LULA EM PALESTRA NO ÚLTIMO DIA 05 DE MAIO, EM CAMPINAS, NA UNICAMP.
Não é por falta de capacidade, mas Lula demonstra não estar seguro para governar o Brasil.
Ele está cometendo vários erros, dois deles referentes a dois grandes obstáculos que ele subestima.
Um é o obstáculo de circunstâncias.
Lula, embora admita que o Brasil de hoje está pior do que em 2003, quando assumiu pela primeira vez a Presidência da República, ele trata a situação atual situação como se quisesse construir um palácio, e não reconstruir uma casa arrasada.
Lula promete tudo, promete demais para um país que terá dificuldades só para retomar os eixos.
Há expectativa demais e condições de menos. E o grande erro de Lula não é difundir suas ideias de certa forma atraentes, mas de não ver as dificuldades que comprometerão boa parte de seu projeto.
Outro é o obstáculo de interesses.
Lula fez questão de fazer o que não devia: estabelecer uma frente ampla demais se aliando com forças divergentes, muitas envolvidas no golpe político de 2016 e apoiando a prisão do petista.
Lula não teve o cuidado de verificar e foi se aliar a qualquer um que lhe apertasse a mão e arriscasse uma conversa mais simpática.
Diante disso, Lula teve apenas a sorte de contar com as conveniências do momento para se tornar, aparentemente, o favorito invencível.
Com estes dois obstáculos, Lula resolveu reagir com arrogância.
Ele e seus seguidores depreciam a Terceira Via, antes de começar a corrida presidencial. Isso já é uma grande falta de humildade, porque é necessário enfrentar concorrentes numa competição política, fossem quem fossem estes.
Viu-se que Lula não quis fazer autocrítica, impõe suas decisões e prefere ouvir políticos divergentes a seu projeto do que seus próprios colegas de partido, desconfiados com certos aliados.
Seu vice, então, Geraldo Alckmin, com arrepiante histórico de tucano, também não demonstrou até agora uma autocrítica, não expôs seus motivos para adotar tamanhas mudanças.
Em relação às alianças com a direita moderada, Lula acha que pode fazer o que quer, pensando que o mundo neoliberal, com sua mídia, seu empresariado e seus líderes políticos, é seu amigo.
Não é. Mesmo assim, Lula já foi para a mídia coronelista do Nordeste falar em regulação da mídia e, mesmo se aliando ao empresariado neoliberal, afirmou que vai revogar a reforma trabalhista e o teto de gastos, além de "brigar contra as privatizações" de Petrobras, Eletrobras, Correios e Banco do Brasil.
Lula até tem boas intenções e capacidade técnica para governar, mas o problema é que ele está, ultimamente, sendo imprudente e intransigente. Daí não estar seguro.
Com aliados da direita moderada, Lula terá dificuldades para implantar certas medidas, o que quer dizer que o governo dele será até pior, e não melhor, do que os outros dois anteriores.
O mundo neoliberal não vai ficar passivo diante das ousadias anunciadas por Lula.
O petista pensa que basta só dizer que é "em favor do povo brasileiro" para amansar os neoliberais, porque estes foram historicamente comprometidos em propostas e medidas antipopulares.
Lula quer diálogo com quem defende o Estado Mínimo, a precarização do trabalho e o aprofundamento das desigualdades sociais, que num lado fazem aumentar os moradores de rua e os famintos em geral, num outro fazem os banqueiros e empresários anabolizarem suas já exorbitantes fortunas.
Como é que esse pessoal vai aceitar de bom grado coisas como Lula dizendo que vai fortalecer o Estado, mesmo que seja para acabar com a miséria no nosso país?
As elites não querem saber disso. Daí o golpe político de 2016, que não pode ser entendido como uma "gripezinha" que fez a democracia ficar de cama por uns anos.
Lula muitas vezes fala o que não deve, age por impulso, e isso é perigoso. Daí a insegurança política dele.
Por muito menos, João Goulart foi deposto por um golpe militar e a ele seguiu-se uma ditadura de duas décadas.
Hoje Lula lança o Movimento de Reconstrução do Brasil, definido como uma "frente ampla para recuperar a democracia e a normalidade institucional" no país.
Mas como isso vai dar certo diante de tantas contradições e erros cometidos por Lula, que por um único ato ou frase pode provocar uma grave crise que pode gerar um golpe sabe-se lá de que forma?
Se Lula provocar uma crise, há o risco do bolsonarismo voltar ao poder de forma piorada e muito mais agressiva.
Esse é o grande erro de Lula, que parece dar um passo para a frente na realidade e das dois passos para trás no sonho dourado.
Não dá para pensarmos num Brasil desenvolvido hoje. O que daria era para recuperá-lo e colocar nosso país nos eixos, mas sem muitas proezas.
Lula precisa lembrar que mesmo parte dos seus aliados é contra boa parte e suas propostas e será muito difícil peitá-los para fazer prevalecer o projeto petista, mesmo que seja pela via do diálogo e por argumentações contra a fome e a miséria e a favor do povo brasileiro e da estabilidade econômica.
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