OS LULISTAS SE DIZEM AGREDIDOS, MAS UMA POSTAGEM DO BLOG DA CIDADANIA, APOIADOR DE LULA, TEM COMO ILUSTRAÇÃO UMA MONTAGEM OFENSIVA MOSTRANDO SIMONE TEBET E CIRO GOMES SOB RISCO DE AFOGAMENTO.
As esquerdas brasileiras erram por compactuar com antigas forças políticas. Lula com Geraldo Alckmin, Flávio Dino com Roseana Sarney, Fernando Haddad "derrubando" o Tucanistão com tucanos ao seu lado. Querer grandes mudanças com os arautos da mesmice é o mesmo que querer acelerar o carro comprando um freio de mão.
Lula, sabemos, está fazendo mil malabarismos para justificar posições e atitudes bastante contraditórias. Por baixo dos panos, porém, quem é bem informado sabe que Lula já fez concessões à direita, algo que ele não pode assumir sob o medo de perder votos. E ele já está em situação delicada, pois sua desejada vitória no primeiro turno das eleições está cada vez mais distante.
Isso tanto faz para quem é da classe média festiva e deslumbrada, da pequena burguesia que vive se divertindo com bobagens no Instagram, e cujos costumes estranhos vão de jogar comida fora quando fazem refeições nos restaurantes a legitimar literatura fake quando ela combina a falsa atribuição a autores mortos (apesar de ter problemas quanto aos aspectos desta atribuição) com promessas de paz entre os povos.
Acreditar que haverá garantia de um Estado forte e robusto quando Lula se abraça aos apóstolos do Estado mínimo e ganha flertes da patota da Privataria, além de contar com um fanático de privatizações, Geraldo Alckmin, que agia como uma OLX das estatais quando governou São Paulo, é viajar na maionese. E, infelizmente, há muitos brasileiros tratando a maionese como se fosse um transporte público mais potente do que trens e aviões.
Neste embalo todo, as esquerdas médias, com o desejo frenético e louco de eleger Lula na marra, de achar que "é Lula ou nada" ou, em casos extremos, acreditar que só existem duas opções, "ou Lula ou Lula", sempre azucrinaram a competitividade eleitoral, preferindo uma "democracia de cabresto", que para "recuperar a democracia", tem que se sacrificar os ritos democráticos, como Lula enfrentando a Terceira Via.
Nos últimos eventos, porém, Lula mostrou que não é tão gigante assim. Ele se apequenou diante de um Geraldo Alckmin que até agora não fez uma mínima prestação de contas com a sociedade de esquerda, não manifestou um pingo de autocrítica e não manifestou um único desejo de mudar de verdade.
Essa cobrança não é frescura nem exigência de gente chata, mas uma questão de princípios, de honestidade, de sinceridade. "Com sinceridade e com toda certeza" não são versos do jingle de Lula? Como se garante que Geraldo Alckmin, "governando junto" com Lula, não vai sabotar o projeto político do parceiro? Tudo pelo Brasil? Nem preciso contar a famosa fábula do sapo e do escorpião, que já citei em outra oportunidade. Quem souber vai entender o problema que descrevo.
Pois Lula se apequenou ao escolher Alckmin não só como vice, mas como um "co-presidente". No comício do Vale do Anhangabaú, que Lula desejava que fosse um divisor de águas para o tal "movimento pela redemocratização do Brasil", foi um relativo fiasco, com um público em quantidade mediana, nada além de um público de um comício comum.
No debate entre presidenciáveis na Band, Lula também esperava ser o gigante imbatível, mas teve uma atuação medíocre, explicável pelo fato de que o petista estava mais preparado para brigar com Jair Bolsonaro do que para enfrentar outros concorrentes.
E aí a Terceira Via, que os lulistas julgaram estar natimorta ainda no ano passado, mostra que existe, está viva e respira. A emedebista Simone Tebet surpreendeu pela sua conduta no debate da Band. Já Ciro Gomes se destaca mais nas redes sociais, bem mais divertido do que Lula, que frequentemente sucumbe à pieguice.
É certo que Ciro Gomes é criticável, e houve uma fase em que eu criticava o pedetista e defendia Lula. E de vez em quando Ciro erra, como aquele comentário em uma palestra sobre os "mais preparados": a declaração "imagine explicar isso numa favela" foi bastante infeliz e repercutiu muito mal.
Mas desde que Lula se aliou à direita moderada, coisa que ele não devia ter feito, eu desisti de querer votar 13 para presidente e muita gente seguiu o mesmo caminho. Gente de esquerda, que mesmo com todo tipo de pretexto - como o tal "plebiscito" entre "a democracia e a barbárie" - , não confia na pessoa de Geraldo Alckmin, pelas razões acima apresentadas.
Afinal, até que ponto Alckmin irá tolerar os projetos progressistas de Lula? Qual o limite dessa tolerância? Alckmin fala que ele e Lula têm divergências, mas será que elas serão descartadas o tempo todo? Ou vai chegar um momento em que Lula vai querer ousar e Alckmin, o "vice que governa junto", dirá um sonoro e enfático NÃO?
Outra coisa é a arrogância cega dos lulistas, que podem não ser violentos como os bolsonaristas, mas têm seus momentos de agressão, sim. Agridem a Terceira Via, no desespero de impor Lula como candidato único. Uma amostra disso é que uma postagem em vídeo do canal do Blog da Cidadania tem, como foto de capa, uma montagem mostrando os terceiro-viáveis Simone Tebet e Ciro Gomes em alto mar, como se estivessem sob risco de um afogamento. É uma metáfora de muito mau gosto para dizer que ambos os candidatos estão perdidos, e isso antes da campanha eleitoral começar para valer.
A Terceira Via não fará muito pelo Brasil, é verdade. Aliás, é muito cedo para o Brasil entrar no Primeiro Mundo, uma utopia que a classe média festiva sonha em ver realizada porque essa elite apenas não quer se exilar na Europa e ter que enfrentar coisas como passar o Réveillon no inverno e sofrer chacotas da vizinhança.
Com Lula, a classe média festiva, a pequena burguesia, a "boa sociedade" terá a chance de poder ter, em território nacional, réplicas de Barcelona, Paris, Lisboa, sem precisar sair do Brasil e vivendo um clima tropical na maior parte do território nacional.
Mas eu considero que não é hora de pensar em atingir o Primeiro Mundo. Sou muito cético em relação ao futuro do Brasil. Lula quer tudo, quer fazer tudo, acha que pode fazer tudo, e acha que irá impor sua causa mesmo com opositores como seus aliados.
Mas a direita moderada, que até pouco tempo atrás, aplaudia os retrocessos de Michel Temer, não vai ceder a boa parte do programa de Lula, que mesmo negociando, argumentando que é para favorecer o crescimento, o consumo, a paz social etc, não será totalmente atendido. E aí veremos que Lula se reduzirá a um mandato ainda mais medíocre do que o da Terceira Via, que, pelo menos, não promete transformar o Brasil na sucursal do Paraíso na Terra.
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