imaturos" e até "complacentes com o bolsonarismo".
Articulistas da mídia de esquerda que eram coerentes em seus textos, tinham uma prosa brilhante que me deu prazer em ler até pouco tempo atrás, surtaram e agora pregam o refrão de que somente Lula deve ser escolhido para a Presidência do Brasil.
Lula também não faz sua parte. Desde 2021, Lula desaprendeu a conquistar o eleitorado e agora aposta na evitação do debate na campanha presidencial, na evasiva do enfrentamento de outros concorrentes presidenciais. Em nome da democracia, Lula torna-se antidemocrático, na medida em que só quer enfrentar Bolsonaro, de preferência no primeiro turno e sem encarar outros concorrentes. Daí toda a campanha petista de depreciação gratuita e impiedosa da Terceira Via.
Isso causa sérios problemas. A Terceira Via, em parte composta por candidatos neoliberais, poderia pulverizar os votos que seriam para Bolsonaro, reduzindo a vantagem eleitoral deste. Sem a Terceira Via, Bolsonaro se fortalece. E quando os lulistas fazem campanha contra os terceiro-viáveis, os eleitores destes não migram para o Lula, por conta desta postura hostil dos seguidores do petista. Sem querer, Lula é que acaba ajudando Bolsonaro a crescer.
Lula perdeu a chance de se aliar apenas com pessoas afins ao seu projeto político, mesmo não sendo de esquerda. Perdeu a chance de ver com realismo a situação atual do Brasil, cujo quadro distópico exige que não haja clima de festa e lemas como "fazer o Brasil ser feliz de novo". E perdeu a chance de ter humildade nem paciência para encarar normalmente a corrida eleitoral, e debater democraticamente com os outros e derrotá-los na apresentação de um programa de governo.
Em vez disso, Lula apostou que bastava seu carisma para ser o favorito e o seu favoritismo está se derretendo, aos poucos. E a histeria autoritária dos lulistas não só não ajuda como atrapalha e pode complicar ainda mais a situação do petista.
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