Definitivamente, a campanha de Lula morreu para mim. Eu não vou votar nele em hipótese alguma. O petista está agindo de maneira trapaceira, esculhambando a concorrência e impondo sua vitória eleitoral, em vez de correr atrás de sua conquista.
Se Lula já me decepcionou por três motivos - se relançar em clima de folia diante de um Brasil devastado, se aliar com a direita neoliberal e fazer promessas fora da realidade - , dois fatores já me fazem, num caminho sem volta, desistir de votar 13 no próximo domingo.
Um deles já mencionei. Lula escondeu seu programa de governo, cancelando o texto final do mesmo. Com isso, Lula decidiu explorar o sentimentalismo se limitando a prometer ideias soltas e vagas, movido pelo carisma alcançado pelos dois governos anteriores.
Outro é a sua fuga do debate promovido pelo SBT, pela CNN Brasil, Veja e outros veículos da mídia. Até a Nova Brasil FM participou da transmissão do debate. A princípio tudo bem, mas quem quer ouvir MPB pelo rádio ou tem que ouvir uma MPB num módulo com duas estrangeiras nas emissoras de pop adulto ou fingir que aquele entulho popularesco da maioria das emissoras é "MPB com P maiúsculo", como reza a cartilha da intelligentzia.
Mas aqui o assunto é outro e o debate envolveu vários candidatos. Simone Tebet (MDB-DF), Soraya Thronicke (União-MS), Luiz Felipe d'Ávila (Novo-SP), Ciro Gomes (PDT-CE), Jair Bolsonaro (PL-RJ) e Padre Kelmon (PTB-BA), que substituiu Roberto Jefferson, que não pode concorrer a cargo político por ser um condenado por corrupção e estar sob prisão domiciliar.
No debate, Simone e Soraya se saíram melhores. Ciro Gomes foi razoável. Luiz Felipe, apagado. Jair Bolsonaro foi um desastre, mas o Padre Kelmon foi a figura mais bizarra, dando apoio ao presidente da Reública que busca se reeleger.
Houve críticas à ausência de Lula, que supostamente estava com a agenda cheia e participou de um comício ao lado de Geraldo Alckmin, aqui em São Paulo. Na manhã de anteontem, 24 de setembro, o comício foi em dois lugares: Grajaú, na Zona Sul, e Itaquera, na Zona Leste.
Lula não está sendo estratégico. Ele, que se gaba em ser defensor da democracia e que está ansioso em recuperá-la, arromba as portas do processo democrático. Fiquei envergonhado em ver Lula faltando a um debate de TV sob o pretexto de seu horário bater com um compromisso de rua, mas a verdade é que o comício foi marcado de propósito. Lula teme ter que ir a um debate cuja uma das emissoras é o SBT, apoiadora de Bolsonaro.
A desculpa usada pela campanha de Lula é que ele "já havia falado para o público do SBT" na entrevista dada dias antes no Programa do Ratinho. Lula erra em estratégias, mas sempre tem uma desculpa pronta, como uma carta na manga. A desculpa usada para esconder o programa de governo, que ficou sem texto final, é a de que ele tinha "alguns pontos que dependem de serem debatidos por vários segmentos da sociedade".
Pior é que os defensores de Lula elogiaram ele nestes dois erros, vistos como "acertos". Como no Brasil o cidadão médio não tem hábito de leitura - já é muito consumir literatura analgésica de livros sobre vampiros estudantis, dramas sobre mocinhas adolescentes em florestas sombrias, sagas medievais e as auto-ajudas de sempre (mas agora sob o rótulo de coach) - , tanto faz haver ou não o texto final. Para todo efeito, "programa de governo" de Lula é o "combate à fome" e não se fala mais nisso.
No caso do debate, os lulistas chegaram a comemorar, dizendo que Lula é o "grande vencedor". O grande ausente vencendo um debate no qual não participou! E com o programa de governo escondido, sem ser apresentado definitivamente ao público.
É tudo surreal. Um Lula muito estranho e diferente daquele que admirei durante anos e ao qual dei meu voto com muito prazer em várias eleições. Mas este Lula virou o Fernando Collor da vez e seu projeto político está comprometido de tal forma que é muito certo que ele faça um governo muito mais fraco do que o de 2003 a 2006. Tudo porque Lula se aliou com a direita moderada, que não vai apoiar o petista de graça.
Isso não é mentira de ressentido. É fato. Lula se aliou àqueles que, pouco tempo atrás, aplaudiram de pé os retrocessos do governo Michel Temer. Agora eles vão virar a casaca por causa dos pobrezinhos que passam fome e não tem emprego nem casa? Seria muito ingênuo acreditar nisso, num país ainda imperfeito como o Brasil. Se falam muito mal do "bom mocismo" de Luciano Huck, que é muito falso, vão elogiar coisas ainda piores da direita pró-Lula comandada por Geraldo Alckmin?
Com tantos erros assim, Lula realiza sua pior campanha. E, depois de esconder programa de governo e fugir de um debate, eu, que cogitava votar no petista em 2020, agora desisti de vez, decepcionado com os rumos que ele tomou de 2021 para cá. Até na política não sou obrigado a bancar o "legalzão" e "tomar no cool com a galera". Tenho princípios e dignidade que estão acima de qualquer exigência de ser "legal" o tempo todo.
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