EM SUA CAMPANHA, LULA ENFATIZOU A ALIANÇA COM A DIREITA MODERADA.
A campanha de Luís Inácio Lula da Silva para a Presidência da República é a pior da corrida presidencial. Pode parecer estranho, mas vamos combinar que ela funciona pela exploração das fraquezas emocionais dos brasileiros, apostando no sentimentalismo e no carisma do petista. Fora isso, é uma campanha cheia de contradições e desprovida de qualquer objetividade.
Desde 1960, quando o povo brasileiro preferiu o sensacionalismo de Jânio Quadros do que a aparente sisudez do marechal Henrique Lott - que, se tivesse sido presidente do Brasil, não teríamos sofrido golpes nem ditaduras - , é que o espetáculo muitas vezes se encontra acima da prudência. Em 2018, Jair Bolsonaro foi eleito por oferecer um espetáculo sensacionalista, embora houvesse outras opções de candidatos antipetistas.
Agora, quando o estrago bolsonarista deixou seus resultados, Lula resolveu voltar à cena política cometendo muitos erros, bastante perigosos para um homem idoso sujeito a sofrer violentas pressões políticas. Mas, além de topar a aventura em vez de se aposentar, Lula ainda promoveu clima de festa num contexto distópico de um Brasil devastado, fez questão de se aliar com a direita moderada chamando o insosso Geraldo Alckmin para vice e foi fazer promessas mirabolantes e vagas.
Nesse caminho todo, Lula não disse com firmeza se vai romper a reforma trabalhista e o teto de gastos, e falava uma coisa para o empresariado e outra para os movimentos sociais. Dizia que iria ousar no seu governo, mas nem tanto a ponto de assustar o empresariado e o setor financeiro.
Sem propostas consistentes, Lula resolveu usar pretextos como "movimento pela democracia", para justificar alianças com a direita. Sem convencer o eleitorado, foi apelar para o "voto útil", como forma de afastar concorrentes, o que é, aliás, uma postura antidemocrática. E para ganhar no primeiro turno, veio com o movimento do "vira voto", enquanto seu projeto político se limita a "combater a fome e o desemprego", "reconstruir o Brasil" e "recuperar a democracia".
Lula tentou fazer um programa de governo que começou mal. A fama de "grande líder" do petista foi derrubada quando decidiu criar um programa de autoria coletiva, da qual o neoliberal Alckmin tornou-se um dos autores. Boa parte do eleitorado de esquerda pulou fora ao saber que Lula quer o ex-tucano governando junto, não como um vice decorativo, mas como um "co-presidente".
No programa, Lula até tentou parecer legal e abriu um canal de sugestões para o povo participar. Aparentemente, as sugestões já estão entregues à equipe de transição de governo, mas é óbvio que as ideias a serem aproveitadas estarão dentro do neoliberalismo assistencialista a que se reduziu o projeto político do petista.
Não bastasse isso, agora Lula e sua equipe de campanha resolveu não divulgar mais o texto final do programa de governo. De tantas concessões neoliberais, o programa, se resultasse num texto final, causaria polêmicas e complicaria a vitória de Lula no primeiro turno. Supostamente, o programa de governo ficou "em aberto", para diálogo com as muitas forças aliadas que o petista atraiu para sua campanha.
Alguns pontos como a questão dos recursos a serem obtidos para o Auxílio Emergencial, os critérios de ruptura ou flexibilização do teto de gastos ou as regras para o Imposto de Renda poderiam dar margens a críticas que comprometeriam a vitória do petista.
Lula também anunciou que, alegando agenda intensificada e falta de preparação para o debate, não irá ao encontro de presidenciáveis do SBT, embora tenha garantido presença no debate seguinte, na Rede Globo. Falta apenas pouco mais de uma semana para as votações eleitorais.
Com isso, Lula vai se sobressaindo não por suas ideias, mas pela mística do seu carisma, do barbudo bonachão, calvo e simpático, que empolga seu eleitorado, num processo que estabeleceu monopólio na campanha presidencial, impedindo o caminho da Terceira Via, massacrada pelo fanatismo dos lulistas.
E Lula ainda tem coragem de dizer que ainda é "esquerdista", se autodefinindo como "socialista refinado", quando na prática já desistiu de qualquer esquerdismo. Um dos coordenadores de campanha, o ex-governador do Piauí Washington Dias, já avisou que Lula fará "governo de centro", eufemismo para um neoliberalismo com relativa inclinação popular.
Lula não abre o jogo, solta evasivas e justifica suas alianças com a direita moderada como a "formação de uma frente ampla pela democracia". Entre tantas contradições, Lula deixou de lado seu próprio programa de governo, se limitando a soltar ideias esparsas. Ele tornou-se um candidato que promete dar aos pobres sem tirar dos ricos, e se limita a querer fazer o brasileiro "ter refeição três vezes ao dia", "poder comprar casa, carro e eletrodomésticos" e "voltar a sonhar".
Diante disso, Lula deixa seu programa de governo de lado, para não perder a chance de vencer em primeiro turno, se limitando apenas a aglutinar um maior número de eleitores através de uma campanha marcada mais pela emoção do que pela razão. E isso dentro de uma campanha presidencial esquisita e bizarra do começo ao fim.
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