Famosos que já foram antipetistas estão aderindo ao que antes era conhecido como "onda Lula" e que agora tornou-se a "febre Lula". A histeria tomou conta do lulismo, assim como o clima de "já ganhou", o "salto alto", numa campanha presidencial que perdeu todo o sentido, porque já se sabe qual o virtual vencedor. Uma "democracia de cabresto" por trás de uma festa da qual não quero participar.
Isso é irônico, porque eu não era anti-Lula. Não era necessariamente um seguidor do PT, mas admirava Lula mesmo considerando eventuais erros. Mas depois que o Lula aceitou fazer papel de golfinho dos tubarões do neoliberalismo, pulei fora.
As notícias das adesões de Marina Silva e Henrique Meirelles a Lula fizeram as esquerdas lulistas ficarem extasiadas. A notícia de ontem foi a de que o "voto útil" deu a sua largada, embora cronistas da mídia progressista, em contrapartida, alertem que votar em Lula "não é voto útil, mas uma missão histórica pelo Brasil". Um clima de "já ganhou" escancarado, como se o pessoal já estivesse no fim do campeonato, com Lula prestes a receber o troféu de vencedor.
Lula não teve a sutileza para, discretamente, se sobressair aos concorrentes. Não teve a humildade para enfrentar rivais e se destacar pelas ideias. Sua campanha foi marcada por agressões contra a Terceira Via, que contrariam e muito a "democracia" que Lula tanto quer recuperar.
Lula abraçado ao "mercado", fazendo questão de ter Geraldo Alckmin - que até agora não convenceu como dublê de esquerdista, com seus discursos forçados e previsíveis - como vice na sua chapa, e falando demais da "fome" sem um programa consistente e seguro.
Neste programa, Lula não deixa segurança se vai manter as propostas progressistas ou se vai aproveitar o legado de Michel Temer. No conjunto da obra, Lula diz que vai ousar, mas nem tanto, como alguém que diz que vai acelerar, mas diminuindo a velocidade. Do contrário que o título de um livro meu, Devagar Quase Correndo (muito bom, adquiram na Amazon ou Clube de Autores), Lula está mais para "Apressado, quase parando".
Isso se observa quando Lula diz que vai romper o teto de gastos públicos, mas sinaliza que não irá gastar muito. Pode parecer uma postura equilibrada, só que não. Lula não quer um meio-termo, mas um recuo às antigas ousadias políticas, porque sabe que estabeleceu compromissos e, por consequência, dívidas com aliados mais conservadores. Aí só resta montar discursos diferentes dependendo do público ouvinte.
Se Lula fala para os empresários, ele se apresenta como o moderado que não vai assustar o mercado e que garantirá os lucros do empresariado e do setor financeiro. Se Lula fala para os movimentos sociais, ele diz que irá manter propostas como recuperar os direitos trabalhistas e fortalecer o Estado, além de prometer "aumento real" do salário mínimo. Mas até aí Lula vem com acelera-mas-freia, dizendo que os salários aumentarão acima da inflação, mas que ela será bem baixinha.
São coisas que observo muito bem, pois penso como jornalista e como cidadão, verificando informações, juntando situações soltas e estabelecendo uma relação entre as mesmas, e vejo o quanto o projeto de Lula não terá a grandeza que se imagina. Não teremos uma estonteante fusão entre os projetos de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek atualizados e ampliados.
Pelo que observo, com cautela, o projeto de Lula e Alckmin, vejo que ele não irá além de um genérico do primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso. Lula não vai pendurar a conta da festa neoliberal da frente ampla, ele contraiu dívidas muito pesadas com as elites, o que irá comprometer o seu projeto político.
E aí vemos Lula recuando de propostas mais ousadas. Um Lula domesticado pelo neoliberalismo, para desespero dos esquerdistas de raiz que não têm ilusões sobre o antigo sindicalista que não existe mais. Nos bastidores do lulismo, sabemos que, para convencer Lula a ser fiel a pautas de esquerda, tem que haver, pelo menos, três esquerdistas chamando o presidenciável para conversar a sós. Não um esquerdista com Lula, mas no mínimo três. Talvez José Genoíno, Breno Altman e Valter Pomar.
Isso porque Lula, por si só, não quer ouvir conselhos. É o que Lula decidir e acabou. Infelizmente ele usa métodos autoritários para fazer valer suas vontades, não tem autocrítica e, quando erra, deixa os erros para trás, sem tirar satisfações. E são essas atitudes que, juntando com as decisões mais recentes (clima de festa, escolha de Alckmin para vice e promessas fora da realidade), fizeram com que eu desistisse de votar em Lula.
Lula ainda não tem garantias de vencer o primeiro turno. Os apoios que ele está recebendo podem inspirar uma histeria triunfalista nos lulistas, na bolha esquerdista. Mas fora dela há uma maioria silenciosa que não está com o petista. Lula não lida com a realidade, quer impor o seu projeto, o seu plano, não respeita a democracia que ele deseja tanto recuperar.
Não me sinto identificado com essa campanha movida a arrogância e por um otimismo cego, doentio e fora da realidade, que pede a vitória de Lula a qualquer preço. Eu continuo acreditando e considerando que democracia se conquista com humildade, e não queimando etapas nem arrombando portas.
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