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COM UMA CAMPANHA TRAPACEIRA, NÃO DÁ PARA "VIRA VOTO" PARA LULA


Lula, na sua pior campanha em toda a carreira, finge que não está em clima de "já ganhou" nem que está em "salto alto". Mas observando bem, ele é o primeiro a cometer esses vícios, dos quais ele aconselha aos seus seguidores evitar. "Faça o que eu digo, não faça o que eu faço", diz o ditado popular.

Eu ia votar 13, como refleti em 2020, na época da pandemia. Até lá admirava muito o Lula. Já em 2021 eu escrevi que, se Lula merecesse meu voto, ele teria que se aliar apenas com gente afinada com suas ideias, evitar o clima de festa e não prometer muita coisa. Pois Lula fez o contrário disso tudo e resolvi então desistir de votar nele.

É um horror Lula entrar em clima de "já ganhou" desde antes da campanha eleitoral propriamente dita começar. É uma campanha trapaceira, uma "democracia de cabresto" que impõe um candidato único, e cujos seguidores humilham os concorrentes, agredindo a Terceira Via mas cometendo o cinismo de dizer que são agredidos por ela. Síndrome da Projeção Psicológica pura, lembrando um dos temas estudados pelo pensador Sigmund Freud.

Sou uma pessoa de princípios. Daí que não posso pensar em benefícios sem dignidade. Não posso aceitar Lula trapaceando, impondo sua vitória em vez de buscá-la com humildade e cautela, e desrespeitar as regras do jogo eleitoral, que EXIGE respeito aos concorrentes e comparecimento a todos os debates, além de apresentar o texto final do programa de governo.

Lembremos que isso NÃO é opinião minha. É o que DETERMINA a DEMOCRACIA, que antes de mais nada defende a pluralidade de candidatos à Presidência da República, não uma suposta "pluralidade" centralizada nas mãos de um homem, mesmo que ele se ache o melhor para combater Jair Bolsonaro.

A Constituição Federal de 1988 atualizou o antigo Código Eleitoral de 1965, e através desses instrumentos legais, deve-se considerar que os concorrentes, por piores que sejam, merecem respeito, ou seja, ainda que fossem criticáveis, até pela natural discordância da disputa eleitoral, é legítima a intenção de cada um deles em vencer as eleições e competir difundindo suas ideias.

Não vou votar em Lula e nem a campanha do "voto útil", do "vira voto" irão me convencer a votar no 13 para presidente da República. Uma campanha que se mantém no clima dos valentões da escola, que envolve a mídia alternativa acusando os concorrentes de Lula de serem "colaboradores de Bolsonaro", é bastante sórdida e constrangedora.

E olha que eu lia, com muita admiração e gosto, a mídia alternativa, ouvindo, com paciência e prazer, horas de vídeos de vários de seus articulistas, muito antes deles surtarem e só quererem a vitória de Lula na marra e no "tapetão". Se fosse um Lula fiel às suas raízes, essa truculência seria reprovável, mas compreensível.

Só que hoje Lula se oferece para ser o golfinho a nadar com os tubarões do neoliberalismo, enquanto propõe um projeto político do qual o PT tem muito menos destaque. Ou seja, gente como Breno Altman, Valter Pomar e José Genoíno precisam ser menos ingênuos, porque o PT vai apitar menos, se é que poderá apitar, diante do forte freio de Geraldo Alckmin, que com certeza absoluta dirá um sonoro NÃO para as ousadias de seu "companheiro" Lula.

Está tudo errado. E se Lula consegue sair-se bem nessa, é porque ele consegue explorar as emoções frágeis dos brasileiros. Não há racionalidade, não há escrúpulos, não há autocrítica, não há humildade. Que democracia é essa? A democracia cujos portões são chutados por Lula, atropelando a necessidade de competitividade eleitoral? Que é isso? Que campanha suja é essa!!

Se é para "virar voto" para um Lula assim, não tenho a menor vontade de virar. Tenho princípios e é lamentável que Lula, que de fato é talentoso e competente, jogue fora essas virtudes para uma vitória a ser obtida na marra, na força. Eu não me sinto obrigado a votar em Lula de jeito algum. 

Se Lula tivesse princípios, eu votaria, sim, com prazer. Mas com essa campanha cheia de erros e trapaças e com seus seguidores humilhando a concorrência, eu faço questão de fazer o contrário: evitar o 13 no dia da eleição.

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