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SUPERLIVE E A FESTA DOS "BACANAS"

 
Quando lancei o provocador título de "O enterro político de Lula", muita gente sentiu estranheza, principalmente pelo fato de que Lula está em alta, ganhou adesões à sua campanha pelo "voto útil" e leva seu clima de "já ganhou" às últimas consequências, pois a vitória antecipada do petista já é declarada e comemorada faz meses.

Mas a verdade é que o Lula de hoje sepultou o antigo Lula sindicalista. A retomada política do petista sacrificou o antigo sindicalista, e a frente ampla demais determinou um projeto político bastante moderado, do qual o PT terá influência maior e Geraldo Alckmin, neoliberal convicto, maior poder e atuação política. 

Em que pese as promessas garantirem que Lula preservará as propostas progressistas mais ousadas, na prática o que se terá é apenas um governo neoliberal com algum aceno assistencial e elaboração de medidas "criativas" que não contrariem interesses das elites empresariais e financeiras que apoiam Lula. Esqueçam cobrança de impostos aos mais ricos e reestatização da Eletrobras e BR Distribuidora.

Lula, apesar do favoritismo que o coloca como um provável vencedor, o que pode ser garantido mais pelas conveniências do que pelo mérito, cometeu muitos erros em sua campanha, e o apoio fácil de pessoas de personalidade mais convencional, como Xuxa Meneghel, além dos golpistas de 2016, sinaliza que o esquerdismo do candidato petista acabou. 

Se o empresário Abílio Diniz havia dito, sobre a aliança com Geraldo Alckmin, que "vem coisa boa por aí", é bom ligar o sinal amarelo antes que o vermelho seja tão somente a cor do semáforo. O Brasil "feliz de novo" é apenas um sonho que dificilmente virará realidade, até porque os bolsonaristas ficarão irritados com a vitória eleitoral de Lula.

A Superlive de segunda-feira 26 de setembro de 2022 foi um show. O "programa" que Lula apresentou ao eleitorado, um evento com vários famosos, entre atores, emepebistas e, na ala da música brega-popularesca, os funqueiros, além de outras personalidades políticas e ativistas, foi um festival que culminou nos discursos de Lula, Geraldo Alckmin e suas respectivas esposas, a socióloga Rosângela da Silva, a Janja, e Lu Alckmin.

O evento mostrou que Lula virou o candidato de pessoas "bacanas". Num contexto em que Big Brother Brasil virou nossa Hollywood, "vanguarda" é Michael Sullivan e "clássico cult" é Chitãozinho & Xororó gravando "Evidências", um Lula domesticado pelos neoliberais e que erra muito na campanha tornou-se um candidato da gente cool do contexto do viralatismo brasileiro.

O Brasil está distópico e Lula arromba a porteira da democracia, em sua pior (embora bem sucedida) campanha. Lula só faz sucesso porque explora as fraquezas emocionais dos eleitores, mas ele cometeu contradições na sua proposta e nas suas atitudes, e recentemente faltou a dois compromissos necessários, como apresentar o texto final do programa de governo e comparecer a um debate entre presidenciáveis do pool encabeçado pelo SBT e CNN Brasil.

É um caso surreal um candidato faltar a compromissos e ser aplaudido e dado como vitorioso. Lula se nivela ao seu algoz Sérgio Moro nas atitudes "excepcionais", quando os lulistas atuam como valentões de escola esculhambando a Terceira Via. Lula fala tanto em democracia, mas quer uma "democracia" só para ele, uma "pluralidade" na qual ele é o centro.

Quando Lula deveria ser imponente, propondo um programa trabalhista do PT, aí é que ele entrega para vários partidos fazerem, enxugando propostas que haviam sido mais esquerdistas em favor de um neoliberalismo assistencialista, que dá um pouquinho mais aos pobres sem tirar dos ricos, muito pelo contrário, subsidiando empresários e famosos, coisa que Lula não esconde que irá realizar.

Lula fez a Superlive que mostra um de seus erros, que me fizeram desistir do 13 no próximo 02 de outubro. O clima de festa, de euforia, a entrada sem escalas ao "paraíso lulista", quando o "inferno bolsonarista" nem acabou. E Lula ainda alega que evita o clima de "já ganhou" e o "salto alto" de sua campanha, mas ele é o primeiro a ter esses vícios que critica de seus seguidores (que também compartilham desses erros).

São erros assim, como as alianças com a direita moderada e as promessas mirabolantes que não encontram condições na realidade, que me desistiram de votar 13 e, depois que Lula cancelou o texto final do programa de governo e faltou a um debate de televisão, esta desistência não tem volta. Prefiro ver navios no porto a embarcar num Titanic.

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